17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

2. Aventuras<br />

Orig<strong>em</strong>, formação e reconhecimento<br />

As aventuras associadas a Teseu não têm todas a mesma antiguida<strong>de</strong> e<br />

importância. De acordo com o que nos é possível saber (através da análise<br />

<strong>dos</strong> test<strong>em</strong>unhos literários e iconográcos), os episódios mais antigos 48<br />

são os <strong>dos</strong> raptos <strong>de</strong> Ariadne, Helena e Perséfone, o do Minotauro 49 e a<br />

Centauromaquia 50 .<br />

Os Atenienses, quando enten<strong>de</strong>ram que Teseu <strong>de</strong>veria ser consi<strong>de</strong>rado o<br />

seu herói nacional, sentiram necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reestruturar o mito <strong>de</strong> modo a que<br />

o perl do fundador correspon<strong>de</strong>sse aos valores que <strong>de</strong>fendiam 51 . Importava,<br />

portanto, <strong>de</strong>ixar cair no esquecimento aventuras menos dignas e acrescentar<br />

uma ou outra que ilustrass<strong>em</strong> a sua condição <strong>de</strong> herói civilizador.<br />

Por isso, quando <strong>Plutarco</strong> redige a biograa <strong>de</strong> Teseu, existia já um leque<br />

<strong>de</strong> aventuras cuja menção era consi<strong>de</strong>rada «politicamente correta». Mas o<br />

Queroneu, que nunca olvida os seus objetivos pedagógicos, não se coíbe <strong>de</strong><br />

evocar as que eram, por norma, postas <strong>de</strong> parte por não convir<strong>em</strong> ao perl do<br />

herói (os raptos) 52 .<br />

As aventuras <strong>de</strong> Teseu po<strong>de</strong>m ser divididas <strong>em</strong> dois grupos: os feitos<br />

heroicos (que na sua maior parte são anteriores ao acesso <strong>de</strong> Teseu ao po<strong>de</strong>r) e<br />

as aventuras eróticas, quase todas posteriores a essa ascensão.<br />

É às primeiras que <strong>Plutarco</strong> dá maior ênfase, na medida <strong>em</strong> que, enquanto<br />

<strong>em</strong>presas para ajudar o povo oprimido, funcionam – na sua maioria – como<br />

argumento <strong>em</strong> favor do acesso ao po<strong>de</strong>r e põ<strong>em</strong> <strong>em</strong> evidência as qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> e do povo <strong>ateniense</strong> que caracterizam o herói. Já as<br />

48 Para uma cronologia relativa <strong>dos</strong> diferentes episódios do mito <strong>de</strong> Teseu e respetiva<br />

importância, vi<strong>de</strong> Walker (1995: 15-25); Mills (1997: 6-25).<br />

49 Talvez a mais antiga e certamente a mais popular.<br />

50 Este episódio foi um <strong>dos</strong> que prevaleceu, porque, no século V, os Centauros foram<br />

associa<strong>dos</strong> aos Bárbaros, logo a luta <strong>de</strong> Teseu contra eles representava a luta da civilização contra<br />

a barbárie.<br />

51 Nas palavras <strong>de</strong> García Gual (1990: 141), «dans nulle autre légen<strong>de</strong> n’apparaît si claire<br />

l’inuence du contexte dans la conguration <strong>de</strong> la gure du protagoniste. Nul autre personnage<br />

n’a subi, comme le héros attique, une telle modication pour <strong>de</strong>venir un modèle politique. Cet<br />

ex<strong>em</strong>ple permet <strong>de</strong> souligner <strong>de</strong>ux traits très caractéristiques <strong>de</strong>s mythes dans la tradition écrite<br />

et historique propre à la Grèce classique, et qu’on perçoit <strong>de</strong> façon signicative dans l’évolution<br />

<strong>de</strong> la légen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ésée.» Sobre a relação entre política e mito na Grécia antiga, cf. Nilsson<br />

(1972). Acerca <strong>dos</strong> valores <strong>de</strong>fendi<strong>dos</strong> pelos Atenienses e da visão que tinham <strong>de</strong> si próprios,<br />

vi<strong>de</strong> capítulo «Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong>».<br />

52 Vi<strong>de</strong> infra p. 79 sqq.<br />

61

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!