17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Aventuras<br />

mais uma vez, contrariando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> um <strong>dos</strong> progenitores 85 –, põe <strong>de</strong> vez<br />

m às hesitações <strong>dos</strong> Atenienses que ainda não estavam habitua<strong>dos</strong> a vê-lo<br />

como um <strong>dos</strong> seus e que achavam injusto que o lho do causador daquele<br />

castigo não fosse elegível para o sorteio. É que este argumento, esta prova<br />

<strong>de</strong> altruísmo e <strong>de</strong> amor pelo seu povo faz<strong>em</strong> com que Teseu consiga apagar<br />

<strong>de</strong>nitivamente da m<strong>em</strong>ória <strong>dos</strong> concidadãos o que há <strong>de</strong> controverso na sua<br />

orig<strong>em</strong>.<br />

O el<strong>em</strong>ento divino <strong>de</strong>ste episódio também se relaciona com essa<br />

necessida<strong>de</strong> que Teseu sentia <strong>de</strong> contribuir para a felicida<strong>de</strong> e para o b<strong>em</strong>-estar<br />

<strong>dos</strong> compatriotas. Não nos po<strong>de</strong>mos esquecer <strong>de</strong> que qualquer crime <strong>de</strong> sangue<br />

(neste <strong>caso</strong>, o que fora cometido contra Andrógeo) polui o solo sobre o qual<br />

é <strong>de</strong>rramado. Torna-se, então, imperioso proce<strong>de</strong>r à puricação exigida pela<br />

divinda<strong>de</strong>. Teseu surge, neste contexto, como o re<strong>de</strong>ntor que, patrocinado por<br />

Apolo (es. 18), liberta Atenas <strong>de</strong>ssa «dívida».<br />

Esta aventura permite ainda ao biógrafo realçar, através da comparação<br />

entre o comportamento egoísta <strong>de</strong> Egeu e o altruísta <strong>de</strong> Teseu, a vocação<br />

política do herói que põe o b<strong>em</strong> do povo à frente do seu. E, <strong>em</strong>bora não se diga<br />

<strong>de</strong> forma explícita, é mais uma oportunida<strong>de</strong> que o autoconante Teseu – que<br />

promete ao pai voltar são e salvo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> livrar os Atenienses do agelo –<br />

encontra para saciar a sua se<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação, <strong>de</strong> aventura.<br />

Como é na sequência <strong>de</strong>sta vitória que Teseu ace<strong>de</strong> ao po<strong>de</strong>r, não é difícil<br />

estabelecer mais um paralelo entre este e Édipo. Na verda<strong>de</strong>, ambos os heróis,<br />

para se tornar<strong>em</strong> reis, tiveram <strong>de</strong> provocar a morte <strong>dos</strong> pais e vencer os monstros<br />

que atormentavam os seus concidadãos 86 . De resto, um e outro redimiram as<br />

suas cida<strong>de</strong>s do sangue <strong>de</strong>rramado que lhes poluía o solo, trazendo-lhes, assim,<br />

tranquilida<strong>de</strong>, paz e progresso.<br />

partilham) e que põ<strong>em</strong> o interesse coletivo acima das próprias vidas. Importa salientar que, por<br />

norma, tais jovens têm sangue real, que simboliza o espírito <strong>de</strong> doação que <strong>de</strong>veria caracterizar<br />

to<strong>dos</strong> aqueles que se encontram à frente <strong>de</strong> um povo, cujos interesses <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />

todo o custo. Não admira assim que o sacrifício <strong>de</strong> tais vítimas, mais do que pieda<strong>de</strong>, suscite<br />

admiração. A serenida<strong>de</strong> que costumam <strong>de</strong>ixar transparecer é também ela uma característica<br />

<strong>de</strong> Teseu que, como sab<strong>em</strong>os, chega a dar garantias <strong>de</strong> regressar com vida e <strong>de</strong> pôr m ao<br />

sofrimento <strong>de</strong> Atenas. Para uma informação mais completa sobre o t<strong>em</strong>a do sacrifício humano<br />

e seu tratamento literário e dramático, leiam-se, para além do artigo já citado, Wilkins (1990,<br />

117-194); Bonnachère (1994); Silva (2005: 125-165).<br />

85 Quando <strong>de</strong>cidiu dirigir-se por terra a Atenas, também o fez contrariando a mãe (e o avô).<br />

Vi<strong>de</strong> supra p. 54.<br />

86 Este é um tópico frequente nas narrativas sobre as vidas <strong>de</strong> fundadores. Vi<strong>de</strong> supra p. 51,<br />

nota 7. A morte do rei às mãos do jov<strong>em</strong> príncipe que regressa está relacionada com o motivo da<br />

viag<strong>em</strong> iniciática (vi<strong>de</strong> supra p. 58, n. 40, e p. 65, n. 69) e simboliza a iniciação na ida<strong>de</strong> adulta <strong>de</strong><br />

uma nova geração. Segundo Genep (1902: 122), representa ainda a <strong>de</strong>struição do passado. Por<br />

isso, o acesso do jov<strong>em</strong> Teseu ao po<strong>de</strong>r prenuncia uma mudança, uma renovação da socieda<strong>de</strong>,<br />

que, como sab<strong>em</strong>os, revelar-se-á uma verda<strong>de</strong>ira revolução <strong>em</strong> termos do funcionamento da vida<br />

política (no sentido etimológico do termo) <strong>de</strong> Atenas.<br />

69

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!