17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Aventuras<br />

facto, quando retratado <strong>em</strong> vasos, o rapto <strong>de</strong> Antíope segue, por norma, as<br />

convenções iconográcas da representação do casamento grego, pois neles<br />

guram o carro nupcial, um noivo (o jov<strong>em</strong> guerreiro Teseu), que carrega a<br />

noiva nos braços 94 <strong>em</strong> direção ao carro que os conduzirá à nova casa (Atenas)<br />

e o paraninfo (Pirítoo).<br />

Este mit<strong>em</strong>a foi igualmente tratado na literatura, como no-lo test<strong>em</strong>unham,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, um fragmento <strong>de</strong> Píndaro (fr. 175 Snell 95 ) e os ecos que nos<br />

chegaram da Teseida 96 .<br />

Ora, não é difícil, a partir <strong>de</strong> tais indícios, inferir que uma das variantes 97<br />

do mito <strong>de</strong> Teseu e das Amazonas conjuga os el<strong>em</strong>entos rapto, casamento (que<br />

faz da Amazona uma <strong>ateniense</strong>), nascimento <strong>de</strong> um lho (Hipólito 98 ) e revolta<br />

provocada pelo abandono da esposa por outra mulher (o que <strong>de</strong> imediato nos<br />

faz pensar na relação <strong>de</strong> Jasão e Me<strong>de</strong>ia, preterida pelo marido <strong>em</strong> prol <strong>de</strong> uma<br />

esposa grega).<br />

O Queroneu, no entanto, relega esta versão para segundo plano e dá<br />

preferência às duas variantes que relacionam a «posse» da Amazona não com<br />

o rapto erótico, mas com investidas <strong>de</strong> cariz militar. A primeira a ser invocada<br />

– e rejeitada – por <strong>Plutarco</strong> faz da participação <strong>de</strong> Teseu (que lhe valeu<br />

Antíope como ) um el<strong>em</strong>ento menor, na medida <strong>em</strong> que o principal<br />

139). Há diversas representações <strong>de</strong> Teseu associadas a esse motivo, <strong>em</strong>bora n<strong>em</strong> todas estejam<br />

ligadas à Amazona, uma vez que o herói protagonizou outros raptos. O facto <strong>de</strong> a vítima ser<br />

uma Amazona reveste-se <strong>de</strong> um signicado especial, pois, uma vez sexualmente dominada, esta<br />

torna-se uma mulher comum e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma guerreira <strong>de</strong> caráter viril. O roubo do cinto<br />

() <strong>de</strong> Hipólita por Héracles t<strong>em</strong> uma conotação s<strong>em</strong>elhante. Importa, <strong>em</strong> primeiro lugar,<br />

recordar que o t<strong>em</strong> dupla simbologia cf. Chevalier (1994: 198-199): para as Amazonas,<br />

era sinal <strong>de</strong> excelência guerreira (Apollod. Bibl. 2. 5. 9), mas para a jov<strong>em</strong> <strong>ateniense</strong>, <strong>de</strong>spida<br />

pelo esposo na noite <strong>de</strong> núpcias, era símbolo da consumação da sua condição <strong>de</strong> mulher. Por<br />

isso, ao ser privada do seu , a rainha das Amazonas é duplamente violentada: ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po que lhe é negada a excelência guerreira, transforma-se numa mulher comum, com a qual<br />

é possível contrair casamento. Sobre esta aventura <strong>de</strong> Héracles, vi<strong>de</strong> Portela (2002: 66 sqq).<br />

94 Sobre as sugestões sexuais <strong>de</strong>sta cena, leia-se Sourvinou-Inwood (1987: 137).<br />

95 «A amazona Antíope foi raptada por Pirítoo e Teseu».<br />

96 Pouco se sabe acerca <strong>de</strong>sta epopeia que teria como t<strong>em</strong>a a vida e as aventuras do herói.<br />

Aristóteles (Po. 1451a) é a nossa referência mais antiga à Teseida e dá a enten<strong>de</strong>r que existiam<br />

vários po<strong>em</strong>as <strong>de</strong>sta natureza. De acordo com Huxley (1969: 116-122), data <strong>de</strong> nais do séc. VI<br />

a.C. e dava ênfase ao rapto da Amazona enquanto aventura amorosa. Terá sido por inuência<br />

da sua forte divulgação que o tratamento do t<strong>em</strong>a do rapto ganhou fôlego na cerâmica <strong>de</strong>sse<br />

período. Ainda que não saibamos ao certo que episódios tratava, tudo leva a crer que a Amazona<br />

era apresentada como esposa <strong>de</strong> Teseu. Sobre este assunto, leiam-se também Herter (1973: col.<br />

1046); Betalli – Vanotti (2003:100-101).<br />

97 Cf. Apollod. Epit. 1. 17.<br />

98 Cf. E. Hipp. 307-310, 581-582; Apollod. Epit. 1. 17. Segundo Pi. fr. 176 Snell, o jov<strong>em</strong><br />

chamava-se D<strong>em</strong>ofonte.<br />

71

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!