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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

s<strong>em</strong> cujo apoio Teseu não teria vencido o Minotauro, e as <strong>de</strong> Nausícaa (que,<br />

para socorrer o herói estrangeiro, põe <strong>em</strong> causa a sua reputação <strong>de</strong> donzela)<br />

ou <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia (que, para auxiliar Jasão, também põe <strong>de</strong> parte os laços que<br />

<strong>de</strong>veriam uni-la à família e à terra natal) 144 .<br />

Além do mais, esta versão faz <strong>de</strong> Ariadne condutora <strong>de</strong> Teseu ao po<strong>de</strong>r, na<br />

medida <strong>em</strong> que o ajuda a livrar os Atenienses do tributo e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

a aumentar a conança do povo no herói. Esta relação pregura-se, portanto,<br />

como antítese da que une Teseu e Helena, na sequência da qual o lho <strong>de</strong> Egeu<br />

se vê obrigado a abandonar a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Atenas.<br />

De acordo com a versão racionalista <strong>de</strong> Filócoro, a jov<strong>em</strong> não presta<br />

qualquer auxílio ao herói. É este qu<strong>em</strong>, sozinho, t<strong>em</strong> todo o mérito da vitória<br />

sobre o presunçoso e odiado general Tauro, na sequência da qual consegue<br />

recuperar os jovens reféns, fazer com que o tributo seja suspenso e atrair<br />

a atenção <strong>de</strong> Ariadne, que <strong>de</strong>le se enamora por causa da sua prestação no<br />

concurso. Esta versão reforça, assim, não só o papel <strong>de</strong> Teseu na salvação <strong>de</strong><br />

Atenas, mas também a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que era um «homme fatal», ao qual as mulheres<br />

tinham alguma diculda<strong>de</strong> <strong>em</strong> resistir, algo que é sugerido, por ex<strong>em</strong>plo, pela<br />

<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Antíope 145 e pelo facto <strong>de</strong> Periguna, apesar da rejeição inicial,<br />

acabar por respon<strong>de</strong>r ao seu chamamento. Além disso, parece insinuar que a<br />

partida <strong>de</strong> Ariadne não é consequência <strong>de</strong> um rapto (como suger<strong>em</strong> Od. 11.<br />

321 sqq.; D. S. 4. 61. 4; Ov. Ars. 1. 509-510, Met. 8. 180; Hyg. Fab. 42) e sim<br />

do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> uma jov<strong>em</strong> apaixonada.<br />

A terceira versão, a <strong>de</strong> Cli<strong>de</strong>mo (FGrHist 323 F 17), é aquela que<br />

<strong>Plutarco</strong> rejeita por consi<strong>de</strong>rá-la <strong>de</strong>masiado fantasiosa, já que relaciona o<br />

conito com a fuga <strong>de</strong> Dédalo para Atenas e o seu m com um pacto<br />

<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> celebrado entre Teseu (que já assumira o po<strong>de</strong>r na cida<strong>de</strong>) e<br />

Ariadne que, na sequência da morte do seu irmão Deucalião, estava à frente<br />

<strong>dos</strong> <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> Creta 146 . Esta versão peca por colocar Teseu no po<strong>de</strong>r antes<br />

do t<strong>em</strong>po. Se <strong>Plutarco</strong> a refere, fá-lo ou pelo seu pendor racionalista ou<br />

para realçar a existência <strong>de</strong> versões que alteram <strong>de</strong>masiado o esqu<strong>em</strong>a<br />

corrente do mito. Para Jacoby (1949: 137 sqq.), estamos perante uma<br />

historização da lenda com objetivos propagandísticos pró-<strong>ateniense</strong>s: estes<br />

não só respeitam as normas <strong>de</strong> hospitalida<strong>de</strong> ao não entregar<strong>em</strong> o hóspe<strong>de</strong><br />

ao inimigo que o exigia 147 , como ainda consegu<strong>em</strong> resgatar os reféns<br />

<strong>ateniense</strong>s <strong>de</strong>ti<strong>dos</strong> pelos Cretenses e celebrar um acordo <strong>de</strong> paz. Atenas<br />

144 Sobre esse paralelo, leia-se García Gual (2001: 154).<br />

145 Supra p. 73 sqq.<br />

146 Segundo D. S. 4. 62. 1; Apollod. Epit. 1. 17, o conito terminaria com a concessão da mão<br />

<strong>de</strong> Fedra <strong>em</strong> casamento a Teseu.<br />

147 Do mesmo modo que D<strong>em</strong>ofonte, lho <strong>de</strong> Teseu e Fedra, quando assume o po<strong>de</strong>r, rejeita<br />

entregar os lhos <strong>de</strong> Héracles (que se haviam dirigido a Atenas como suplicantes) a Euristeu.<br />

Cf. E. Heracl. 236 sqq.<br />

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