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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

obra <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, na medida <strong>em</strong> que é apresentado como fundador do regime<br />

que levaria Atenas a conhecer os seus dias <strong>de</strong> glória. Como ver<strong>em</strong>os adiante,<br />

muitos <strong>dos</strong> probl<strong>em</strong>as com que a se irá <strong>de</strong>parar no século do apogeu,<br />

muitos <strong>dos</strong> traços que caracterizam os políticos <strong>de</strong>sse período e muitas das<br />

tradições então vigentes são como que reexo do que melhor e pior teve a<br />

atuação do seu fundador mítico .<br />

O Queroneu, como é seu hábito, procurou mostrar que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> jov<strong>em</strong>,<br />

o herói revelou potencialida<strong>de</strong>s políticas, algumas das quais po<strong>de</strong>m ser<br />

consi<strong>de</strong>radas hereditárias – como é o <strong>caso</strong> da propensão para promover a<br />

unicação cívica, à s<strong>em</strong>elhança do que zera Piteu 203 . A corag<strong>em</strong>/audácia<br />

(), as capacida<strong>de</strong>s militares, o interesse pelo b<strong>em</strong>-estar do próximo<br />

() são qualida<strong>de</strong>s que evi<strong>de</strong>ncia mesmo antes <strong>de</strong> chegar a Atenas,<br />

quando, contrariando a vonta<strong>de</strong> da mãe e do avô, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> fazer o percurso por<br />

terra 204 . São essas virtu<strong>de</strong>s que, uma vez reconhecido como lho legítimo por<br />

Egeu, lhe vão abrir caminho para a aceitação pelos concidadãos (que o viam<br />

como um estrangeiro), pois dispõe-se a partilhar os perigos que enfrentavam<br />

e a ajudá-los, ainda que para isso tenha <strong>de</strong> colocar a própria vida <strong>em</strong> risco e<br />

contrariar a vonta<strong>de</strong> do pai 205 .<br />

Uma vez sugeridas as virtu<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>riam vir a fazer <strong>de</strong> Teseu um<br />

excelente <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>, o biógrafo serve-se <strong>dos</strong> capítulos 24 e 25 para<br />

dar a conhecer <strong>de</strong> que modo o herói as pôs <strong>em</strong> prática mal assumiu o po<strong>de</strong>r.<br />

Teseu revela-se, nessa altura, senhor <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> perspicácia e visão 206 ,<br />

a<strong>de</strong>pto <strong>de</strong> uma política que não procurava apenas o b<strong>em</strong>-estar imediato <strong>dos</strong><br />

concidadãos, mas a glória futura da 207 . Nesse sentido, enceta negociações<br />

com as populações, para criar uma única, que reunisse os diversos povos<br />

da Ática (ao que parece, seriam doze povoações) e suas magistraturas. O herói<br />

esperava, <strong>de</strong>ste modo, evitar as <strong>de</strong>savenças que, não raras vezes, ocorriam entre<br />

eles e fomentar uma ação concertada <strong>em</strong> prol do b<strong>em</strong> comum 208 .<br />

203 Cf. supra 51, nota 6.<br />

204 A propósito do simbolismo <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>cisão, vi<strong>de</strong> supra p. 54.<br />

205 es. 12. 5. Cf. supra pp. 63-64.<br />

206 Esta i<strong>de</strong>ia também ocorre <strong>em</strong> Tucídi<strong>de</strong>s (2. 15. 2), que é – como sab<strong>em</strong>os – uma das fontes<br />

mais queridas e utilizadas por <strong>Plutarco</strong>. O historiador, como já vimos na página 32 (nota 8),<br />

admira a força e a inteligência <strong>de</strong> Teseu. Estas duas características, que os Atenienses reivindicam<br />

como especícas do seu povo, parec<strong>em</strong>, pois, ser mais uma herança legada pelo fundador mítico<br />

da . Tucídi<strong>de</strong>s enaltece ainda a sensatez do herói que soube, como ninguém, tomar as<br />

medidas certas para organizar a cida<strong>de</strong>. Sobre a história <strong>de</strong> Atenas, consult<strong>em</strong>-se, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

Hignett (1952); Mossé (1971); Trail (1975).<br />

207 Tucídi<strong>de</strong>s (2. 15. 2) também reconhece a importância do sinecismo – que funciona como<br />

<strong>em</strong>brião <strong>de</strong> um futuro imperialismo – para o esplendor que Atenas viria a alcançar.<br />

208 É provável que, ao enumerar as diculda<strong>de</strong>s vividas antes do sinecismo, <strong>Plutarco</strong> tivesse <strong>em</strong><br />

mente o texto <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, porque, <strong>em</strong>bora não recorra ao mesmo vocabulário, as i<strong>de</strong>ias apresentadas<br />

são as mesmas. Sobre o sinecismo <strong>em</strong> geral e o <strong>de</strong> Atenas <strong>em</strong> particular, consult<strong>em</strong>-se Moggi (1976);<br />

Diamant (1982: 38-47); Gel<strong>de</strong>r (1991: 55-64); Luce (1998: 3-31); Valdés Guia (2001: 127-197).<br />

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