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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Aventuras<br />

que uma evolução re<strong>de</strong>ntora quando passam a estar ao serviço <strong>dos</strong> heróis: mal<br />

usadas, eram vencíveis; nas mãos <strong>de</strong>les, tornam-se invencíveis.<br />

Através do recontro com Sínis, «o dobrador <strong>de</strong> pinheiros», <strong>de</strong>staca-se o<br />

facto <strong>de</strong>, s<strong>em</strong> ter experiência naquele tipo <strong>de</strong> práticas, Teseu conseguir puni-lo<br />

com o mesmo método 68 . Comprova, assim, <strong>Plutarco</strong>, à s<strong>em</strong>elhança do que diz<br />

<strong>em</strong> Per. 1-2, que a virtu<strong>de</strong> está acima <strong>de</strong> qualquer arte ou treino 69 .<br />

Da luta com Cércion, <strong>Plutarco</strong> evi<strong>de</strong>ncia o modo como Teseu conjuga<br />

habilida<strong>de</strong> intelectual e força física, o que faz com que seja não apenas o<br />

herói dotado <strong>de</strong> «força bruta», mas aquele que sabe usá-la com inteligência.<br />

E apresenta-o igualmente como um justiceiro, na medida <strong>em</strong> que <strong>de</strong>volve o<br />

po<strong>de</strong>r ao neto in<strong>de</strong>sejado que Cércion mandara expor.<br />

Esta viag<strong>em</strong> iniciática 70 contribui, assim, para reforçar a gura heroica<br />

<strong>de</strong> Teseu que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> livrar o mundo <strong>de</strong> malfeitores, se torna salvador <strong>de</strong><br />

Atenas. Como arma Cornet (2000: 42-43),<br />

«cette pr<strong>em</strong>ière phase <strong>de</strong> son parcours ajoute à son caractère: d’adolescent<br />

inexpérimenté, ésée est <strong>de</strong>venu, dans ces entreprises, où, laissé à lui-même,<br />

il a risqué sa vie, un jeune homme vigoureux, courageux, vainqueur par sa force<br />

mais aussi par sa science et son sens <strong>de</strong> la justice. Quand il arrive à Athènes, sont<br />

déjà présentes en lui les qualités du héros sauveur d’Athènes et civilisateur.»<br />

D<strong>em</strong>ais, estas aventuras estão <strong>em</strong> sintonia com a perspetiva civilizadora<br />

que os Atenienses tinham <strong>de</strong> si próprios. O facto <strong>de</strong> Teseu ter livrado o<br />

caminho <strong>dos</strong> perigos com que os viajantes se <strong>de</strong>paravam vai ao encontro do<br />

68 O recurso à pena <strong>de</strong> talião é, como já se disse, uma inuência da <strong>em</strong>ulação <strong>de</strong> Héracles. Cf.<br />

supra p. 56. Sobre o comportamento <strong>de</strong> Teseu para com Periguna, vi<strong>de</strong> infra p. 79.<br />

69 Cf. Pi. N. 3. 40.<br />

70 O motivo da viag<strong>em</strong> iniciática é frequente na literatura grega. Po<strong>de</strong>mos, a título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo,<br />

recordar a <strong>de</strong> Ulisses no regresso <strong>de</strong> Troia, a <strong>de</strong> Telémaco, que parte à procura do pai, Ulisses, e a <strong>de</strong><br />

Jasão <strong>em</strong> busca do Velo <strong>de</strong> Ouro. De um modo geral, durante essas viagens, os heróis, ainda muito<br />

jovens, ultrapassam diversas diculda<strong>de</strong>s até cumprir<strong>em</strong> o objetivo a que se haviam proposto.<br />

A tradição mitológica sugere, portanto, que terão existido na Grécia ritos <strong>de</strong> iniciação através<br />

<strong>dos</strong> quais os rapazes passavam a homens adultos, só então sendo reconheci<strong>dos</strong> como cidadãos.<br />

Não surpreen<strong>de</strong>, pois, que Jeanmaire (1939: 245) arme que o mito <strong>de</strong> Teseu é «the story of the<br />

Athenian ephebe syst<strong>em</strong>». De facto, a partir do período clássico, o herói é apresentado como um<br />

jov<strong>em</strong> efebo, que <strong>em</strong> breve será chamado a dar o seu contributo para a vida da . Já B. 18<br />

retratava o herói como um «miúdo que começa a ser <strong>hom<strong>em</strong></strong>» (– 56-<br />

57), que usava um manto (’ – 54) e que trazia uma espada ( – 47), dois el<strong>em</strong>entos<br />

típicos da indumentária <strong>de</strong> um efebo. Sobre os , leiam-se Pélékidis (1962); Marrou (1965).<br />

Importa não esquecer que a viag<strong>em</strong> a Creta também po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada um segundo ingresso na<br />

vida adulta. O facto <strong>de</strong> Teseu protagonizar duas viagens iniciáticas – uma feita por terra, outra por<br />

mar – pren<strong>de</strong>-se à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o herói se mostrar à altura <strong>de</strong> Atenas, que era simultaneamente<br />

uma potência terrestre e marítima. A iniciação <strong>de</strong> Teseu, que t<strong>em</strong> <strong>de</strong> dar provas não só <strong>de</strong> ser um<br />

<strong>ateniense</strong> <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> adulta mas também o legítimo her<strong>de</strong>iro do trono, termina com a morte do rei<br />

antecessor e com a edicação do Teseion <strong>em</strong> Atenas. A propósito da viag<strong>em</strong> iniciática <strong>de</strong> Teseu,<br />

consult<strong>em</strong>-se Walker (1995: 95-104); Calame (1990: 432-435).<br />

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