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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

segundas revelam o lado negro do caráter <strong>de</strong> Teseu e, a longo prazo, acabam<br />

por precipitar a sua renúncia e afastamento da vida política.<br />

Dos «feitos heroicos» faz<strong>em</strong> parte a «limpeza» do caminho que ligava<br />

Trezena a Atenas (es. 8-11), a <strong>de</strong>rrota <strong>dos</strong> cinquenta Palântidas (es. 13),<br />

a luta com o Touro <strong>de</strong> Maratona (es. 14), a vitória sobre o Minotauro (es.<br />

15-23), a guerra contra as Amazonas (es. 26-28), a guerra entre os Lápitas<br />

e os Centauros (es. 30). Das «aventuras eróticas», o rapto <strong>de</strong> Helena e o <strong>de</strong><br />

Perséfone (es. 31).<br />

O ciclo das façanhas vividas a caminho <strong>de</strong> Atenas 53 é um <strong>dos</strong> que foi<br />

introduzido tardiamente, pois o test<strong>em</strong>unho mais antigo que se conhece a<br />

esse respeito é o po<strong>em</strong>a 18 <strong>de</strong> Baquíli<strong>de</strong>s (séc. VI-V a.C.). A inserção <strong>de</strong>sta<br />

série <strong>de</strong> aventuras respon<strong>de</strong> a algumas necessida<strong>de</strong>s estruturais <strong>de</strong>ste género<br />

<strong>de</strong> narrativas, porque permite que o jov<strong>em</strong>, cuja paternida<strong>de</strong> foi recent<strong>em</strong>ente<br />

revelada, prove o seu valor enquanto her<strong>de</strong>iro do trono, ao mesmo t<strong>em</strong>po que<br />

parte ao encontro do pai. Mas, no contexto da Atenas do século V, serve ainda<br />

para justicar a insistência na manutenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas cida<strong>de</strong>s sob a sua<br />

«proteção», já que esse tipo <strong>de</strong> vínculo havia sido estabelecido há muito por<br />

Teseu 54 . É esse o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Mégara, que se viu livre <strong>de</strong> dois agelos, a javalina <strong>de</strong><br />

Crómion e o assaltante Ciro, por intermédio do fundador <strong>de</strong> Atenas. Assim se<br />

compreen<strong>de</strong> que a tradição do seu nascimento <strong>em</strong> Trezena nunca tenha sido<br />

escamoteada, pois, como muito b<strong>em</strong> arma Mills (1997: 21 e n.80), «eseus’<br />

birth outsi<strong>de</strong> Athens is, in fact, more useful to his city than an Athenian birth<br />

would have been».<br />

Na Vida <strong>de</strong> Teseu, <strong>Plutarco</strong> segue o critério geográco tradicionalmente 55<br />

utilizado para enumerar estes 56 . Assim, o herói <strong>de</strong>para-se, <strong>em</strong> Epidauro,<br />

53 Sobre o tratamento <strong>de</strong>stas aventuras na iconograa, vi<strong>de</strong> Taylor (1981: cap. IV). Este ciclo<br />

<strong>de</strong> labores parece ser uma tentativa <strong>de</strong> colocar Teseu <strong>em</strong> posição <strong>de</strong> ombrear com Héracles, <strong>de</strong><br />

fazer do único herói ático conhecido para lá das fronteiras <strong>de</strong> Atenas um segundo Héracles. Isso<br />

mesmo no-lo suger<strong>em</strong> as s<strong>em</strong>elhanças que exist<strong>em</strong> entre as aventuras <strong>dos</strong> dois heróis: ambos<br />

participam <strong>em</strong> uma Amazonomaquia e <strong>em</strong> uma Centauromaquia; ambos <strong>de</strong>sc<strong>em</strong> ao Ha<strong>de</strong>s;<br />

ambos usam uma clava como arma; Héracles luta contra um javali, Teseu, contra uma javalina;<br />

Héracles enfrenta Anteu, Teseu, Cércion; Teseu enfrenta o Touro <strong>de</strong> Maratona que, segundo<br />

Paus. 1. 27. 9-10, é o mesmo que Héracles capturara <strong>em</strong> Creta.<br />

54 Como vimos anteriormente, esta viag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> também uma importância vital para a<br />

narrativa <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>. Vi<strong>de</strong> supra p. 58, nota 40.<br />

55 A título <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos referir que um <strong>dos</strong> poucos a não respeitar essa or<strong>de</strong>m<br />

é Pausânias, que, ao contrário <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, não preten<strong>de</strong> fazer o relato exaustivo da mesma.<br />

Por isso, as façanhas vão sendo invocadas à medida que se torna oportuno. Em Paus. 1. 3. 1 e<br />

44. 8, ocorr<strong>em</strong> alusões a Ciro; <strong>em</strong> 1. 27. 9, à javalina <strong>de</strong> Crómion; <strong>em</strong> 37. 4, a Sínis; <strong>em</strong> 38. 5, a<br />

Procrustes; <strong>em</strong> 39. 3, a Cércion. Em Paus. 2. 1. 3-4, há uma referência à javalina <strong>de</strong> Crómion, a<br />

Sínis e a Perifetes.<br />

56 Sobre a m<strong>em</strong>ória literária e iconográca relativa a estas guras, vi<strong>de</strong> Brommer (1972:<br />

3-26).<br />

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