17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Aventuras<br />

Mas este episódio t<strong>em</strong> também uma dimensão política. Por um lado,<br />

pregura-se como uma das causas da ancestral rivalida<strong>de</strong> entre Atenas e<br />

Esparta, que viria a culminar na Guerra do Peloponeso. Note-se que esta<br />

rivalida<strong>de</strong> longínqua t<strong>em</strong> uma orig<strong>em</strong> s<strong>em</strong>elhante à daquela que é consi<strong>de</strong>rada<br />

uma das piores guerras <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os t<strong>em</strong>pos – a Guerra <strong>de</strong> Troia (que, por sua<br />

vez, opôs Gregos e Bárbaros, Oci<strong>de</strong>nte e Oriente) –, também ela provocada<br />

pelo rapto <strong>de</strong> Helena. Por outro lado, relaciona dois heróis epónimos com<br />

o <strong>de</strong>mos a que <strong>de</strong>ram nome: Adno com Adnas, região on<strong>de</strong> Helena<br />

esteve escondida, e Aca<strong>de</strong>mo com a Aca<strong>de</strong>mia, que, por ocasião <strong>de</strong> invasões<br />

posteriores (nomeadamente a Guerra do Peloponeso) s<strong>em</strong>pre foi poupada,<br />

por causa do auxílio prestado por Aca<strong>de</strong>mo aos Dioscuros que andavam à<br />

procura <strong>de</strong> Helena. Esta ajuda é, no fundo, resultado da ação <strong>de</strong> inimigos <strong>de</strong><br />

Teseu, como muito b<strong>em</strong> salienta Heródoto (9. 73), que, na sua versão, arma<br />

explicitamente que os irmãos <strong>de</strong> Helena foram auxilia<strong>dos</strong> por Décelo 182 , que<br />

estava irritado com a audácia <strong>de</strong> Teseu, e por Titaco, habitante <strong>de</strong> Adnas, que<br />

lhes entregou a região.<br />

Importa ainda ter <strong>em</strong> conta a versão referida <strong>em</strong> es. 32. 6 e Paus. 1. 41.<br />

4 183 , que faz <strong>de</strong>ste rapto um antece<strong>de</strong>nte da inimiza<strong>de</strong> entre Atenas e Mégara,<br />

já que menciona o auxílio prestado por um megarense aos Dioscuros quando<br />

estes atacaram Adnas. O jov<strong>em</strong> megarense terá, segundo alguns (<strong>de</strong> entre<br />

os quais Héreas – FGrHist 486 F 2), morrido às mãos <strong>de</strong> Teseu <strong>em</strong> Adnas,<br />

versão que <strong>Plutarco</strong> e Pausânias rejeitam com base no facto <strong>de</strong> Etra ter sido<br />

levada como cativa para Esparta – se Teseu não estava presente para acudir à<br />

mãe, como seria possível que o inimigo morresse às suas mãos?<br />

Além do que já foi dito, importa recordar que a invasão da Ática pelos<br />

Dioscuros foi aproveitada por Menesteu 184 – que representava a oposição ao<br />

herói – para atacar o fundador mítico da <strong>de</strong>mocracia <strong>ateniense</strong>. A repercussão<br />

da invasão e do ataque <strong>de</strong> Menesteu foi tal que, quando regressou, Teseu<br />

<strong>de</strong>pressa se viu forçado a abandonar o po<strong>de</strong>r.<br />

O Queroneu critica ainda o pacto que Teseu fez com o seu amigo Pirítoo<br />

logo após ter<strong>em</strong> conseguido fugir com a Tindárida: um <strong>de</strong>les caria com Helena<br />

e ajudaria o outro a encontrar uma companheira, também ela <strong>de</strong> ascendência<br />

182 Décelo é o herói epónimo do <strong>de</strong>mo <strong>de</strong> Deceleia, que, à s<strong>em</strong>elhança do que se passava com<br />

a Aca<strong>de</strong>mia, foi poupado durante as invasões posteriores. Segundo Heródoto, os seus habitantes<br />

tinham também privilégios <strong>em</strong> Esparta.<br />

183 Segundo Pausânias, os Dioscuros foram auxilia<strong>dos</strong> por Titaco, lho <strong>de</strong> Megareu - cf.<br />

Loraux (1981: 38 e n. 13). A versão que <strong>Plutarco</strong> evoca (e atribui a Héreas – FGrHist 486 F 2)<br />

alu<strong>de</strong> a um certo Hálico, lho <strong>de</strong> Ésciron, que <strong>de</strong>u nome ao local da região <strong>de</strong> Mégara on<strong>de</strong> se<br />

situava o seu túmulo.<br />

184 Menesteu era um neto <strong>de</strong> Erecteu que, aproveitando a ausência do herói, reestabelece o<br />

po<strong>de</strong>r aristocrático nos diversos <strong>de</strong>mos, reservando para si o «po<strong>de</strong>r central» recém-fundado e<br />

quase logo abandonado por Teseu.<br />

87

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!