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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

cão, o <strong>de</strong> Cérbero, e que <strong>de</strong>cidira dar a jov<strong>em</strong> <strong>em</strong> casamento ao preten<strong>de</strong>nte<br />

que, tendo lutado contra o animal, saísse vitorioso. No entanto, avisado<br />

do intento <strong>dos</strong> dois amigos 195 , fez com que Cérbero <strong>de</strong>vorasse Pirítoo e<br />

encarcerou Teseu, que, <strong>de</strong>ste modo, foi impedido <strong>de</strong> auxiliar Atenas e a mãe<br />

aquando do ataque <strong>dos</strong> Dioscuros.<br />

Esta versão apresenta el<strong>em</strong>entos típicos das histórias <strong>de</strong> princesas <strong>em</strong><br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casar (motivo recorrente <strong>em</strong> uma das versões do mito <strong>de</strong> Ariadne<br />

referida por <strong>Plutarco</strong>), nomeadamente a vinda <strong>de</strong> um príncipe estrangeiro<br />

que <strong>de</strong>ve ultrapassar uma prova para conquistar a mão da donzela. O facto <strong>de</strong><br />

Teseu e Pirítoo preten<strong>de</strong>r<strong>em</strong> recorrer a um método menos ortodoxo, mais fácil<br />

e rápido, faz-nos pensar <strong>em</strong> Pélops, que, <strong>em</strong> circunstâncias idênticas, sabotou<br />

o carro do futuro sogro para sair vencedor. Hedoneu, contudo, ao contrário <strong>de</strong><br />

Enómao, consegue gorar os planos <strong>dos</strong> heróis.<br />

O Queroneu regressa a esta aventura (interrompida para contar ao leitor<br />

<strong>de</strong> que modo se <strong>de</strong>senvolveu <strong>em</strong> Atenas a oposição contra Teseu) no trigésimo<br />

quinto capítulo, para revelar que Teseu foi libertado por intercessão <strong>de</strong> Héracles<br />

que, um dia, fora recebido como hóspe<strong>de</strong> por Hedoneu. Na versão tradicional,<br />

por ocasião da sua <strong>de</strong>scida aos Infernos 196 para lutar com Cérbero, o lho <strong>de</strong><br />

Alcmena aproveitou para libertar o fundador <strong>de</strong> Atenas, seu primo e amigo,<br />

mas nada pô<strong>de</strong> fazer por Pirítoo.<br />

A libertação do Ha<strong>de</strong>s – ou, se quisermos, a libertação do cativeiro<br />

<strong>em</strong> que se encontrava <strong>em</strong> Molosso – acaba por ser mais uma oportunida<strong>de</strong><br />

para associar as façanhas <strong>de</strong> Teseu às <strong>de</strong> Héracles. De facto, não podia faltar<br />

uma catábase no curriculum <strong>de</strong> um herói que pretendia <strong>em</strong>ular os feitos do<br />

lho <strong>de</strong> Alcmena, mesmo que o seu motivo fosse menos nobre do que o do<br />

lho <strong>de</strong> Zeus. E, ao ser salvo pelo herói pan-helénico, associa-se, no fundo<br />

duplamente, ao feito <strong>de</strong> Héracles. Embora «perca» por ter sido resgatado,<br />

isto é, por não ter conseguido libertar-se sozinho (o que não admira, dada<br />

a gravida<strong>de</strong> da que cometeu – <strong>de</strong>scer aos infernos e tentar raptar uma<br />

<strong>de</strong>usa), «vence» por surgir indiretamente como o primeiro <strong>dos</strong> dois heróis a<br />

ousar dirigir-se ao Ha<strong>de</strong>s.<br />

Além disso, este resgate surge como uma espécie <strong>de</strong> moeda <strong>de</strong> troca,<br />

quando Teseu oferece abrigo <strong>em</strong> Atenas a Héracles (E. HF). O lho <strong>de</strong> Egeu<br />

não lhe oferece guarida apenas por carida<strong>de</strong>, por amiza<strong>de</strong> ou para ajudar um<br />

familiar, mas sobretudo para pagar o favor <strong>em</strong> dívida. É esta mesma razão que<br />

<strong>Plutarco</strong> apresenta para justicar o facto <strong>de</strong> apenas ser<strong>em</strong> conheci<strong>dos</strong> quatro<br />

195 Plu. Moralia 96C alu<strong>de</strong> a uma versão <strong>de</strong> acordo com a qual ambos os amigos eram<br />

preten<strong>de</strong>ntes da jov<strong>em</strong> e cumpriram pena <strong>em</strong> conjunto.<br />

196 A <strong>de</strong>scida aos Infernos e o encontro com os que já partiram é um motivo tradicional nas<br />

histórias <strong>dos</strong> heróis. Cf. Mills (1997: 10-11).<br />

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