O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />
as suas qualida<strong>de</strong>s físicas, que podiam ser aplicadas a qualquer herói <strong>de</strong> bom<br />
caráter.<br />
<strong>Plutarco</strong> enumera ainda as virtu<strong>de</strong>s que os malfeitores consi<strong>de</strong>ravam<br />
<strong>de</strong>spiciendas para aqueles que se podiam impor pela força (mas que, na verda<strong>de</strong>,<br />
segundo o nosso moralista, <strong>de</strong>veriam caracterizar todo aquele que <strong>de</strong>dica a sua<br />
vida ao b<strong>em</strong> comum): o pudor (), a justiça (), a igualda<strong>de</strong> (<br />
) e a humanida<strong>de</strong> (). 63<br />
Consequent<strong>em</strong>ente, ao armar que Teseu saiu vitorioso do recontro com<br />
estes criminosos, <strong>Plutarco</strong> exacerba indiretamente não só a força física do<br />
fundador <strong>de</strong> Atenas, mas também a virtuosida<strong>de</strong> do seu caráter.<br />
Pass<strong>em</strong>os à segunda técnica. Através da análise da conduta <strong>de</strong> Teseu na<br />
interação com os malfeitores, é possível particularizar algumas das virtu<strong>de</strong>s do<br />
herói.<br />
Importa começar por recordar que algumas <strong>de</strong>ssas qualida<strong>de</strong>s (já referidas<br />
anteriormente 64 e evi<strong>de</strong>nciadas pelo herói <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>) – como a força,<br />
a corag<strong>em</strong>, a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> alma, a inteligência – e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>em</strong>ulação <strong>de</strong><br />
Héracles funcionam como móbil <strong>de</strong>stas aventuras.<br />
No que respeita ao seu comportamento <strong>em</strong> todo esse percurso, saliente-se<br />
o cumprimento do princípio que estabelecera antes <strong>de</strong> partir – só atacar <strong>em</strong><br />
legítima <strong>de</strong>fesa 65 ( ‘s<strong>em</strong> fazer mal a ninguém’; <br />
‘<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo-se <strong>dos</strong> que iniciass<strong>em</strong> a violência’)<br />
– e a forma justa como o fez, <strong>de</strong>rrotando cada um <strong>dos</strong> malfeitores com recurso<br />
às mesmas sevícias com que aqueles torturavam e dizimavam os viajantes (<br />
) 66 . Deste modo,<br />
Teseu torna evi<strong>de</strong>nte o seu sentido <strong>de</strong> justiça, a sua corag<strong>em</strong> e ardor juvenil.<br />
Recor<strong>de</strong>mos pormenores <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>stes recontros, que contribu<strong>em</strong><br />
para a caracterização quer <strong>de</strong> Teseu quer do pensamento e procedimento <strong>de</strong><br />
<strong>Plutarco</strong>.<br />
Do contacto com o primeiro «escolho», Perifetes, o herói obtém a arma<br />
que, doravante, apenas servirá o b<strong>em</strong> e que acaba por ser mais uma forma<br />
<strong>de</strong> imitar Héracles 67 . Curiosamente, estas armas/insígnias (quer a <strong>de</strong> Teseu,<br />
quer as <strong>de</strong> Héracles), que começaram por pertencer a malfeitores, sofr<strong>em</strong> como<br />
63 Nota-se, mais uma vez, a inuência do Górgias (492a-b). Cálicles <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que os que<br />
criticam o comportamento <strong>dos</strong> po<strong>de</strong>rosos que não reprim<strong>em</strong> os seus <strong>de</strong>sejos louvam «por<br />
cobardia a t<strong>em</strong>perança e a justiça», já que não po<strong>de</strong>m «dar às suas paixões satisfação completa».<br />
64 Cf. p. 52.<br />
65 Há que salvaguardar, no entanto, o facto <strong>de</strong> Teseu/<strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> que os homens<br />
maus <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser ataca<strong>dos</strong> <strong>em</strong> legítima <strong>de</strong>fesa, mas que os animais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser provoca<strong>dos</strong>. É isso<br />
mesmo que o biógrafo arma <strong>em</strong> es. 9. 2, a propósito da javalina <strong>de</strong> Crómion. Sobre este<br />
comportamento <strong>de</strong> legítima <strong>de</strong>fesa, vi<strong>de</strong> p. 128.<br />
66 Note-se a expressivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente da antítese / .<br />
67 Vi<strong>de</strong> supra p. 54 sqq. Em es. 11. 2, o comportamento do herói para com Procrustes é<br />
apresentado como resultado da inuência <strong>de</strong> Héracles.<br />
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