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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

divina 185 . Ou seja, o primeiro ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>svario <strong>de</strong>u azo a outro igualmente grave,<br />

o rapto <strong>de</strong> Perséfone, <strong>de</strong> que falar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> seguida.<br />

Po<strong>de</strong>mos vericar, mais uma vez, que, como é seu hábito 186 , <strong>Plutarco</strong><br />

apresenta diferentes versões (mesmo aquelas com as quais não concorda) e<br />

indica a que lhe parece mais verosímil. No entanto, apesar <strong>de</strong> este ter sido<br />

um assunto tratado por vários autores, não enumera tantas variantes e<br />

pormenores como, por ex<strong>em</strong>plo, a propósito do que se passou com Ariadne,<br />

pois a exploração do rapto <strong>de</strong> Helena – que é uma falta bastante mais grave<br />

– <strong>em</strong> nada contribui para a dignida<strong>de</strong> do herói. E, se <strong>Plutarco</strong> não o omite, é<br />

porque, não obstante preten<strong>de</strong>r mostrar os seus heróis como mo<strong>de</strong>los a seguir,<br />

não cai na tentação <strong>de</strong> elaborar pers <strong>de</strong>masiado perfeitos, cuja imitação<br />

seria humanamente impossível e que, por isso mesmo, acabaria por dissuadir<br />

os jovens da <strong>em</strong>ulação. Outrossim lança pistas que permit<strong>em</strong> ao leitor mais<br />

atento inferir as causas longínquas – e mitológicas – <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s futuras,<br />

como os diferen<strong>dos</strong> entre Atenas e Esparta e Atenas e Mégara ou o facto <strong>de</strong>,<br />

na sequência <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>savenças, certas regiões da Ática ser<strong>em</strong> poupadas pelo<br />

inimigo (cf. página anterior).<br />

É impossível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> salientar que <strong>Plutarco</strong> não alu<strong>de</strong> à versão <strong>de</strong><br />

Isócrates, que <strong>de</strong>dicou diversas linhas ao tratamento do rapto da Tindárida <strong>em</strong><br />

um texto intitulado «Elogio <strong>de</strong> Helena». Não admira: é que o comportamento<br />

que causou repulsa ao moralista serviu ao orador <strong>de</strong> repto para o elogio <strong>de</strong><br />

Teseu!<br />

Para Isócrates 187 , que não menciona a invasão da Ática pelos Dioscuros,<br />

era compreensível que a e a do fundador <strong>de</strong> Atenas não<br />

resistiss<strong>em</strong> à beleza da divina Helena. Pelo contrário, <strong>de</strong>fendia que a relação<br />

entre a mais formosa das lhas <strong>de</strong> Zeus e o <strong>hom<strong>em</strong></strong> mais nobre do seu t<strong>em</strong>po<br />

era inevitável e motivo <strong>de</strong> glória para ambos.<br />

D<strong>em</strong>ais, importa realçar que <strong>Plutarco</strong> não se insurge contra o crime<br />

<strong>de</strong> «rapto» <strong>em</strong> si mesmo. Em Comp. Thes. -Rom. 6, consegue aceitar esse<br />

<strong>de</strong>lito como um mal necessário, tendo <strong>em</strong> vista o b<strong>em</strong> do povo, da cida<strong>de</strong>.<br />

Este é um <strong>dos</strong> pontos <strong>em</strong> que, na comparação <strong>de</strong> ambos os fundadores,<br />

Rómulo sai vencedor. É que, ao comportamento <strong>de</strong> Teseu – que não<br />

necessitava <strong>de</strong> mulheres estrangeiras para assegurar a continuação do povo,<br />

mas ainda assim colocou Atenas <strong>em</strong> risco 188 –, faltou um pretexto <strong>de</strong>coroso<br />

( ). Por isso, tudo leva a crer que os raptos por<br />

ele perpetra<strong>dos</strong> tenham sido consequência da mera satisfação da se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

185 Segundo Helânico, ambas <strong>de</strong>veriam ser lhas <strong>de</strong> Zeus.<br />

186 <strong>Plutarco</strong> costuma ter o cuidado <strong>de</strong> apresentar test<strong>em</strong>unhos divergentes sobre os heróis<br />

<strong>em</strong> causa, <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>ixar espaço para que seja cada leitor a construir uma opinião sobre o<br />

verda<strong>de</strong>iro caráter daqueles.<br />

187 Isoc. 10. 38.<br />

188 Cf. Comp. es. -Rom. 6. 5.<br />

88

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