17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O triunfo da sobre o <br />

Ao contrário do que aconteceu no seio <strong>de</strong> outras civilizações, como a persa<br />

e a egípcia (nas quais existiam arquivos que só vieram a ter equivalente grego<br />

no período helenístico), poucos foram os indícios anteriores ao séc. V a.C. que<br />

chegaram até nós no que concerne ao registo <strong>de</strong> informações sobre processos ou<br />

ativida<strong>de</strong>s do quotidiano social, que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> atestar um <strong>em</strong>penho profundo<br />

no registo e conservação <strong>dos</strong> factos. Não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, como é óbvio, asseverar que<br />

isso seja reexo <strong>de</strong> mero <strong>de</strong>sinteresse, pois t<strong>em</strong>os a consciência <strong>de</strong> que muito<br />

se per<strong>de</strong>u ao longo <strong>dos</strong> séculos e <strong>de</strong> que a tradição <strong>de</strong> transmitir oralmente a<br />

cultura e a informação também terá contribuído para isso. A<strong>de</strong>mais, sab<strong>em</strong>os<br />

que o interesse do <strong>hom<strong>em</strong></strong> grego pela preservação <strong>dos</strong> acontecimentos e<br />

informações é algo <strong>de</strong> muito antigo, que po<strong>de</strong>mos fazer r<strong>em</strong>ontar ao período<br />

micénico, já que os textos <strong>em</strong> linear B <strong>de</strong>cifra<strong>dos</strong> <strong>de</strong>monstram a antiguida<strong>de</strong><br />

do gosto pela compilação <strong>de</strong> feitos e objetos, como, por ex<strong>em</strong>plo, as oferendas<br />

aos <strong>de</strong>uses ou as <strong>de</strong>slocações <strong>de</strong> gado 1 .<br />

Mas tal interesse existiu, efetivamente, e manifestou-se sobretudo através<br />

do , cujos test<strong>em</strong>unhos mais antigos r<strong>em</strong>ontam aos Po<strong>em</strong>as Homéricos 2 ,<br />

nos quais, como ver<strong>em</strong>os mais à frente, também exist<strong>em</strong> prenúncios daquilo a<br />

que Heródoto viria a chamar .<br />

O conceito <strong>de</strong> mito não esteve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre conotado com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

mentira ou cção. Segundo Lid<strong>de</strong>ll – Scott (1996), começou por<br />

signicar simplesmente ‘palavra’ (Il. 9. 443), ‘discurso’ (Od. 1. 358), ‘conversação’<br />

(Od. 4. 214), ‘história/narrativa’ (Od. 3. 94). Em Homero, essa história podia<br />

ser verda<strong>de</strong>ira ou falsa, mas, com o t<strong>em</strong>po, ao termo acabou por car associado<br />

apenas o sentido <strong>de</strong> cção (por oposição a ‘história verídica’, como,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Platão, Prt. 320c, ou Píndaro, O. 1. 29). É por isso que hoje<br />

conceb<strong>em</strong>os o mito como algo fabuloso, ainda que possa estar, <strong>de</strong> algum modo,<br />

ligado a uma situação real, com particular importância para toda a comunida<strong>de</strong>.<br />

Mas, na Antiguida<strong>de</strong>, aquilo que mo<strong>de</strong>rnamente é entendido como produto<br />

do imaginário coletivo, foi, durante muito t<strong>em</strong>po, inquestionável e aceite <strong>de</strong><br />

1 Sobre este assunto, consulte-se, por ex<strong>em</strong>plo, Chadwick (1987).<br />

2 Ainda que possa parecer um lugar-comum, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, como <strong>em</strong> quase tudo o que diz respeito<br />

à cultura grega, recuar aos Po<strong>em</strong>as Homéricos, porque se, por um lado, constitu<strong>em</strong> o mais antigo<br />

e um <strong>dos</strong> maiores repertórios <strong>de</strong> mitos da Grécia antiga, por outro, apresentam já indícios <strong>de</strong><br />

interesse pelo relato histórico. E, como se estes não foss<strong>em</strong> argumentos bastantes, muitas das<br />

técnicas literárias adotadas pelos historiadores, nomeadamente por Heródoto, são <strong>de</strong> orig<strong>em</strong><br />

homérica. Sobre os recursos estilísticos utiliza<strong>dos</strong> pelos historiadores, vi<strong>de</strong> infra pp.17-18<br />

11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!