O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Orig<strong>em</strong>, formação e reconhecimento<br />
o extermínio <strong>de</strong> seres que molestavam as populações locais 21 ), era vivido por<br />
Teseu com mais intensida<strong>de</strong>, na medida <strong>em</strong> que ambos partilhavam a mesma<br />
ascendência pelo lado materno 22 .<br />
Para ilustrar melhor o sentimento que assaltava o espírito <strong>de</strong> Teseu, o<br />
biógrafo invoca uma anedota célebre, segundo a qual T<strong>em</strong>ístocles costumaria<br />
dizer que o troféu <strong>de</strong> Milcía<strong>de</strong>s o impedia <strong>de</strong> dormir 23 e, logo a seguir, <strong>de</strong>screve<br />
como Teseu vivia atormentado pela ânsia <strong>de</strong> mostrar a si e aos outros que não<br />
era inferior ao primo. Como no-lo diz <strong>Plutarco</strong> (es. 6. 9):<br />
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“Do mesmo modo Teseu, que admirava a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Héracles, sonhava <strong>de</strong> noite<br />
com as suas ações e, <strong>de</strong> dia, a <strong>em</strong>ulação tornava-o nervoso e inquieto, levando-o<br />
a pensar nos mesmos feitos.”<br />
Assim, como a oportunida<strong>de</strong> com que se <strong>de</strong>parava – <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, à s<strong>em</strong>elhança<br />
<strong>de</strong> Héracles, tornar-se um herói civilizador 24 , libertando as populações das<br />
quatro. Estranhando o facto, os Atenienses procuraram justicar essa discrepância, aduzindo o<br />
argumento test<strong>em</strong>unhado por E. HF 1328-33. Cf. Plu. es. 35. 3 (vi<strong>de</strong> infra pp. 90-91). Sobre<br />
este assunto, consult<strong>em</strong>-se Woodford (1971: 211-225) e Walker (1995: 20-24), que faz uma<br />
síntese <strong>dos</strong> diferentes estu<strong>dos</strong> que abordam a questão do culto <strong>de</strong> Teseu.<br />
21 Com efeito, expurgar o mundo <strong>dos</strong> perigos primitivos <strong>de</strong> modo a torná-lo habitável e a<br />
permitir uma verda<strong>de</strong>ira civilização é o sentido das aventuras <strong>de</strong>stes heróis, responsáveis pelas<br />
primeiras cida<strong>de</strong>s ou culturas humanas.<br />
22 Etra e Alcmena eram primas germanas, pois eram lhas <strong>dos</strong> irmãos Piteu e Lisídice,<br />
respetivamente. Sobre este parentesco, vi<strong>de</strong> E. Heracl. 207-212, 224, versos nos quais Iolau<br />
recorda os laços <strong>de</strong> sangue () existentes entre os lhos <strong>de</strong> Teseu e os <strong>de</strong> Héracles para<br />
suplicar auxílio para os últimos. É curioso notar que <strong>Plutarco</strong> prefere chamar a atenção apenas<br />
para a ascendência humana, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da divina (para escamotear mais um el<strong>em</strong>ento<br />
fantástico da narrativa). Mas, na verda<strong>de</strong>, Teseu e Héracles também eram primos por parte<br />
<strong>dos</strong> pais: o primeiro era lho <strong>de</strong> Poséidon, o segundo, <strong>de</strong> Zeus (cf. Isoc. 10. 23). Ainda que nos<br />
Heraclidas se dê especial ênfase à relação <strong>de</strong> consanguinida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> gratidão existentes entre<br />
Héracles e Teseu para justicar a forte ligação do herói pan-helénico com Atenas, sab<strong>em</strong>os<br />
que tal também se <strong>de</strong>ve a outros motivos. Por um lado, corria que Héracles tivera um papel<br />
<strong>de</strong>terminante na vitória <strong>de</strong> Maratona (como no-lo test<strong>em</strong>unha Paus. 1. 15. 3, ao armar que<br />
no Pórtico Pintado (que data <strong>de</strong> ca. 455 a.C. e terá sido mandado erigir por um parente <strong>de</strong><br />
Címon, chamado Pisíanax) estavam representa<strong>dos</strong> Teseu a sair do solo, Atena e Héracles; ou<br />
Hdt. 6. 108.1, segundo o qual os Atenienses terão acampado no Heracleion <strong>de</strong> Maratona antes<br />
da refrega). Por outro, não nos po<strong>de</strong>mos esquecer <strong>de</strong> que Héracles era para os jovens <strong>ateniense</strong>s<br />
o paradigma <strong>de</strong> atleta e o instigador do espírito agónico necessário à vida política na . A<br />
propósito <strong>de</strong>sta t<strong>em</strong>ática, consulte-se, e. g., Wilkins (1990: 329-339).<br />
23 es. 6. 9. <strong>Plutarco</strong> refere esta mesma anedota outras vezes, nomeadamente <strong>em</strong> <strong>em</strong>. 3.<br />
4, Moralia 84B, 92C, 184F, 552B e 800B. Esta vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer mais e melhor é tipicamente<br />
<strong>ateniense</strong>. Cf. capítulo «Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong>», p. 121.<br />
24 Vi<strong>de</strong> p. 57.<br />
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