O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />
guras não menos famosas, como é o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Jasão (<strong>em</strong> busca do velo <strong>de</strong><br />
ouro 134 ), Meleagro (no extermínio do javali 135 ) e Adrasto 136 (na recuperação<br />
<strong>dos</strong> cadáveres <strong>dos</strong> que caíram às portas <strong>de</strong> Tebas). É com base nestes ex<strong>em</strong>plos<br />
que o Queroneu aproveita para justicar o uso da expressão «nada s<strong>em</strong> Teseu»<br />
(), que conrma o <strong>em</strong>penho do herói <strong>em</strong> superar <strong>em</strong>presas<br />
<strong>de</strong> monta, <strong>em</strong> auxiliar o próximo e sugere o futuro <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo <strong>de</strong><br />
Atenas 137 .<br />
Com intuito s<strong>em</strong>elhante, isto é, para justicar o epíteto <strong>de</strong> Teseu – que cou<br />
conhecido como «outro Héracles» () 138 –, o Queroneu<br />
evoca, s<strong>em</strong> contudo aludir a um único ex<strong>em</strong>plo especíco, os diversos probl<strong>em</strong>as<br />
ultrapassa<strong>dos</strong> pelo herói s<strong>em</strong> o apoio <strong>de</strong> ninguém. É provável que a ausência <strong>de</strong><br />
ex<strong>em</strong>plos se <strong>de</strong>va ao facto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que o t<strong>em</strong>a já estava sucient<strong>em</strong>ente<br />
<strong>de</strong>senvolvido nos capítulos anteriores e <strong>de</strong> apenas querer aproveitar o contexto<br />
da referência à expressão «nada s<strong>em</strong> Teseu» para l<strong>em</strong>brar o epíteto (algo que<br />
lhe po<strong>de</strong>ria ter escapado no princípio da biograa, quando <strong>de</strong>senvolveu o t<strong>em</strong>a<br />
da <strong>em</strong>ulação). De qualquer modo, passa-nos a mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> que, com todo o<br />
seu <strong>em</strong>penho, o herói conseguiu alcançar o seu objetivo e igualar os feitos e a<br />
fama <strong>de</strong> Héracles.<br />
Esse intento foi <strong>de</strong> tal modo conseguido que se reete até no âmbito<br />
da vida amorosa <strong>de</strong> Teseu 139 , que, também neste campo, imita a maneira<br />
<strong>de</strong> ser do lho <strong>de</strong> Alcmena, caracterizada por um comportamento sexual<br />
excessivo 140 .<br />
A primeira relação mencionada por <strong>Plutarco</strong> é a que Teseu manteve com<br />
Periguna, lha <strong>de</strong> Sínis, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aniquilar o pai da jov<strong>em</strong>. Curiosamente, o<br />
134 Embora não seja referido por to<strong>dos</strong> os autores que escrev<strong>em</strong> sobre os Argonautas, Teseu<br />
surge como um <strong>de</strong>les, e. g., <strong>em</strong> Apollod. Bibl. 1. 9. 16 sqq.<br />
135 Paus. 8. 45. 6; Hyg. Fab. 38.<br />
136 O principal test<strong>em</strong>unho da participação <strong>de</strong> Teseu nesta expedição são as Suplicantes <strong>de</strong><br />
Eurípi<strong>de</strong>s, primeiro texto a apresentar o herói como fundador da <strong>de</strong>mocracia <strong>ateniense</strong>. Nele,<br />
Teseu é apresentado como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> governante do regime <strong>de</strong>mocrático e como <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong><br />
valores essenciais para o <strong>hom<strong>em</strong></strong> grego. Vi<strong>de</strong> Ribeiro Ferreira (1986: 87-121); Burian (1985:<br />
129-155); Mills (1997:87-128); Walker (1995: 146-169).<br />
137 Cf. infra capítulo «Atenas, umbigo da Héla<strong>de</strong>», p. 120.<br />
138 Cf. supra p. 54 sqq.<br />
139 Disso nos dá notícia Ath. 557a-b: «No décimo quarto livro da sua História da Ática, Istro<br />
[FGrHist 334 F 10], ao enumerar as mulheres que foram <strong>de</strong> Teseu, diz que algumas <strong>de</strong>las se<br />
tornaram suas esposas por amor, outras por rapto, outras ainda por casamento legal. Por rapto<br />
foram-no Helena, Ariadne, Hipólita e as lhas <strong>de</strong> Cércion e Sínis. Mas <strong>de</strong>sposou legalmente<br />
Melibeia, a mãe <strong>de</strong> Ájax. Hesíodo, porém, arma que Teseu <strong>caso</strong>u com Íope e Egla, por causa da<br />
qual até quebrou as suas promessas a Ariadne, como diz Cécrope. Fereci<strong>de</strong>s acrescenta Ferebeia.<br />
Mas antes da sua aventura com Helena, também raptou Anaxo <strong>de</strong> Trezena. Depois <strong>de</strong> Hipólita,<br />
<strong>caso</strong>u com Fedra».<br />
140 Cf. S. Tr. 351-369, 459-460; Apollod. Bibl. 2. 7. 8. A tradição que atribui a Héracles não<br />
só várias mulheres como uma prole <strong>de</strong> setenta lhos <strong>de</strong>ve-se certamente ao caráter nacional do<br />
seu culto e ao facto <strong>de</strong> diversas famílias reivindicar<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ste herói.<br />
78