17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Aventuras<br />

violência e prazer (). Já a ação <strong>de</strong> Rómulo, que<br />

raptou um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> Sabinas 189 que repartiu pelos concidadãos,<br />

veio a revelar-se uma ação formosa e <strong>de</strong> alto valor político (<br />

), da qual resultou a união <strong>de</strong> dois povos, o que<br />

potenciou a posterior prosperida<strong>de</strong> e prestígio do <strong>Estado</strong> (<br />

. Daí po<strong>de</strong>rmos concluir que,<br />

enquanto Teseu lutou por amor ao povo, tudo lhe correu b<strong>em</strong> e que, quando<br />

começou a agir para satisfazer os seus caprichos e <strong>de</strong>sejos, as consequências<br />

foram <strong>de</strong>vastadoras.<br />

Isso mesmo no-lo comprova o episódio do rapto <strong>de</strong> Perséfone 190 ,<br />

aventura que – já o diss<strong>em</strong>os – é apresentada como resultado <strong>de</strong> um pacto<br />

entre dois indivíduos para os quais a amiza<strong>de</strong> é um valor inestimável 191 .<br />

Contudo, apesar <strong>de</strong> assente <strong>em</strong> um valor nobre, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> congurar<br />

uma má ação, um ato <strong>de</strong> , pelo que ca implícito que virtu<strong>de</strong>s e<br />

qualida<strong>de</strong>s, se usadas para o mal, têm más consequências. Segundo D. S. 4.<br />

63. 4, Teseu teria noção disso, na medida <strong>em</strong> que se manifestou contra o<br />

rapto. No entanto, por causa da amiza<strong>de</strong> que o ligava a Pirítoo, sentiu-se<br />

obrigado a manter o acordo.<br />

O biógrafo não <strong>de</strong>dica muitas linhas a esta aventura: trata-se <strong>de</strong><br />

uma má ação, com más consequências (pois obriga a uma ausência<br />

prolongadíssima, que dá azo à <strong>de</strong>tração <strong>de</strong> Teseu por Menelau), além <strong>de</strong><br />

ter um pendor excessivamente mítico. Opta, por isso – e no cumprimento<br />

<strong>dos</strong> princípios traça<strong>dos</strong> no proémio da Vida <strong>de</strong> Teseu –, por evocar apenas<br />

uma versão racionalizadora do mito. Contrariando o que era voz corrente<br />

(que Teseu e Pirítoo teriam <strong>de</strong>scido aos Infernos para raptar Perséfone 192 ,<br />

mas, surpreendi<strong>dos</strong> por Ha<strong>de</strong>s, teriam cado <strong>de</strong>ti<strong>dos</strong> nas entranhas da Terra,<br />

presos às ca<strong>de</strong>iras on<strong>de</strong> se sentaram 193 ), <strong>Plutarco</strong> arma que Hedoneu, o rei<br />

<strong>dos</strong> Molossos, <strong>de</strong>ra à esposa o nome <strong>de</strong> Perséfone, à lha, o <strong>de</strong> Cora 194 e ao<br />

189 A propósito do número <strong>de</strong> mulheres raptadas por Rómulo, vi<strong>de</strong> Pérez Jiménez (2000:<br />

233, nota 60).<br />

190 São test<strong>em</strong>unhos literários <strong>de</strong>sta aventura Hes. fr. 280 Merkelbach-West e Hellanic.<br />

FGrHist 4 F 134 = 323a F 20. Para a iconograa, vi<strong>de</strong> Brommer (1982: 99-103). Sobre este<br />

episódio, consulte-se ainda García Gual (2001: 53, nota 4).<br />

191 Cf. Isoc. 10. 20. Sobre o valor da amiza<strong>de</strong>, vi<strong>de</strong> supra p. 76, nota 126.<br />

192 É interessante l<strong>em</strong>brar que os três «raptos» maiores <strong>de</strong> Teseu foram perpetra<strong>dos</strong> contra<br />

<strong>de</strong>usas da vegetação – Ariadne, Helena e Perséfone. Cf. Walker (1995: 15-16); Lindsay (1974:<br />

260); Alsino Clota (1957: 376).<br />

193 O test<strong>em</strong>unho mais antigo <strong>de</strong>sta presença no Ha<strong>de</strong>s r<strong>em</strong>onta a Od. 11. 631. No entanto,<br />

este verso é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rado uma interpolação. Cf. Calame (1990: 288, nota<br />

180).<br />

194 Esta versão ev<strong>em</strong>erista do mito situa a ação <strong>em</strong> Molosso. Isso <strong>de</strong>corre, provavelmente,<br />

do facto <strong>de</strong> os cães molossos ter<strong>em</strong> fama <strong>de</strong> ser tão ferozes quanto Cérbero. Cora era o nome<br />

<strong>de</strong> Perséfone antes <strong>de</strong> ir para o Ha<strong>de</strong>s. Segundo Paus. 1. 17. 4 e 18. 4, a vítima escolhida para o<br />

rapto foi a mulher do rei <strong>de</strong> Tesprócia.<br />

89

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!