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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Aventuras<br />

Queroneu refere-se a este episódio <strong>em</strong> dois passos – es. 8. 3-6 e 29. 2 – , que,<br />

aos olhos do leitor mais atento, são contraditórios. De facto, <strong>em</strong> es. 8. 3-6,<br />

<strong>Plutarco</strong> evita abordar abertamente o estupro <strong>de</strong> que Periguna (segundo arma<br />

<strong>em</strong> es. 29. 2) terá sido vítima. É que, na fase inicial da biograa, pretendia<br />

retratar um herói virtuoso, pelo que não convinha começar a revelar as suas<br />

falhas morais – ainda que <strong>de</strong>ixe no ar uma impressão negativa 141 . Assim, o que<br />

se narra <strong>em</strong> es. 8. 3-6 parece ser um mero ato <strong>de</strong> sedução ao qual a jov<strong>em</strong>,<br />

ante a insistência e promessa <strong>de</strong> Teseu – e apesar da resistência oferecida <strong>de</strong><br />

início –, acaba por ce<strong>de</strong>r.<br />

Esta aventura reveste-se, contudo, <strong>de</strong> importância política, na medida<br />

<strong>em</strong> que <strong>de</strong>la nasceu Melanipo (vencedor <strong>dos</strong> Jogos N<strong>em</strong>eus no t<strong>em</strong>po <strong>dos</strong><br />

Epígonos), que, por sua vez, teve um lho chamado Ioxo, que participou na<br />

fundação <strong>de</strong> uma colónia na Cária e se tornou antepassado <strong>dos</strong> Ióxidas, o que<br />

associa a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atenas à nova . D<strong>em</strong>ais, reveste-se <strong>de</strong> importância<br />

etiológica, pois atribui-se a orig<strong>em</strong> do hábito que esse povo tinha <strong>de</strong> não<br />

queimar n<strong>em</strong> arbustos espinhosos n<strong>em</strong> espargos silvestres ao facto <strong>de</strong> Periguna<br />

ter encontrado abrigo entre essas plantas quando fugia <strong>de</strong> Teseu.<br />

A segunda relação tratada pelo biógrafo é a que uniu Teseu a Ariadne 142 .<br />

No capítulo 19, menciona três versões a propósito da forma como se estabeleceu<br />

a relação entre a princesa cretense e o herói. As duas primeiras põ<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

evidência o amor que Ariadne sentiu pelo <strong>ateniense</strong>. Segundo a maioria (<br />

), foi <strong>em</strong> nome <strong>de</strong>sse sentimento (a que po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os chamar «amor à<br />

primeira vista») que a princesa instruiu Teseu e lhe <strong>de</strong>u os meios necessários<br />

(o) para <strong>de</strong>rrotar o Minotauro e, <strong>em</strong> seguida, partir com ela e com os jovens<br />

<strong>ateniense</strong>s. Assim, e <strong>de</strong> acordo com esta versão, é Ariadne qu<strong>em</strong> seduz Teseu:<br />

<strong>em</strong> troca das indicações para vencer o Minotauro, apenas <strong>de</strong>seja que o herói a<br />

leve como sua noiva quando partir.<br />

A versão da maioria 143 – que <strong>Plutarco</strong> não <strong>de</strong>senvolve – contém to<strong>dos</strong> os<br />

el<strong>em</strong>entos típicos do motivo da princesa casadoira que se apaixona pelo príncipe<br />

estrangeiro, por amor do qual trai o pai e que, após a fuga (que lhe permite<br />

não só continuar ao lado do amado, mas também escapar à cólera paterna),<br />

acaba por ser abandonada. Torna-se, por isso, impossível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> apontar as<br />

s<strong>em</strong>elhanças existentes entre a história da enamorada () Ariadne,<br />

141 Como arma Larmour (1988: 373), «the picture of the young woman supplicating the<br />

plants to help her hi<strong>de</strong> is so touching and pathetic that it contributes much to the negative<br />

impression we form of eseus when he impregnates her, gives her to someone else and goes o<br />

in search of new adventures».<br />

142 Sobre o mito <strong>de</strong> Ariadne, leiam-se Webster (1966: 22-31) - que trata não só as diferentes<br />

versões do mito como alguns test<strong>em</strong>unhos iconográcos; Graves (2004: s. v.); Grimal (1992: s.<br />

v.). Para a tradição literária e iconográca, Brommer (1972: 86-92); a propósito da iconograa,<br />

consulte-se ainda LIMC Ariadne 55-74 e 75-92.<br />

143 Cf., e. g., D. S. 4. 61. 4-5; Apollod. Epit. 1. 8; Hyg. Fab. 42.<br />

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