17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Aventuras<br />

coaduna com os seus objetivos. Neste <strong>caso</strong>, opta pela mais antiga (conservada<br />

pelos atidógrafos), que apresenta esta aventura como uma opção voluntária <strong>de</strong><br />

alguém que quer alcançar a popularida<strong>de</strong> entre os concidadãos 78 . Deste modo,<br />

<strong>Plutarco</strong> consegue conciliar a se<strong>de</strong> que o herói tinha <strong>de</strong> enfrentar obstáculos e<br />

<strong>de</strong> estar ocupado ( – es. 14. 1) com a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> conquistar a simpatia e a conança <strong>dos</strong> Atenienses que o viam como um<br />

estrangeiro e não como um <strong>de</strong>les.<br />

Há um aspeto importante a notar a propósito <strong>de</strong>stes «trabalhos áticos»:<br />

Teseu vence, mas já não mata os inimigos (n<strong>em</strong> os Palântidas, n<strong>em</strong> o Touro<br />

<strong>de</strong> Maratona, que traz com vida para oferecer <strong>em</strong> sacrifício aos <strong>de</strong>uses).<br />

Tal comportamento, que põe <strong>de</strong> parte o barbarismo e contrasta com o do<br />

herói nas aventuras que prece<strong>de</strong>ram a sua chegada a Atenas, é sinónimo <strong>de</strong><br />

autodomínio e revela um progresso civilizacional e cívico: antes <strong>de</strong> chegar a<br />

faz um esforço civilizacional, <strong>em</strong> Atenas assume um comportamento<br />

político. D<strong>em</strong>ais, Teseu surge como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> organizada,<br />

com <strong>de</strong>uses protetores que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser homenagea<strong>dos</strong> e aos quais se reconhece<br />

um ascen<strong>de</strong>nte, como no-lo <strong>de</strong>monstra o facto <strong>de</strong> o herói oferecer o touro <strong>em</strong><br />

sacrifício.<br />

O episódio do Minotauro 79 , o terceiro e último no percurso <strong>de</strong> Teseu para<br />

o po<strong>de</strong>r, apresenta diversas versões, <strong>de</strong>correntes talvez do facto <strong>de</strong> esta ser a<br />

aventura mais famosa e uma das mais antigas <strong>de</strong> todas as que compõ<strong>em</strong> a saga<br />

<strong>de</strong>ste herói. O primeiro el<strong>em</strong>ento probl<strong>em</strong>ático pren<strong>de</strong>-se às circunstâncias<br />

que envolveram a morte <strong>de</strong> Andrógeo 80 (lho <strong>de</strong> Minos e Pasífae) na Ática.<br />

O segundo diz respeito a pormenores relativos à periodicida<strong>de</strong> do tributo 81<br />

que Atenas se viu forçada a pagar a Creta <strong>em</strong> jeito <strong>de</strong> trégua, pela guerra que<br />

Creta <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>ra contra a para vingar a morte do seu príncipe. Mas,<br />

<strong>em</strong> relação a estes el<strong>em</strong>entos, <strong>Plutarco</strong> limita-se a dizer que a maioria <strong>dos</strong><br />

autores concorda que o tributo <strong>de</strong>veria ser «pago» durante nove anos (es. 15.<br />

variante, é este episódio que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia o processo do reconhecimento, pois, quando o jov<strong>em</strong><br />

puxa da espada para sacricar o touro a Apolo Delfínio, Egeu avista-a e i<strong>de</strong>ntica-a como sua.<br />

78 O mesmo acontece com a expedição a Creta, tratada nas páginas que se segu<strong>em</strong>.<br />

79 Os primeiros vasos áticos a tratar<strong>em</strong> este t<strong>em</strong>a datam do segundo quartel do séc. VI a.C. A<br />

este episódio estão subjacentes acontecimentos históricos e ritos da antiga Creta, nomeadamente<br />

a relação do Minotauro com o Touro <strong>de</strong> Creta, a importância cultural do labirinto para os ritos<br />

liga<strong>dos</strong> ao touro e a <strong>de</strong>pendência histórica da Ática <strong>em</strong> relação à talassocracia minoica. Sobre<br />

este assunto, vi<strong>de</strong> Herter (1973: cols. 1095-1097).<br />

80 Há qu<strong>em</strong> arme que o jov<strong>em</strong> terá sido assassinado quando ia a caminho <strong>de</strong> Tebas para<br />

participar nos jogos fúnebres <strong>de</strong> Laio, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se ter sagrado primeiro vencedor das Panateneias<br />

(Apollod. Bibl. 3. 15. 7). Outros contam que Egeu, invejoso <strong>de</strong>ssa vitória, o enviou a combater<br />

o touro <strong>de</strong> Maratona, que o matou (Paus. 1. 27. 10). Há ainda qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>fenda que se tratou <strong>de</strong><br />

um crime <strong>de</strong> natureza política: ao <strong>de</strong>scobrir a amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> Andrógeo com os Palântidas – que<br />

queriam assumir o po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> Atenas –, Egeu teve medo <strong>de</strong> que o jov<strong>em</strong> cretense convencesse o<br />

pai a apoiar os lhos <strong>de</strong> Palas <strong>em</strong> uma guerra <strong>de</strong>clarada e optou por eliminá-lo (D. S. 4. 60. 5).<br />

81 Sobre esta questão, vi<strong>de</strong> Calame (1990: 132, n. 22).<br />

67

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!