O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />
a supr<strong>em</strong>acia do herói mas sobretudo a <strong>de</strong> Atenas. No século IV a.C., este<br />
mito assume ainda a função política <strong>de</strong> incitar os Atenienses a recuperar o seu<br />
império.<br />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do motivo que levou as Amazonas a atacar<strong>em</strong> a<br />
Ática 112 , importa realçar que esta conguração do mito resulta da necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> coaduná-lo com os interesses políticos e sociais <strong>de</strong> Atenas: do mesmo modo<br />
que não convinha que Teseu tivesse um papel subsidiário nessa aventura,<br />
também não convinha que a batalha <strong>de</strong>corresse <strong>em</strong> território alheio. É que, uma<br />
vez que as Amazonas simbolizavam não só o inimigo bárbaro mas também um<br />
modo <strong>de</strong> vida f<strong>em</strong>inino 113 contrário à tradição grega e particularmente à ática,<br />
se os Atenienses foss<strong>em</strong> ameaça<strong>dos</strong> no seu espaço e saíss<strong>em</strong> vitoriosos, a sua<br />
luta <strong>em</strong> prol da civilização adquiriria outra dimensão.<br />
<strong>Plutarco</strong> não insiste na i<strong>de</strong>ia do rapto 114 (que, como vimos, <strong>de</strong>ve ser anterior<br />
às Guerras Médicas 115 ), fala antes <strong>em</strong> , que era algo perfeitamente aceitável<br />
naquele t<strong>em</strong>po 116 . Além disso, insiste no amor que a jov<strong>em</strong> nutria por Teseu 117 ,<br />
como que a tentar <strong>de</strong>sculpabilizá-lo da invasão. D<strong>em</strong>ais, o comportamento do<br />
herói acaba sancionado por causa do sentido que, como acabámos <strong>de</strong> ver, era<br />
atribuído à sua vitória.<br />
Porque este combate com mulheres – que para os Gregos eram seres<br />
fracos e <strong>de</strong>sprovi<strong>dos</strong> <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s bélicas – po<strong>de</strong>ria parecer algo ligeiro e<br />
<strong>de</strong> somenos importância, <strong>Plutarco</strong> faz questão <strong>de</strong> realçar a sua diculda<strong>de</strong>, no<br />
capítulo 27 da Vida <strong>de</strong> Teseu, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>screve pormenores relativos à batalha e<br />
a outros locais gregos que registam a m<strong>em</strong>ória da passag<strong>em</strong> das guerreiras 118 .<br />
112 Há qu<strong>em</strong> diga que a invasão <strong>de</strong>corre da tentativa <strong>de</strong> resgate <strong>de</strong> Antíope, que é uma<br />
vingança pelo seu rapto e/ou pela expedição <strong>de</strong> Teseu ao país das Amazonas, ou ainda<br />
consequência <strong>dos</strong> ciúmes que Antíope sentia por causa do casamento <strong>de</strong> Teseu com Fedra.<br />
Esta última tentativa <strong>de</strong> justicação é recusada por <strong>Plutarco</strong> (es. 28. 1), que a consi<strong>de</strong>ra<br />
excessivamente fantástica.<br />
113 A respeito da condição da mulher na Grécia antiga, leiam-se Clark (1989); Blun<strong>de</strong>ll<br />
(1995); i<strong>de</strong>m (1998). Sobre as Amazonas como reverso da mulher grega, vi<strong>de</strong> Tyrrell (1984:<br />
40-63).<br />
114 Como muito b<strong>em</strong> armam Tyrrell – Brown (1991: 167), «the rape practiced by a national<br />
hero, however useful it had been in asserting male dominance over women and foreign en<strong>em</strong>ies,<br />
had no place in future politicians’ intentions for the Amazon invasion». De facto, um político<br />
que se preten<strong>de</strong> herói nacional e rei humanitário não po<strong>de</strong> ter tais comportamentos...<br />
115 E. g., Mills (1997: 31-33).<br />
116 O era tido como sinal <strong>de</strong> reconhecimento das qualida<strong>de</strong>s do guerreiro, como muito<br />
b<strong>em</strong> no-lo test<strong>em</strong>unha a tradição homérica. Se alguém se via privado <strong>de</strong>le, por tudo o que isso<br />
implicava, as consequências podiam ser terríveis. Basta-nos recordar a cólera <strong>de</strong> Aquiles, para a<br />
qual contribuiu o facto <strong>de</strong> ter sido privado <strong>de</strong> Briseida. Cf., e. g., Il. 1. 181-192.<br />
117 Cf. es. 26. 1, 27. 5 e página anterior.<br />
118 Para mais informações sobre a toponímia <strong>em</strong> causa, vi<strong>de</strong> Ampolo – Manfredini (1988:<br />
244-246) e bibliograa citada. <strong>Plutarco</strong> (es. 27. 8-9) alu<strong>de</strong> à passag<strong>em</strong> conituosa das<br />
Amazonas por outras regiões quando se dirigiam para a Ática, evocando como test<strong>em</strong>unho a<br />
existência <strong>de</strong> túmulos <strong>de</strong> Amazonas <strong>em</strong> Mégara, nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Queroneia (junto ao rio<br />
Termodonte ou H<strong>em</strong>on) e na Tessália (nos arredores <strong>de</strong> Escotussa e Cinoscéfalas). Embora<br />
74