17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Aventuras<br />

surge, portanto, mais uma vez, como guardiã <strong>dos</strong> valores pan-helénicos e<br />

protetora <strong>dos</strong> fracos e oprimi<strong>dos</strong> 148 .<br />

<strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>dica o vigésimo capítulo <strong>de</strong>sta biograa aos rumores que se<br />

pren<strong>de</strong>m ao m da relação <strong>de</strong> Ariadne e Teseu e que consi<strong>de</strong>ra infunda<strong>dos</strong>.<br />

To<strong>dos</strong> têm <strong>em</strong> comum o facto <strong>de</strong> a jov<strong>em</strong> ter sido abandonada – voluntária<br />

ou involuntariamente – pelo herói. Segundo Hesíodo, tê-lo-á feito <strong>de</strong> livre<br />

vonta<strong>de</strong>, por estar apaixonado por outra jov<strong>em</strong>, Egla 149 . Já segundo Péon <strong>de</strong><br />

Amato (FGrHist 757 F 2) – única versão <strong>de</strong> abandono involuntário a que o<br />

biógrafo alu<strong>de</strong> –, foi por causa <strong>de</strong> uma t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> que os impeliu para a ilha<br />

<strong>de</strong> Chipre que Teseu <strong>de</strong>ixou Ariadne: é que, como a jov<strong>em</strong> estivesse grávida e<br />

nauseada e a ilha próxima, aportaram para que Ariadne se pu<strong>de</strong>sse recompor;<br />

mas Teseu, que permaneceu a bordo, foi novamente levado para o alto-mar<br />

pela procela. Quando o herói conseguiu regressar (o que prova que não tivera<br />

intenção <strong>de</strong> abandonar a jov<strong>em</strong>), já esta havia falecido durante o trabalho<br />

<strong>de</strong> parto infrutífero. Esta história, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpabilizar Teseu, que ca<br />

consternado com a notícia, serve <strong>de</strong> para o culto <strong>de</strong> Ariadne instituído<br />

na ilha <strong>de</strong> Chipre 150 e para o nome do bosque on<strong>de</strong> está a sepultura da heroína<br />

– bosque <strong>de</strong> Ariadne Afrodite.<br />

Embora o Queroneu não a registe 151 , corria uma outra versão que resulta<br />

certamente <strong>de</strong> um reaproveitamento político do mito, na medida <strong>em</strong> que serve<br />

para evi<strong>de</strong>nciar as virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Teseu enquanto <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>, capaz <strong>de</strong><br />

sacricar a sua felicida<strong>de</strong> <strong>em</strong> prol do povo 152 . De facto, segundo esta variante<br />

(atestada, iconogracamente, por ex<strong>em</strong>plo, no vaso do pintor Sileu – vi<strong>de</strong><br />

LIMC Ariadne), Teseu foi, <strong>em</strong> sonhos, impelido pela <strong>de</strong>usa Atena a partir 153<br />

148 Esta perspetiva é apresentada, por ex<strong>em</strong>plo, no Édipo <strong>em</strong> Colono <strong>de</strong> Sófocles (tragédia na<br />

qual Teseu acolhe Édipo, velho cego e exilado), nas Suplicantes (na qual Teseu auxilia Adrasto<br />

a recuperar os corpos <strong>dos</strong> heróis caí<strong>dos</strong> <strong>em</strong> Tebas), no Hércules Furioso (na qual Teseu conforta<br />

e acolhe o herói pan-helénico <strong>de</strong>pois do massacre que este perpetrou contra a própria família)<br />

e nos Heraclidas <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s (protagonizado não por Teseu, mas pelo seu lho e sucessor<br />

D<strong>em</strong>ofonte).<br />

149 Para mais informações sobre esta jov<strong>em</strong>, vi<strong>de</strong> infra n. 170.<br />

150 es. 20. 6-7. Teseu não só <strong>de</strong>ixou um fundo que permitiria custear a homenag<strong>em</strong>, como<br />

ainda indicações precisas: <strong>de</strong>viam ser feitos sacrifícios e erigidas duas estatuetas, uma <strong>de</strong> bronze<br />

e outra <strong>de</strong> prata. Durante as celebrações, que ocorr<strong>em</strong> no segundo dia do mês macedónio<br />

<strong>de</strong> Gorpieu (equivalente a agosto/set<strong>em</strong>bro), um jov<strong>em</strong> comporta-se como se fosse uma<br />

parturiente. A propósito do culto <strong>de</strong> Afrodite <strong>em</strong> Chipre, consulte-se Karageorghis (1977: 194<br />

sqq.); Pirenne-Delforge (1994: 34 sqq.).<br />

151 Esta omissão relaciona-se, provavelmente, com a promessa <strong>de</strong> apresentar um relato<br />

verosímil. Além disso, atribuir a preocupação com o povo e a a uma inuência divina<br />

acabava por diminuir o comportamento do herói, já que sugeria que ele, por momentos, ter-se-ia<br />

esquecido da sua missão e que tal comportamento não era totalmente voluntário.<br />

152 Segundo Hyg. Fab. 43, Teseu não leva Ariadne para Atenas por ter consciência <strong>de</strong> que<br />

isso <strong>de</strong>sgraçaria o seu futuro.<br />

153 Cf. Eust. Od. 1688, 41 sqq. Esta história encontra paralelo na <strong>de</strong> Eneias e Dido (Verg. A.<br />

4), também ela abandonada pelo herói não por amor <strong>de</strong> outra mulher, mas porque a sua missão<br />

81

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!