17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Aventuras<br />

A partir <strong>dos</strong> el<strong>em</strong>entos supracita<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>mos concluir, com outros<br />

estudiosos 106 , que o motivo () da invasão da Ática pelas guerreiras<br />

terá sido forjado após as Guerras Pérsicas, provavelmente na década <strong>de</strong> 470-<br />

460 a.C. Sab<strong>em</strong>os que esta variante do mito conheceu gran<strong>de</strong> popularida<strong>de</strong><br />

nos séculos V-IV a.C., durante os quais foi tratada não só por historiadores 107 ,<br />

mas também por oradores 108 (como Isoc. 4. 68-70, 7. 75, 12. 193), que não<br />

punham <strong>em</strong> causa a veracida<strong>de</strong> da invasão e cujo principal intuito era fazer o<br />

panegírico <strong>de</strong> Atenas.<br />

Por conseguinte, as Amazonas passaram a ser vistas como uma força<br />

invasora, uma ameaça bárbara vinda do Oriente, o que permite estabelecer um<br />

paralelo com os Persas e com a invasão da Grécia por eles protagonizada.<br />

O episódio das Amazonas acaba por assumir uma conotação política,<br />

já que permite sublinhar os valores helénicos, quer através da análise do<br />

comportamento <strong>de</strong> Antíope, quer do das Amazonas enquanto grupo. No<br />

primeiro <strong>caso</strong>, Antíope surge como uma Amazona f<strong>em</strong>inizada e helenizada,<br />

que acolhe Teseu 109 aquando da sua incursão a T<strong>em</strong>iscira. Apaixonada pelo<br />

herói, vai viver para a 110 , on<strong>de</strong> respeita os costumes locais, nomeadamente<br />

a lealda<strong>de</strong> para com o marido 111 . No segundo <strong>caso</strong> (Amazonas enquanto<br />

grupo), as guerreiras surg<strong>em</strong> como invasoras <strong>de</strong>rrotadas, o que revela não só<br />

106 Como Boardman (1982: 14).<br />

107 Heródoto (9. 27), por ex<strong>em</strong>plo, evoca esta vitória como sendo mais uma das alcançadas<br />

pelos Atenienses; Helânico (FGrHist 4 F167b), por sua vez, chega a <strong>de</strong>screver o percurso que<br />

as Amazonas zeram para chegar a Atenas. Curiosamente, <strong>Plutarco</strong> (es. 27. 2) discorda da<br />

posição <strong>de</strong>ste autor.<br />

108 Cf. o test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Arr. An. 7. 13. 6, segundo o qual to<strong>dos</strong> os oradores <strong>ateniense</strong>s, ao<br />

produzir<strong>em</strong> o elogio <strong>dos</strong> solda<strong>dos</strong> mortos <strong>em</strong> combate, faz<strong>em</strong> uma menção especial à <strong>em</strong>presa<br />

<strong>dos</strong> Atenienses contra as Amazonas. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Tyrrell (1984: 13-19), que salienta<br />

o facto <strong>de</strong>, neste contexto, a motivação das Amazonas ser não o rapto <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>las, mas antes o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> suplantar a gran<strong>de</strong> fama do povo protegido pela <strong>de</strong>usa Atena (cf. Lys. 2. 5).<br />

109 Segundo Bíon <strong>de</strong> Proconeso – que <strong>Plutarco</strong> cita <strong>em</strong> es. 26.2 (FGrHist 332) –, as<br />

Amazonas eram , pelo que acolheram hospitaleiramente o herói que, <strong>em</strong> troca, lhes<br />

raptou a rainha. Trata-se <strong>de</strong> uma característica marcadamente f<strong>em</strong>inina, que se relaciona com a<br />

subserviência própria das mulheres e que é também representada pelo rapto e violação <strong>de</strong> que, na<br />

tradição mítica, são muitas vezes vítimas. Por outro lado, este adjetivo po<strong>de</strong> associar-se à forma<br />

mais liberal que as Amazonas tinham, segundo a tradição, <strong>de</strong> encarar a vida sexual. Sobre esta<br />

versão do mito, vi<strong>de</strong> Ampolo – Manfredini (1988: 242).<br />

110 A integração <strong>de</strong> alguém que é hostil à cida<strong>de</strong> permite estabelecer um paralelo com o<br />

acolhimento <strong>de</strong> estrangeiros que caracteriza Atenas, nomeadamente na tragédia. Cf. S. OC e E.<br />

HF, peças nas quais Teseu recebe como hóspe<strong>de</strong>s Édipo e Héracles.<br />

111 Menécrates conta que, durante a sua passag<strong>em</strong> com Teseu pela Bitínia, Antíope rejeitou o<br />

assédio sexual <strong>de</strong> um jov<strong>em</strong> chamado Solunte. Esta história torna-se ainda mais interessante <strong>em</strong><br />

termos políticos, porque permite associar a gura <strong>de</strong> Teseu (e, consequent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong> Atenas) à<br />

fundação da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pitópolis. Sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Menécrates, vi<strong>de</strong> Ampolo - Manfredini<br />

(1988: 242). Cli<strong>de</strong>mo (Plu. es. 27. 5) test<strong>em</strong>unha a lealda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Antíope – a qu<strong>em</strong> chama<br />

Hipólita – para com Teseu ao armar que aquela tudo fez para que as Amazonas celebrass<strong>em</strong> a<br />

paz. Um outro autor, Hégias <strong>de</strong> Trezena (FGrHist 606 F 1; cf Paus. 1. 2. 1), conta que Antíope<br />

traiu as companheiras por amor <strong>de</strong> Teseu.<br />

73

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!