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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Aventuras<br />

com Perifetes 57 ; no Istmo, com Sínis; <strong>em</strong> Mégara, com a javalina <strong>de</strong> Crómion 58<br />

e Ciro (B. 18; Paus. 1. 3.1 e 1.44.8) 59 ; <strong>em</strong> Elêusis, com Cércion e, <strong>em</strong> Érino,<br />

com Procrustes.<br />

O Queroneu, como é seu hábito, aproveita o relato <strong>de</strong>stes episódios para<br />

satisfazer os seus objetivos pedagógicos, morais e biográcos, isto é, para<br />

evi<strong>de</strong>nciar as qualida<strong>de</strong>s que admira <strong>em</strong> Teseu. Recorre por isso a duas técnicas<br />

diversas: a primeira consiste <strong>em</strong> apresentar o mo<strong>de</strong>lo negativo <strong>dos</strong> malfeitores;<br />

a outra, <strong>em</strong> explorar a conduta do herói.<br />

Os bandi<strong>dos</strong> venci<strong>dos</strong> por Teseu (que <strong>Plutarco</strong> apelida <strong>de</strong> <br />

‘ladrões’ e ‘malfeitores’ 60 ) oscilam entre feras e seres a que po<strong>de</strong>mos<br />

facilmente associar a noção <strong>de</strong> gigante 61 : é que o biógrafo começa por realçar<br />

que, «naquela época» (), tais criminosos possuíam qualida<strong>de</strong>s<br />

físicas extraordinárias – eram dota<strong>dos</strong> <strong>de</strong> braços fortes (), pés<br />

velozes () e corpos robustos (), que faz<strong>em</strong> <strong>de</strong>les<br />

seres sobredota<strong>dos</strong> () e infatigáveis ().<br />

Mas <strong>de</strong> imediato revela que a opção <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>stes homens não foi a<br />

melhor: eram <strong>de</strong>sonestos, alegravam-se com uma violência orgulhosa<br />

() e aproveitavam a sua força com cruelda<strong>de</strong><br />

() para submeter (), obrigar pela força ()<br />

e <strong>de</strong>struir () to<strong>dos</strong> os que se atravessass<strong>em</strong> no seu caminho 62 . O<br />

recurso a palavras (quase todas) com conotação negativa para <strong>de</strong>screver o<br />

comportamento <strong>de</strong>stes seres contrasta com as expressões usadas para enumerar<br />

57 Segundo Herter (1939: 280), Perifetes é um acrescento tardio (nunca anterior a 460 a.C.)<br />

a este conjunto, que teria por objetivo aumentar o número <strong>de</strong> «trabalhos» <strong>de</strong> Teseu <strong>de</strong> modo a<br />

que perzess<strong>em</strong> meta<strong>de</strong> <strong>dos</strong> <strong>de</strong> Héracles.<br />

58 No <strong>caso</strong> <strong>de</strong>ste «escolho», é notório que <strong>Plutarco</strong> tenta, mais uma vez, cumprir a sua<br />

promessa <strong>de</strong> racionalizar o mito, já que aproveita para referir uma tradição segundo a qual a<br />

javalina seria uma ladra s<strong>em</strong> escrúpulos que teria morrido às mãos <strong>de</strong> Teseu (es. 9. 2). Sobre<br />

este género <strong>de</strong> procedimento, vi<strong>de</strong> supra p. 31, nota 5. Sobre este episódio, vi<strong>de</strong> Flacelière (1948:<br />

75-76).<br />

59 O Queroneu refere versões diferentes a propósito <strong>de</strong>sta gura. Importa-nos salientar a<br />

perspetiva <strong>dos</strong> Megarenses que, mais uma vez, contradiz a <strong>dos</strong> Atenienses, tal como acontece,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Per. 30, a propósito do Decreto <strong>de</strong> Mégara. Sobre esta versão, vi<strong>de</strong> Wickersham<br />

(1991: 16-31).<br />

60 es. 6. 3.<br />

61 Parece, assim, estar subjacente à apresentação <strong>de</strong>stes prevaricadores mais uma tentativa <strong>de</strong><br />

racionalização do mito.<br />

62 Neste passo (es. 6.4), é evi<strong>de</strong>nte a inuência do Górgias <strong>de</strong> Platão, diálogo no qual<br />

Cálicles <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que os mais fortes têm o direito <strong>de</strong> satisfazer as suas paixões: «aquele que<br />

quiser viver b<strong>em</strong> <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>ixar crescer à vonta<strong>de</strong> as suas paixões, s<strong>em</strong> as reprimir, e, por maiores<br />

que elas sejam, <strong>de</strong>verá ser capaz <strong>de</strong> as satisfazer graças à sua corag<strong>em</strong> e inteligência, dando-lhes<br />

tudo aquilo que elas <strong>de</strong>sejar<strong>em</strong>» (491e-492a). Segundo ele (Grg. 483a-484b), o facto <strong>de</strong> este<br />

comportamento ser consi<strong>de</strong>rado injusto resulta da tentativa <strong>dos</strong> mais fracos <strong>de</strong> anular<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r<br />

<strong>dos</strong> que lhes são superiores. A propósito do tratamento do conceito <strong>de</strong> «lei do mais forte» – cuja<br />

<strong>de</strong>fesa esteve muito <strong>em</strong> voga ao longo do século V a.C. – neste diálogo platónico, veja-se Klosko<br />

(1984: 126-139).<br />

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