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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Teseu, não se po<strong>de</strong> dizer que ele tenha sujado pessoalmente<br />

as mãos <strong>de</strong> sangue, no entanto, é o causador da morte do progenitor que, ao<br />

avistar a ban<strong>de</strong>ira negra (símbolo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraça) e não a branca (que <strong>de</strong>veria<br />

anunciar o regresso com vida do herói), não suportou o <strong>de</strong>sgosto e, <strong>de</strong>sesperado,<br />

se precipitou no mar que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então t<strong>em</strong> o seu nome 87 . Para <strong>Plutarco</strong>, esta<br />

levianda<strong>de</strong> do jov<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve-se à alegria excessiva que sentia, mas há autores<br />

(como D. S. 4. 61. 5; Apollod. Epit. 1. 10; Hyg. Fab. 43) que atribu<strong>em</strong> o<br />

esquecimento à dor sentida por ter abandonado Ariadne 88 .<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da justicação apontada para o lapso <strong>de</strong> Teseu, o certo<br />

é que a sua associação a uma distração e não a um golpe direto é re<strong>de</strong>ntora da<br />

imag<strong>em</strong> do herói. Deste modo, <strong>em</strong>bora acabe por cumprir (ainda que <strong>de</strong> forma<br />

atenuada) as etapas tradicionais <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> narrativas, Teseu é aliviado <strong>de</strong><br />

uma culpa que o teria impossibilitado <strong>de</strong> exercer até ao m a sua missão. Foi o<br />

que aconteceu a Édipo, que, penalizado pela força <strong>de</strong> castigo latente, não pô<strong>de</strong><br />

concluir a sua missão e pagou um preço altíssimo pelos seus atos. A queda do<br />

Ateniense, pelo contrário, <strong>de</strong>senha-se não como uma consequência do <strong>de</strong>stino,<br />

<strong>de</strong> uma maldição, mas das suas próprias ações, que muitas vezes não soube<br />

orientar.<br />

Enquanto rei, Teseu vive ainda duas aventuras famosas e importantes para<br />

o <strong>de</strong>senhar do seu perl <strong>de</strong> herói nacional e civilizador: a Amazonomaquia e<br />

a Centauromaquia.<br />

O episódio da Amazonomaquia 89 não fugiu à reestruturação que a<br />

generalida<strong>de</strong> do mito <strong>de</strong> Teseu foi sofrendo sobretudo até ao <strong>de</strong>albar do séc.<br />

V a.C. De início, estava relacionado com um motivo frequente na lenda <strong>de</strong><br />

Teseu: o rapto <strong>de</strong> mulheres 90 . Disso nos dão test<strong>em</strong>unho fontes iconográcas 91 ,<br />

nomeadamente na cerâmica ática produzida entre 520 e 480 a.C., on<strong>de</strong> o<br />

rapto <strong>de</strong> Antíope 92 surge quer como variante do motivo iconográco do rapto<br />

erótico <strong>de</strong> uma 93 , quer como variante do motivo do casamento. De<br />

87 Sobre os na Vida <strong>de</strong> Teseu, vi<strong>de</strong> infra pp. 99-105.<br />

88 Sobre o relacionamento <strong>de</strong> Teseu e Ariadne, vi<strong>de</strong> infra p. 79 sqq.<br />

89 es. 26-28. As diferentes versões do mito encontram-se elencadas e analisadas <strong>em</strong><br />

Boardman (1982: 1-28) e <strong>em</strong> Portela (2002). Sobre a tradição literária e iconográca que se<br />

pren<strong>de</strong> a este mit<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> igualmente Brommer (1972: 110-114).<br />

90 O mesmo suce<strong>de</strong>u a Ariadne, Helena (vi<strong>de</strong> infra p. 85 sqq) e Perséfone (vi<strong>de</strong> infra p.<br />

89 sqq). A propósito do rapto <strong>de</strong> mulheres por Teseu e seu tratamento iconográco, vi<strong>de</strong><br />

Sourvinou-Inwood (1987: 131-153).<br />

91 Este motivo estava igualmente tratado no frontão oci<strong>de</strong>ntal do t<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Apolo <strong>em</strong><br />

Erétria. Vi<strong>de</strong> Boardman (1982: 8 sqq).<br />

92 O nome <strong>de</strong>sta Amazona varia consoante as fontes. É Antíope para, entre outros autores,<br />

D. S. 4. 28. 1; Paus. 1. 2. 1, 1. 41. 7; Pi. frs 175, 176 Snell; também é conhecida por Hipólita<br />

(Cli<strong>de</strong>m. FGrHist 323 F 18; Isoc. 12. 193); segundo Apolodoro (Epit. 1. 16, 5. 2), chama-se<br />

Melanipe ou Glauce.<br />

93 Importa não esquecer que, no plano do mito, raptos como os <strong>de</strong> Tétis por Peleu e o <strong>de</strong><br />

Perséfone por Ha<strong>de</strong>s funcionam como paradigmas do casamento. Cf. Sourvinou-Inwood (1987:<br />

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