17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

cida<strong>de</strong> 17 . Assim, é como se a menção a Poséidon não fosse mais do que um<br />

estratag<strong>em</strong>a para evitar perguntas sobre o verda<strong>de</strong>iro pai, ao mesmo t<strong>em</strong>po que<br />

fazia com que o povo olhasse para o seu neto com especial <strong>de</strong>ferência.<br />

Descoberta a verda<strong>de</strong>, aquele que haveria <strong>de</strong> ser responsável pelo sinecismo<br />

<strong>de</strong> Atenas anui a ir ter com Egeu, mas <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> fazê-lo por terra e não por mar,<br />

contrariando assim os conselhos da mãe e do avô, que preferiam que seguisse<br />

pelo percurso mais seguro. Contudo, não estamos perante um mero capricho<br />

<strong>de</strong> um jov<strong>em</strong> t<strong>em</strong>erário e rebel<strong>de</strong>. Pelo contrário, a opção pelo caminho mais<br />

perigoso é a <strong>de</strong>cisão pon<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> um mancebo com três objetivos nobilíssimos<br />

e b<strong>em</strong> <strong>de</strong>ni<strong>dos</strong>: por um lado, ser motivo <strong>de</strong> orgulho para o pai (algo que não<br />

conseguiria se «fugisse» por mar); por outro, igualar Héracles nas façanhas que<br />

inevitavelmente teria <strong>de</strong> cometer; e, por m, fomentar o progresso, limpando o<br />

território da selvajaria que aí grassava e impondo uma nova or<strong>de</strong>m.<br />

Iniciava-se, assim, a terceira fase da educação <strong>de</strong> Teseu – até então<br />

assegurada, no seio da família materna, pelo próprio avô e pelo pedagogo<br />

Cónidas 18 –, assente na <strong>em</strong>ulação com o lho <strong>de</strong> Alcmena 19 .<br />

Este momento – e a viag<strong>em</strong> <strong>em</strong> si mesma (es. 8-11) – é <strong>de</strong> crucial<br />

importância não só para <strong>de</strong>monstrar como o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>em</strong>ulação po<strong>de</strong> ser<br />

um fator <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> conduta, mas também para construir a imag<strong>em</strong><br />

que <strong>Plutarco</strong> preten<strong>de</strong> veicular do herói. É com esse intuito que o biógrafo<br />

discorre, durante quase dois capítulos, sobre a imensa admiração que Teseu<br />

nutria por Héracles. Tal apreço, que a generalida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> Gregos sentia pelo<br />

herói 20 que levara a cabo missões tidas como impossíveis (<strong>de</strong> entre as quais<br />

17 De tal modo que Trezena recebe, por vezes, o nome <strong>de</strong> Posidónia. A inuência do <strong>de</strong>us<br />

na vida local é igualmente test<strong>em</strong>unhada pelo aparecimento do tri<strong>de</strong>nte no verso <strong>de</strong> algumas<br />

moedas catalogadas <strong>em</strong> Poole (1873-1927, passim).<br />

18 Além <strong>de</strong> Hsch. s. v. (que o grafa sob a forma ), parece ser <strong>Plutarco</strong> o único<br />

test<strong>em</strong>unho sobre o nome e intervenção <strong>de</strong>sta personag<strong>em</strong>. O papel <strong>de</strong> Cónidas na formação<br />

do herói <strong>de</strong>ve ter sido realmente muito importante, porque, segundo es. 4, ainda no séc. I d.C.<br />

era homenageado com o sacrifício <strong>de</strong> um carneiro na véspera das Teseias (festa celebrada <strong>em</strong><br />

honra <strong>de</strong> Teseu no dia 8 <strong>de</strong> Pianépsion). O biógrafo chega a comentar que essa homenag<strong>em</strong> é<br />

mais justa do que a feita ao escultor Silânio (séc. IV a.C.) e ao pintor Parrásio (séc. V-IV a.C.),<br />

que produziram imagens <strong>de</strong> Teseu. Tal posição não surpreen<strong>de</strong>, pois t<strong>em</strong> por base a distinção<br />

entre obras e artíces, que o Queroneu <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Per. 1. 4 - 2. 1: o facto <strong>de</strong><br />

admirarmos as primeiras não nos obriga a admirar e <strong>em</strong>ular os seus autores. Sobre as Teseias,<br />

vi<strong>de</strong> Parke (1977: 82-83); Simon (1983). De acordo com Toeper (1889: 172, n. 1), Cónidas<br />

terá sido o antepassado do <strong>de</strong>mo ático conhecido por .<br />

19 Sobre a importância da <strong>em</strong>ulação <strong>em</strong> <strong>Plutarco</strong>, leiam-se, e.g., Pérez Jiménez (2002:<br />

105-114); Frazier (1996).<br />

20 Esse apreço materializou-se num culto tão abrangente <strong>em</strong> termos geográcos quanto<br />

as aventuras <strong>de</strong> Héracles. Não admira, pois, que Pausânias mencione, ao longo da sua obra,<br />

diferentes t<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>dica<strong>dos</strong> ao lho <strong>de</strong> Zeus e <strong>de</strong> Alcmena (cf. 1. 19. 3, 2. 10. 1, 2. 11. 8, 3.<br />

15. 3, 4. 23. 10, 4. 30. 1, 6. 21. 3, 7. 5. 5, 8. 32. 3, 9. 11. 4, 9. 11. 6, 9. 24. 3, 9. 26. 1, 9. 27. 6-8, 9.<br />

32. 2 e 9. 32. 4, 9. 38. 6). Na verda<strong>de</strong>, mesmo <strong>em</strong> Atenas – que segundo Filócoro (FGrHist 328<br />

F 18) era o único centro on<strong>de</strong> se prestava culto a Teseu –, Héracles era muito mais popular do<br />

que o fundador, pelo que possuía diversos locais <strong>de</strong> veneração, enquanto Teseu apenas tinha<br />

54

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!