17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte I<br />

forma literal. Só com o advento do espírito cientíco 3 foram postas <strong>em</strong> causa as<br />

histórias fantásticas (e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre edicantes para a divinda<strong>de</strong>) transmitidas<br />

pelos poetas. A partir <strong>de</strong> então, várias foram as correntes losócas que se<br />

preocuparam <strong>em</strong> interpretar o mito, partindo <strong>dos</strong> mais diversos princípios:<br />

alguns consi<strong>de</strong>ravam que <strong>de</strong>veria ser encarado sob uma perspetiva alegórica;<br />

para outros, a abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong>veria ser etimológica; ou, segundo um terceiro<br />

grupo, histórica. Com o correr <strong>dos</strong> séculos e o aparecimento da mitologia<br />

enquanto ciência que estuda este fenómeno, surgiram, pelo menos, tantas<br />

<strong>de</strong>nições quantas as correntes perlhadas pelos estudiosos 4 .<br />

Um <strong>de</strong>les, Rose (2003: s. v.), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o mais não é do que a<br />

tentativa pré-cientíca e imaginativa <strong>de</strong> explicar fenómenos (reais ou não) que<br />

provocam a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> «faz» o mito e que apela mais à <strong>em</strong>oção do<br />

que à razão. Através <strong>de</strong>le, pretendia-se explicar o passado, se b<strong>em</strong> que, no início,<br />

não houvesse preocupações <strong>de</strong> cariz cronológico: ninguém podia, n<strong>em</strong> po<strong>de</strong>,<br />

precisar quando os acontecimentos narra<strong>dos</strong> tiveram lugar 5 . Mesmo assim,<br />

servia para organizar o mundo e para dar segurança e sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> a<br />

um povo.<br />

Se o mito viu algumas das suas histórias particularmente preservadas e<br />

citadas, foi porque estas funcionavam para os Gregos, <strong>de</strong> geração <strong>em</strong> geração,<br />

como mestres nas várias áreas do saber, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ética até à política 6 . Daí que<br />

Morley (1999: 34) arme:<br />

12<br />

«a myth is a history, told and retold but retaining the same basic form, han<strong>de</strong>d<br />

down from generation to generation; but a story with some <strong>de</strong>eper signicance,<br />

<strong>em</strong>bodying the values of the community, forming part of people’s sense of<br />

i<strong>de</strong>ntity, legitimising some practice or institution.»<br />

E assim, o mito, sobretudo através da poesia épica, foi satisfazendo o<br />

interesse histórico <strong>dos</strong> Gregos até mea<strong>dos</strong> do século VI a.C., altura <strong>em</strong> que a<br />

começou a dar os seus primeiros passos, impulsionada, como ver<strong>em</strong>os<br />

nas páginas seguintes, pelo <strong>de</strong>albar do espírito cientíco e pelo efeito histórico<br />

e cultural das Guerras Pérsicas.<br />

Não nos <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os esquecer <strong>de</strong> que a palavra é da família do verbo<br />

, que signica ‘inquirir, observar e fazer o relato do que se viu’. Logo,<br />

3 Vi<strong>de</strong> p. 14.<br />

4 Sobre a probl<strong>em</strong>ática do mito, vi<strong>de</strong> Burkert (2001); Barthes (1988); Durand (1982);<br />

Elia<strong>de</strong> (1977); Jabouille (1994) e Lévi-Strauss (1981).<br />

5 Em Hesíodo, já se vericava uma certa tendência para a organização cronológica <strong>dos</strong><br />

factos, particularmente no relato do Mito das Ida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> a inclusão da ida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> heróis parece<br />

ser, segundo vários estudiosos, uma prova do <strong>de</strong>spertar da consciência histórica. Sobre este<br />

assunto, leia-se, por ex<strong>em</strong>plo, Rosenmeyer (1957).<br />

6 Cf. Finley (1989: 6).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!