17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

com eles até que caíss<strong>em</strong> <strong>de</strong> cansaço), agiu <strong>de</strong> modo espontâneo, punindo os<br />

prevaricadores. A <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> tais valores é, como se sabe, partilhada por Teseu,<br />

que libertou a estrada que vai dar a Atenas <strong>de</strong> malfeitores, possibilitando assim<br />

o livre acesso à cida<strong>de</strong> que se apresentava como berço da civilização.<br />

Como muito b<strong>em</strong> sintetiza M. P. Nilsson (1972: 55),<br />

58<br />

“while Herakles only too often represents brute force, eseus is the Athenian<br />

youth educated in the palaestra. While the <strong>de</strong>eds of Herakles are those of an<br />

old mythical hero who slays ferocious beasts, eseus puts down highwaymen<br />

and robbers 38 , en<strong>em</strong>ies of a peaceful and civilized life.”<br />

Depois <strong>de</strong> narradas as aventuras pelas quais Teseu passou até chegar a<br />

Atenas (es. 8-12) 39 , <strong>Plutarco</strong> conta-nos como foi o primeiro encontro do<br />

herói com o pai. Naquela época, Egeu vivia com Me<strong>de</strong>ia 40 , porque esta lhe<br />

havia garantido que, com a ajuda das suas mezinhas, teria <strong>de</strong>scendência (isto<br />

signica, portanto, que o rei não voltara a ter notícias <strong>de</strong> Trezena). A feiticeira<br />

pressentiu a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teseu e resolveu livrar-se <strong>de</strong>le antes que a verda<strong>de</strong><br />

fosse revelada a Egeu. Para isso, convenceu o rei, velho e assustado 41 com o<br />

<strong>de</strong>scontentamento que grassava <strong>em</strong> Atenas, a recebê-lo como hóspe<strong>de</strong> e a<br />

envenená-lo durante um banquete 42 .<br />

38 De entre as aventuras <strong>de</strong> Teseu, <strong>de</strong>staca-se a da javalina <strong>de</strong> Crómion (mencionada por<br />

B. 17. 24, E. Supp. 316-317; D. S. 4. 59. 4; Paus. 2. 1. 3; Apollod. Epit. 1. 1; Hyg. Fab. 38), a<br />

única que o mostra <strong>em</strong> confronto com uma gura não humana. <strong>Plutarco</strong>, contudo, refere-se a<br />

uma versão racionalista do mito, que faz <strong>de</strong>sse ser uma mulher, mas não indica qualquer fonte.<br />

Flacelière (1948: 76) sugere que o biógrafo terá seguido uma versão <strong>de</strong> Filócoro (FGrHist 328<br />

F 17), autor que, a propósito do Minotauro, também avança uma versão mais racional (cf. es.<br />

16. 1). Sobre a racionalização <strong>dos</strong> motivos, vi<strong>de</strong> supra p. 32.<br />

39 Este t<strong>em</strong>a encontra-se <strong>de</strong>senvolvido entre as páginas 61-67.<br />

40 Na sequência <strong>de</strong> uma promessa que, segundo E. Med. 708-758, teria sido feita por Egeu<br />

(não só por amiza<strong>de</strong>, mas também <strong>em</strong> troca da solução para as suas diculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> procriar)<br />

antes <strong>de</strong> aquela ser expulsa <strong>de</strong> Corinto por Creonte. Sobre esta cena da Me<strong>de</strong>ia, leia-se, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, Dunkle (1969: 97-107).<br />

41 Embora <strong>Plutarco</strong> apenas mencione a ameaça interna que preocupava Egeu, B. 18. 30 e<br />

Apollod. Epit. 1. 5 dão-nos test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> que o monarca t<strong>em</strong>ia per<strong>de</strong>r o trono para o estrangeiro.<br />

Como sab<strong>em</strong>os, este medo não é infundado, pois Egeu morre (ainda que indiretamente) às mãos<br />

do lho, como Piteu previra ao interpretar o oráculo. Vi<strong>de</strong> supra p. 51, n. 7. O motivo da sucessão<br />

por um príncipe que acaba <strong>de</strong> fazer uma viag<strong>em</strong> iniciática é, também ele, recorrente na literatura<br />

grega. A sua estrutura costuma ser a seguinte: um jov<strong>em</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong> uma viag<strong>em</strong> durante a qual<br />

supera diculda<strong>de</strong>s ou cumpre o seu objetivo; ao ter conhecimento <strong>de</strong>ssa aventura, o rei ca com<br />

medo do mancebo, que acaba por se revelar o legítimo her<strong>de</strong>iro do trono e por causar a morte<br />

do «velho rei». Além do <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Teseu, po<strong>de</strong>mos recordar o <strong>de</strong> Jasão: Pélias vê o oráculo que<br />

lhe predissera a usurpação do trono cumprido quando Jasão regressa da missão <strong>de</strong> que o rei o<br />

incumbira e, através <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia, provoca a morte do monarca para vingar não só a «tarefa» que<br />

Pélias impusera ao argonauta, mas também o assassínio <strong>dos</strong> familiares <strong>de</strong> Jasão. Sobre o motivo<br />

da viag<strong>em</strong> iniciática, vi<strong>de</strong> infra p. 65.<br />

42 Este episódio traz-nos à m<strong>em</strong>ória um outro reconhecimento que também envolve<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Erecteu e venenos. No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Íon, é a própria mãe (Creúsa, lha <strong>de</strong> Erecteu),

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!