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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Aventuras<br />

do túmulo da ama <strong>de</strong> Ariadne na ilha, como também evitavam que Dioniso,<br />

<strong>de</strong>us protetor <strong>de</strong> Naxos, surgisse como adversário <strong>de</strong>sleal <strong>de</strong> Teseu 160 .<br />

Quando <strong>Plutarco</strong>, na fase nal da biograa, volta a abordar o t<strong>em</strong>a das<br />

relações amorosas <strong>de</strong> Teseu, começa por evocar o triângulo Teseu/Antíope/<br />

Fedra. Em es. 28, é negada a versão da Teseida. 161 , segundo a qual, como já<br />

vimos, o ataque das Amazonas <strong>de</strong>correra <strong>dos</strong> ciúmes senti<strong>dos</strong> por Antíope,<br />

preterida pelo herói <strong>em</strong> favor <strong>de</strong> Fedra 162 . Segundo o Queroneu, que consi<strong>de</strong>ra<br />

<strong>de</strong>snecessário entrar <strong>em</strong> pormenores relativamente à história <strong>de</strong> Teseu e<br />

Fedra 163 , o casamento entre o herói e a jov<strong>em</strong> só teve lugar após a morte da<br />

Amazona.<br />

Portanto, o episódio das Amazonas serve <strong>de</strong> pretexto para o tratamento<br />

da vida amorosa do fundador <strong>de</strong> Atenas, da qual se escolh<strong>em</strong> sobretudo<br />

os <strong>caso</strong>s sobre os quais os tragediógrafos não escreveram (es. 29. 1-2).<br />

É interessante notar que o biógrafo, ao abordá-los, contraria a tradição<br />

corrente 164 que, sobretudo a partir do séc. V a.C., começou a <strong>de</strong>ixar cair<br />

no esquecimento estas aventuras menos dignas <strong>de</strong> um herói nacional. São<br />

menos dignas, porque resultam <strong>de</strong> uma conduta que assenta <strong>em</strong> princípios<br />

menos nobres, pois, para satisfazer os seus apetites, Teseu rapta, viola ou<br />

seduz ardilosamente mulheres e jovens in<strong>de</strong>fesas, dando orig<strong>em</strong> a relações<br />

160 Cf. Calame (1990: 113-114).<br />

161 Sobre esta epopeia que muito terá contribuído para a elaboração e difusão das aventuras<br />

<strong>de</strong> Teseu, vi<strong>de</strong> supra p. 71, n. 95.<br />

162 À s<strong>em</strong>elhança <strong>de</strong> Jasão relativamente a Me<strong>de</strong>ia, também Teseu abandona Antíope para<br />

se casar com uma esposa grega, Fedra. Sobre os amores com a Amazona, vi<strong>de</strong> Calame (1990:<br />

261). Cf. supra p. 73, nota 111.<br />

163 Segundo o autor, este t<strong>em</strong>a foi corretamente <strong>de</strong>senvolvido nas tragédias, já que tudo o<br />

que nelas se arma está <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com o que diz<strong>em</strong> os historiadores. É essa a razão que<br />

<strong>Plutarco</strong> apresenta para não <strong>de</strong>senvolver o assunto no âmbito da sua biograa. No entanto, esta<br />

armação parece-nos um subterfúgio através do qual evita aludir a mais um excesso cometido<br />

pelo herói por causa do «amor» e que <strong>em</strong> nada abona o seu comportamento e caráter. Como<br />

no-lo test<strong>em</strong>unha, por ex<strong>em</strong>plo, Eurípi<strong>de</strong>s no Hipólito, foi por vingança, por orgulho ferido,<br />

por causa da dor causada pela morte <strong>de</strong> Fedra que Teseu <strong>de</strong>sejou e exigiu a Poséidon a morte<br />

do próprio lho. Na opinião <strong>de</strong> Larmour (1988: 374), o Queroneu não <strong>de</strong>senvolve o t<strong>em</strong>a<br />

para, no momento <strong>de</strong> comparar Teseu e Rómulo, po<strong>de</strong>r argumentar com mais ecácia contra<br />

o comportamento do romano. Efetivamente, <strong>Plutarco</strong> só menciona o que se passou com<br />

Hipólito no terceiro capítulo da synkrisis. Ao comparar a morte <strong>de</strong> Hipólito com a <strong>de</strong> R<strong>em</strong>o<br />

às mãos <strong>de</strong> Rómulo, o Queroneu apresenta o comportamento do herói <strong>ateniense</strong> (que se <strong>de</strong>ixa<br />

levar por um impulso irreetido – – e por uma ira precipitada – <br />

) como mais <strong>de</strong>sculpável, na medida <strong>em</strong> que é resultado <strong>de</strong> três fatores que, conjuga<strong>dos</strong>,<br />

po<strong>de</strong>m ter consequências imprevisíveis: o amor (), os ciúmes () e as calúnias <strong>de</strong><br />

uma mulher (). D<strong>em</strong>ais, ao contrário <strong>de</strong> Rómulo – que matou ele próprio<br />

o irmão –, Teseu «limitou-se» a insultar o lho e a rogar-lhe pragas, pelo que o jov<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

consi<strong>de</strong>rado vítima da fortuna. Sobre este assunto, consult<strong>em</strong>-se, entre outros, Orban (1981:<br />

3-17); Knox (1952: 3-31); Karsai (1982: 113-127); Mills (1997: 186-221).<br />

164 Isócrates, por ex<strong>em</strong>plo, no «Elogio <strong>de</strong> Helena», nada diz sobre as peripécias amorosas <strong>de</strong><br />

Teseu.<br />

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