17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ação política<br />

As classes mais <strong>de</strong>sfavorecidas – que pouco ou nada tinham a per<strong>de</strong>r<br />

– a<strong>de</strong>riram ao projeto s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s reservas 209 . A elite, porém, fê-lo, na<br />

generalida<strong>de</strong>, contrariada, para impedir não só a mudança, mas também que<br />

Teseu – cujo po<strong>de</strong>r e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão t<strong>em</strong>iam – se visse obrigado a<br />

recorrer à força para convencê-los. Tal atitu<strong>de</strong> não surpreen<strong>de</strong>, pois, como<br />

po<strong>de</strong>mos continuar a vericar na atualida<strong>de</strong>, do mesmo modo que as classes<br />

inferiorizadas respon<strong>de</strong>m positivamente ao apelo <strong>dos</strong> reformadores, os po<strong>de</strong>res<br />

instala<strong>dos</strong> são a maior resistência com que se <strong>de</strong>param os ventos da mudança,<br />

que tentam impl<strong>em</strong>entar reformas para melhorar o funcionamento das nações<br />

e as condições <strong>de</strong> vida da população.<br />

É curioso salientar que <strong>Plutarco</strong> (es. 24. 2) se refere à opção da elite<br />

dizendo que:<br />

<br />

“preferiram aceitar pela persuasão do que pela força.”<br />

Este pormenor reveste-se <strong>de</strong> particular importância, pois faz da persuasão<br />

() – enquanto característica própria <strong>dos</strong> Atenienses e resultado do<br />

exercício da retórica – uma competência herdada <strong>de</strong> Teseu, o primeiro a<br />

exercê-la espontaneamente com mestria 210 . Além disso, permite a <strong>Plutarco</strong><br />

realçar o facto <strong>de</strong> Teseu não ter recorrido à força para pôr <strong>em</strong> prática o seu<br />

projeto para Atenas 211 .<br />

Para a nova , Teseu propunha um governo <strong>de</strong>mocrático<br />

(), que não fosse li<strong>de</strong>rado por um rei ()<br />

e no qual to<strong>dos</strong> seriam iguais (), com <strong>de</strong>veres a cumprir e<br />

direitos a auferir, <strong>em</strong> uma clara antecipação da realida<strong>de</strong> da Atenas do século V).<br />

A ele, apenas caberiam duas funções: a <strong>de</strong> guardião das leis 212 ()<br />

e a <strong>de</strong> chefe militar () <strong>em</strong> <strong>caso</strong> <strong>de</strong> guerra. Relativamente a<br />

esta última função, po<strong>de</strong>mos dizer que falhou, pois , além <strong>de</strong> responsável pela<br />

209 Não obstante a propensão do povo para aceitar a mudança, Teseu <strong>de</strong>monstra capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> negociação e <strong>de</strong> condução das massas (), característica que se revelará típica <strong>de</strong> qualquer<br />

bom político <strong>ateniense</strong>.<br />

210 Esta característica <strong>dos</strong> Atenienses e do seu sist<strong>em</strong>a político r<strong>em</strong>onta ao governo <strong>de</strong> Teseu,<br />

que, segundo Paus. 1. 22. 3 e Isoc. 15. 249, estabeleceu o culto <strong>de</strong> Afrodite Pan<strong>de</strong>mos e da<br />

Persuasão (). <strong>Plutarco</strong> não faz qualquer referência à introdução <strong>de</strong>stes cultos pelo lho<br />

<strong>de</strong> Egeu.<br />

211 Esta versão apresentada pelo biógrafo, como já vimos (supra p. 66), contradiz a tradição<br />

(nomeadamente a veiculada por Apollod. Epit. 1. 11), segundo a qual, antes <strong>de</strong> concretizar<br />

o sinecismo, Teseu teve <strong>de</strong> eliminar os cinquenta Palântidas. Sobre a luta entre Teseu e os<br />

Palântidas, ver Herter (1973: col. 47-9); Brommer (1972: 137-9).<br />

212 R<strong>em</strong>onta, pois, a esta medida <strong>de</strong> Teseu, o gran<strong>de</strong> orgulho que os Atenienses tinham <strong>de</strong><br />

si próprios por acreditar<strong>em</strong> ser o único povo a que vivia sob o jugo da isonomia e que obe<strong>de</strong>cia<br />

apenas à lei e não aos caprichos <strong>dos</strong> déspotas – cf. A. Pers. 241-242.<br />

95

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!