17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Aventuras<br />

guerra na qual Teseu participa por amiza<strong>de</strong> 127 , para auxiliar um amigo que,<br />

neste <strong>caso</strong>, foi ofendido pelos seus hóspe<strong>de</strong>s.<br />

Os Centauros, que não respeitam um valor fundamental para a socieda<strong>de</strong><br />

grega 128 , surg<strong>em</strong>, portanto, como seres não-civiliza<strong>dos</strong>, pelo que <strong>de</strong>rrotá-los se<br />

conforma perfeitamente com a missão civilizadora do herói <strong>ateniense</strong>.<br />

De facto, a tradição mítica ligada a estas guras era, por excelência,<br />

representativa <strong>dos</strong> conitos entre 129 , entre barbárie e civilização.<br />

Essa ambivalência manifestava-se não só a nível físico (já que se trata <strong>de</strong> seres<br />

cujo corpo era meta<strong>de</strong> humano, meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> cavalo), mas também a nível do<br />

comportamento, pois eram fortes, pouco escrupulosos e violentos – mesmo<br />

selvagens –, <strong>de</strong>feitos esses acentua<strong>dos</strong> s<strong>em</strong>pre que se <strong>em</strong>briagavam 130 . Essa<br />

dualida<strong>de</strong> era ainda corroborada pela existência <strong>de</strong> dois Centauros bons, que<br />

são penaliza<strong>dos</strong> pelas más ações <strong>dos</strong> restantes: Quíron, que passa por paradigma<br />

<strong>de</strong> civilização e educador <strong>de</strong> heróis (como Jasão, Asclépio, Actéon, lho <strong>de</strong><br />

Aristeu, ou Aquiles 131 ), e Folo, que representa a cultura e a hospitalida<strong>de</strong>.<br />

Como a Amazonomaquia, a Centauromaquia evoca a vitória sobre os<br />

Persas e contribui, durante o séc. V a.C., para a representação da luta heroica<br />

<strong>dos</strong> Atenienses contra os Bárbaros 132 . Deste modo, os Persas eram ti<strong>dos</strong> como<br />

seres que se <strong>de</strong>ixam levar por apetites e não pela razão (como os Centauros) e<br />

como um exército ef<strong>em</strong>inado (como as Amazonas).<br />

<strong>Plutarco</strong> (es. 29. 3-5) invoca ainda outras aventuras <strong>de</strong> Teseu, cuja<br />

existência não é consensual 133 . S<strong>em</strong> entrar <strong>em</strong> pormenores, o biógrafo<br />

menciona três situações <strong>em</strong> que o herói entra <strong>em</strong> ação para acudir a outras<br />

127 Trata-se <strong>de</strong> mais um valor muito estimado pelos Helenos. A amiza<strong>de</strong> que unia Pirítoo<br />

e Teseu era tão forte que se tornou paradigma <strong>de</strong> <strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, como no-lo atesta, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

Xenofonte (Smp. 8. 31) e veio a dar orig<strong>em</strong> ao nome <strong>de</strong> um <strong>dos</strong> <strong>de</strong>mos <strong>de</strong> Atenas, Pirítodas.<br />

Teseu e Pirítoo não são, no âmbito da tradição grega, os únicos representantes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

companheirismo e <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira entre heróis que se admiram e respeitam mutuamente.<br />

Também a amiza<strong>de</strong> entre Aquiles e Pátroclo (cantada na Ilíada) e a que uniu Orestes e Píla<strong>de</strong>s<br />

(test<strong>em</strong>unhada pelas Coéforas <strong>de</strong> Ésquilo, pela Eletra <strong>de</strong> Sófocles, b<strong>em</strong> como pela Eletra, pela<br />

Igénia <strong>em</strong> Táuri<strong>de</strong> e pelo Orestes <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s) se tornaram lendários. Autores como Bíon <strong>de</strong><br />

Esmirna (fr. 12), Dio Crisóstomo (57. 28) e <strong>Plutarco</strong> (Moralia 93E) elogiam a amiza<strong>de</strong> que<br />

unia aqueles heróis. Sobre o t<strong>em</strong>a , vejam-se, e. g., Adkins (1963: 30-45); Dover (1974);<br />

Konstan (1997).<br />

128 Sobre a importância da hospitalida<strong>de</strong> no mundo grego, consult<strong>em</strong>-se, e. g., Finley (1988:<br />

capítulo IV); Herman (1987).<br />

129 Acerca da dualida<strong>de</strong> , leiam-se Havelock (1957); Vernière (1995).<br />

130 O vinho representa civilização, mas o seu efeito sobre a barbárie, que facilmente se <strong>de</strong>ixa<br />

atrair por ele, é corrente. Trata-se <strong>de</strong> um el<strong>em</strong>ento convencional nas relações entre civilização e<br />

barbárie. Cf. E. Cyc.; Hdt. 1 e 3.<br />

131 Quíron é apresentado como educador <strong>de</strong> Jasão, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Hes. . 992 sqq; como<br />

mestre <strong>de</strong> Asclépio (ou Esculápio) <strong>em</strong> Apollod. Bibl. 3. 10. 3; <strong>de</strong> Actéon, <strong>em</strong> Apollod. Bibl. 3. 4.<br />

4 e <strong>de</strong> Aquiles, <strong>em</strong> Il. 11. 832.<br />

132 Cf. Calame (1990: 263); Bois (1982: 49;1979: 43); Hall (1991); Portela (2002: 102-104).<br />

133 <strong>Plutarco</strong> refere Herodoro como sendo o autor que nega a participação <strong>de</strong> Teseu <strong>em</strong> outras<br />

aventuras, mas não especica a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> que o contrariam e com os quais parece concordar.<br />

77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!