O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />
Amazonomaquia (es. 26-28), não só provocou a invasão <strong>dos</strong> Dioscuros ao<br />
raptar Helena, como não esteve presente para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse ataque<br />
(es.31-34).<br />
Com o intuito <strong>de</strong> concretizar o seu projeto e organizar o governo (<br />
), <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concluídas as negociações com as diferentes partes<br />
interessadas e <strong>de</strong> consultadas as divinda<strong>de</strong>s 213 , Teseu aboliu as magistraturas,<br />
os pritaneus e os conselhos locais e criou um pritaneu e um conselho comuns<br />
no lugar da atual cida<strong>de</strong> 214 , a que <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> Atenas 215 . Além disso, após<br />
ter convocado to<strong>dos</strong> os interessa<strong>dos</strong> <strong>em</strong> a<strong>de</strong>rir ao projeto (pois sonhava com a<br />
fundação <strong>de</strong> um povo universal 216 ) a convergir para a cida<strong>de</strong>, dividiu os cidadãos<br />
– aos quais prometera igualda<strong>de</strong> – <strong>em</strong> três classes 217 : os nobres (),<br />
que teriam a seu cargo as «coisas» divinas, as magistraturas, o ensino das leis e a<br />
interpretação <strong>dos</strong> costumes – e que, portanto, eram superiores <strong>em</strong> dignida<strong>de</strong>; os<br />
camponeses (), superiores <strong>em</strong> utilida<strong>de</strong>, e os artesãos (),<br />
superiores <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>. Alargando assim a cidadania, procurava, <strong>de</strong> forma<br />
antecipada e clarivi<strong>de</strong>nte, estruturar o funcionamento da nova constituição<br />
(), <strong>de</strong> modo a não dar azo ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> situações <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m – é que o povo com liberda<strong>de</strong> <strong>em</strong> excesso, se não for conduzido por<br />
213 Como é sabido, os Gregos tinham por hábito consultar os <strong>de</strong>uses – nomeadamente o<br />
oráculo <strong>de</strong> Delfos – s<strong>em</strong>pre que se propunham uma gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa, como é o <strong>caso</strong> da fundação<br />
<strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>. Teseu revela-se, por isso, um <strong>hom<strong>em</strong></strong> religioso, como já acontecera <strong>em</strong> momentos<br />
anteriores, como por ex<strong>em</strong>plo aquando da sua chegada a Atenas – on<strong>de</strong> não entrou senão após<br />
a puricação a que se <strong>de</strong>veria sujeitar por ter cometido crimes <strong>de</strong> sangue (es. 12. 1) – e, mais<br />
tar<strong>de</strong>, quando, na sequência da vitória sobre o Touro <strong>de</strong> Maratona, o oferece <strong>em</strong> sacrifício a Apolo<br />
Delfínio (es. 14. 1). Po<strong>de</strong>mos recordar ainda os sacrifícios a que presidiu <strong>em</strong> agra<strong>de</strong>cimento<br />
pelos sucessos obti<strong>dos</strong> <strong>em</strong> Creta e pelo seu regresso (es. 22. 2). Sobre o ascen<strong>de</strong>nte do oráculo<br />
<strong>de</strong> Delfos, vi<strong>de</strong> Parke – Wormell (1956).<br />
214 Estas medidas encontram-se igualmente <strong>de</strong>scritas <strong>em</strong> uc. 2. 15. 2. Se compararmos<br />
es. 24. 2-3 com este texto do historiador, ca claro que o biógrafo o conhecia b<strong>em</strong> e que terá<br />
sido inuenciado pelo mesmo, sobretudo <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> escolha do vocabulário, nomeadamente<br />
no que respeita às formas verbais utilizadas: (Plu.) / (para a i<strong>de</strong>ia da<br />
organização do novo regime); (forma comum a ambos para fazer referência à<br />
abolição das magistraturas). Sobre a instituição das festivida<strong>de</strong>s que também eram um <strong>dos</strong><br />
el<strong>em</strong>entos da estratégia política <strong>de</strong> Teseu, vi<strong>de</strong> infra pp. 99-101.<br />
215 O aproveitamento da gura <strong>de</strong> Teseu (tal como acontece com Drácon e Sólon) resulta do<br />
t<strong>em</strong>a propagandístico da patrios politeia, <strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> especial no último quartel do séc V<br />
e no século IV, e faz com que as ações atribuídas ao lho <strong>de</strong> Egeu sejam irrealida<strong>de</strong>s históricas.<br />
Ao rol das que serão enumeradas nas próximas páginas, po<strong>de</strong>mos acrescentar, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />
cunhag<strong>em</strong> da moeda. Para este t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> Leão (2001: 43-72).<br />
216 Este sonho persistiu pelo menos até à Época Clássica, durante a qual Atenas se orgulhava<br />
do seu cosmopolitismo. A célebre convocatória <strong>de</strong> Teseu – «» – sugere b<strong>em</strong><br />
a boa relação <strong>dos</strong> Atenienses haveriam <strong>de</strong> manter com os estrangeiros que auíam à sua cida<strong>de</strong>.<br />
Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> p. 122, nota 41.<br />
217 É costume estabelecer-se um paralelo entre as reestruturações <strong>de</strong> Teseu e a r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação<br />
territorial e política que Clístenes efetuou na Ática, fundamentais para a <strong>de</strong>mocracia do séc. V.<br />
a.C. Vi<strong>de</strong> Schefold (1946: 59-93); Francotte (1976); Bertelli (1987: 38-39); Calame (1990: 416-<br />
424) e passim; Walker (1995: 46-47 e passim).<br />
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