17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

para cumprir a missão que o ligava à sua ... Mas, neste <strong>caso</strong>, como que <strong>em</strong><br />

jeito <strong>de</strong> compensação, Ariadne era «confortada» por Dioniso.<br />

Na verda<strong>de</strong>, este <strong>de</strong>us assume um papel importante no mito <strong>de</strong> Ariadne,<br />

na medida <strong>em</strong> que surge como seu companheiro <strong>em</strong> diversas variantes, a<br />

maioria das quais faz <strong>de</strong>le pai <strong>dos</strong> lhos da princesa <strong>de</strong> Creta 154 . Há contudo<br />

autores, <strong>de</strong> entre os quais Íon <strong>de</strong> Quios (fr. 7 Gentili-Prato – o único<br />

mencionado por <strong>Plutarco</strong>), que asseveram que alguns <strong>dos</strong> lhos <strong>de</strong> Ariadne<br />

nasceram da sua relação com Teseu: é o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Enópion 155 (‘o que bebe<br />

vinho’), fundador <strong>de</strong> Quios, on<strong>de</strong> introduziu o consumo do vinho tinto, e<br />

Estálo 156 (‘cacho’). Outros autores, a que <strong>Plutarco</strong> não alu<strong>de</strong>, confer<strong>em</strong> a<br />

Teseu e não a Dioniso a paternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Toas (‘impetuoso’) <strong>de</strong> L<strong>em</strong>nos 157 . A<br />

atribuição da paternida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> lhos <strong>de</strong> Ariadne ao herói <strong>ateniense</strong> (que assim<br />

têm, à s<strong>em</strong>elhança do que acontece com Teseu ou Héracles, um pai humano<br />

e um divino – que <strong>Plutarco</strong> não refere) parece ser mais uma tentativa política<br />

<strong>de</strong> readaptação do mito, <strong>de</strong> modo a que a relação entre Atenas e algumas<br />

das cida<strong>de</strong>s súbditas e aliadas surja como ancestral e, portanto, impossível <strong>de</strong><br />

alterar.<br />

Ora, como já diss<strong>em</strong>os, a relação entre Dioniso e Ariadne é um el<strong>em</strong>ento<br />

importante do mito <strong>em</strong> causa. Contudo, a participação da divinda<strong>de</strong> põe<br />

algumas diculda<strong>de</strong>s ao biógrafo, que opta por referir apenas duas versões que<br />

po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar racionalistas. A primeira (es. 20. 1) apresenta como<br />

companheiro <strong>de</strong> Ariadne (após o abandono <strong>de</strong> Teseu) não o <strong>de</strong>us mas um seu<br />

sacerdote, Enaro, que habitava Naxos, ilha que lhe era consagrada.<br />

Os habitantes <strong>de</strong> Naxos, por sua vez, contavam uma variante <strong>de</strong>veras<br />

curiosa, que apresenta dois Minos 158 e duas Ariadnes (es. 20. 8-9 = FGrHist<br />

501 F 1). Uma era companheira <strong>de</strong> Dioniso, do qual <strong>de</strong>u à luz Estálo, e é<br />

homenageada com uma festa alegre. A outra chegou a Naxos com uma ama,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido raptada e abandonada por Teseu, 159 e é homenageada com<br />

uma festa triste. Deste modo, não só avançavam uma etiologia para a existência<br />

não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se cumprir. Segundo outra versão, é o próprio Dioniso que aparece <strong>em</strong><br />

sonhos a Teseu para, por meio <strong>de</strong> ameaças, convencê-lo a abandonar a jov<strong>em</strong>.<br />

154 O número <strong>de</strong> lhos atribuí<strong>dos</strong> a este casal é variável e os seus nomes, to<strong>dos</strong> eles falantes,<br />

relacionam-nos com alguns <strong>dos</strong> atributos <strong>de</strong> Dioniso. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Calame (1990: 247).<br />

155 Cf. Hyg. Astr. 2. 34; D.S. 5. 79. 1 e 5. 84. 3 e Apollod. Epit. 1. 9 (on<strong>de</strong> surge como lho<br />

<strong>de</strong> Dioniso).<br />

156 Apollod. Bibl. 1. 9. 16., Epit. 1. 9; D. S. 5. 62. 1; Parth. Erot. 1. <strong>Plutarco</strong>, ao armar que<br />

Íon <strong>de</strong> Quios também refere Estálo, não é rigoroso, pois o verso a que alu<strong>de</strong> apenas menciona<br />

Enópion. Cf. Calame (1990: 282, n. 148).<br />

157 Sobre Toas, vi<strong>de</strong> Apollod. Bibl. 3. 6. 4, Epit. 1. 9 17; Hyg. Fab. 15, 74, 120, 121, 254, 261.<br />

158 Segundo D. S. 4. 60. 3, o Minos inimigo <strong>de</strong> Atenas (ou seja, o que é referido nas tragédias)<br />

é neto do legislador (que é referido nas epopeias). Flacelière (1948: 79) interpreta esta disjunção<br />

como uma forma <strong>de</strong> evitar que ao juiz do Ha<strong>de</strong>s foss<strong>em</strong> atribuí<strong>dos</strong> feitos tão negativos.<br />

159 Esta versão difere das restantes que faz<strong>em</strong> da ilha o local do abandono.<br />

82

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!