17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Orig<strong>em</strong>, formação e reconhecimento<br />

Para além <strong>de</strong> feiticeira exilada, Me<strong>de</strong>ia surge, portanto, mais uma vez<br />

como subversora do papel da mulher na família. Neste <strong>caso</strong> concreto, reexplora<br />

a paternida<strong>de</strong> masculina para alcançar os seus objetivos 43 , prometendo a Egeu<br />

ajuda na geração <strong>de</strong> <strong>de</strong>scendência <strong>em</strong> troca do asilo necessário a alguém que<br />

já não podia contar – <strong>de</strong>vido aos crimes hedion<strong>dos</strong> que praticara – n<strong>em</strong> com<br />

a família <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, n<strong>em</strong> com a conjugal. No entanto, confrontada com a<br />

presença <strong>de</strong> Teseu, tentava agora a todo o custo evitar que o rei reencontrasse<br />

o lho que <strong>de</strong>sconhecia, ou por t<strong>em</strong>er per<strong>de</strong>r o po<strong>de</strong>r que lhe advinha da<br />

inuência que exercia sobre Egeu ou por, segundo alguns, não querer pôr <strong>em</strong><br />

risco os direitos <strong>de</strong> Medo, lho que gerara do rei <strong>ateniense</strong> 44 .<br />

Todavia, antes que Me<strong>de</strong>ia conseguisse concretizar os seus planos, Teseu<br />

– que optara por não revelar a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ao pai, mas por lhe fornecer<br />

indícios que o levass<strong>em</strong> a reconhecê-lo como lho – puxou da espada, que<br />

estivera tantos anos oculta pela rocha, para cortar a carne. Pressentindo a<br />

verda<strong>de</strong>, Egeu fez com que o veneno da taça <strong>de</strong>stinada ao jov<strong>em</strong> se <strong>de</strong>rramasse,<br />

e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o interrogar e abraçar, apresentou-o aos cidadãos.<br />

Quanto a Me<strong>de</strong>ia, foi expulsa <strong>de</strong> Atenas e dirigiu-se para Oriente, on<strong>de</strong><br />

terá reinado sobre a Média 45 , terra cujo nome <strong>de</strong>riva do da feiticeira 46 . Esta<br />

versão que associa a feiticeira e os Me<strong>dos</strong> <strong>de</strong>u azo a que Me<strong>de</strong>ia se transformasse<br />

<strong>em</strong> símbolo <strong>dos</strong> Persas e Teseu no herói <strong>ateniense</strong> que expulsa da Ática o<br />

inimigo bárbaro. Não nos po<strong>de</strong>mos esquecer <strong>de</strong> que Teseu era apontado como<br />

el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>cisivo para a vitória <strong>de</strong> Maratona, pois muitos armavam tê-lo<br />

visto a combater contra o inimigo. 47<br />

que, <strong>de</strong>sconhecendo os laços que os uniam, tenta envenená-lo: é que, informada <strong>de</strong> que o jov<strong>em</strong><br />

seria lho <strong>de</strong> uma relação ilícita do seu esposo Xuto, tentava a todo o custo evitar que um<br />

bastardo assumisse o po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> Atenas. Cf. E. Ion, 1177 sqq.<br />

43 Já antes lançara mão da importância que a paternida<strong>de</strong> tinha para os Gregos a m <strong>de</strong><br />

concretizar os seus objetivos. Primeiro sacricou o irmão Apsirto com o intuito <strong>de</strong> evitar que<br />

o pai continuasse a persegui-la durante a fuga com Jasão (Apollod. Bibl. 1. 9. 23-24; E. Med.<br />

1334). Mais tar<strong>de</strong>, convenceu as lhas <strong>de</strong> Pélias a esquartejar o próprio pai (pois a feiticeira<br />

zera com que acreditass<strong>em</strong> que, uma vez mergulhado numa poção mágica, o pai recuperaria a<br />

juventu<strong>de</strong>) para se vingar do rei que <strong>de</strong>saara o seu amado a roubar o Velo <strong>de</strong> Ouro e que lhe<br />

executara a família (Apollod. Bibl. 1. 9. 27). Mas a sua maior audácia é talvez a vingança contra<br />

Jasão: optou por matar os próprios lhos por saber que essa seria a única malda<strong>de</strong> que teria o<br />

efeito <strong>de</strong>sejado sobre o <strong>hom<strong>em</strong></strong> que a abandonara (E. Med. 791-817). Sobre estes episódios, vi<strong>de</strong><br />

Br<strong>em</strong>mer (1996: 83-100); Visser (1986: 149-165); López – Pociña (2002). Sobre a importância<br />

da paternida<strong>de</strong> para os Gregos, vi<strong>de</strong> Lacey (1968); Slater (1998: 155-169); Patterson (1998).<br />

44 Apollod. Bibl. 1. 9. 28; Hyg. Fab. 27.<br />

45 Cf. Paus. 2. 3. 8; D. S. 4. 55. 5, segundo o qual o po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>rá ter sido exercido pelo seu<br />

lho Medo. De acordo com D. S. 10. 27. 1, a Média terá sido fundada por Medo.<br />

46 Cf. Hdt. 7. 62.<br />

47 Cf. es. 35. 8; Paus. 1. 15. 3.<br />

59

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!