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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte III - A Vida <strong>de</strong> Teseu<br />

mais <strong>em</strong>penho se coloca <strong>em</strong> seguir o conselho <strong>dos</strong> <strong>de</strong>uses para evitar uma<br />

calamida<strong>de</strong>, mais se acelera o cumprimento do <strong>de</strong>stino. É que, conhecedor<br />

do oráculo, o Pelópida vê nessa previsão uma excelente oportunida<strong>de</strong> para<br />

alargar o seu po<strong>de</strong>r através <strong>de</strong> um futuro neto 8 . Por isso, como uma alcoviteira,<br />

fomenta o relacionamento entre Egeu e a própria lha, Etra, do qual resulta a<br />

gravi<strong>de</strong>z que o rei <strong>de</strong> Atenas <strong>de</strong>veria ter evitado 9 .<br />

No entanto, ao contrário do que aconteceu a Ciro e a Édipo, durante a<br />

infância, Teseu só é privado da companhia do pai 10 , pois como era <strong>de</strong> prever,<br />

dadas as circunstâncias da sua concepção, a família materna acolheu-o <strong>de</strong><br />

braços abertos.<br />

Ora, <strong>de</strong>srespeitada a proibição e nascida a criança, é forçoso que, mais dia,<br />

menos dia, a verda<strong>de</strong> sobre a sua orig<strong>em</strong> seja revelada. O reconhecimento <strong>de</strong><br />

Teseu 11 apenas é passível <strong>de</strong> comparação (<strong>de</strong> entre os ex<strong>em</strong>pla que analisámos<br />

anteriormente) com o que aconteceu aos três lhos que Héracles gerou <strong>de</strong> um<br />

ser híbrido, misto <strong>de</strong> mulher e <strong>de</strong> serpente 12 . Do mesmo modo que Héracles<br />

conara à mãe <strong>dos</strong> seus lhos objetos que iriam mais tar<strong>de</strong> permitir saber qual<br />

<strong>de</strong>les era digno <strong>de</strong> subir ao trono da Cítia, também Egeu, <strong>de</strong>sconando que<br />

Etra tivesse engravidado, engendra um plano que lhe permitiria conrmar a<br />

paternida<strong>de</strong> da criança. Por isso, quando esta enten<strong>de</strong> que o lho – por causa<br />

da corag<strong>em</strong> (), gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> alma (), força (<br />

) e inteligência () que <strong>de</strong>monstrava possuir 13 – já<br />

8 De acordo com Flacelière (1948: 74), Piteu terá interpretado o oráculo da Pítia do seguinte<br />

modo: se, contrariando a profecia, Egeu tivesse um lho, este seria responsável pela sua morte<br />

e suce<strong>de</strong>r-lhe-ia no trono <strong>de</strong> Atenas. O certo é que, ao contrário <strong>de</strong> Ciro e <strong>de</strong> Rómulo, que<br />

<strong>de</strong>põ<strong>em</strong> conscient<strong>em</strong>ente o avô e o tio avô, Édipo e Teseu são responsáveis involuntários pela<br />

morte <strong>dos</strong> progenitores e pela sua própria ascensão ao trono: Édipo mata o pai (cuja i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconhecia), quando procurava evitar o cumprimento do oráculo que predizia tal episódio;<br />

Teseu é culpado da morte do pai, na medida <strong>em</strong> que se esqueceu <strong>de</strong> hastear a ban<strong>de</strong>ira branca<br />

que <strong>de</strong>veria indicar que sobrevivera ao Minotauro. O motivo do parricídio é, pois, um el<strong>em</strong>ento<br />

que surge com alguma frequência no âmbito <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> narrativas.<br />

9 Vi<strong>de</strong> supra p. 34, nota 11.<br />

10 O crescimento longe da gura paterna é um tópico frequente na narrativa da vida <strong>dos</strong> heróis<br />

fundadores. Cf. Hdt. 4. 8-10, a propósito <strong>dos</strong> lhos <strong>de</strong> Héracles, nasci<strong>dos</strong> na Cítia.<br />

11 O nome <strong>de</strong> Teseu, como aliás não é raro no âmbito <strong>de</strong>ste género <strong>de</strong> narrativas, é falante.<br />

<strong>Plutarco</strong> (es. 4. 1) dá test<strong>em</strong>unho disso, ao referir duas hipóteses para justicar a sua orig<strong>em</strong> e<br />

signicado. Segundo a primeira, provém <strong>de</strong> ‘exposição’ e está relacionado com a exposição<br />

<strong>dos</strong> . De acordo com a segunda, <strong>de</strong>corre do facto <strong>de</strong> ter sido reconhecido por<br />

Egeu () como seu lho e «instalado» na condição que lhe era <strong>de</strong>vida. Algo<br />

s<strong>em</strong>elhante acontece a Íon, cujo nome está relacionado com o oráculo <strong>de</strong> Apolo, segundo o qual<br />

seria lho <strong>de</strong> Xuto o primeiro indivíduo com o qual ele se <strong>de</strong>parasse ao sair () do t<strong>em</strong>plo<br />

(E. Ion. 535). Sobre estas e outras hipóteses avançadas para explicar a procedência do nome do<br />

herói, vi<strong>de</strong> respetivamente, Walker (1995: 89-90); Pérez Jiménez (2000: 157, n. 17).<br />

12 Hdt. 4. 8-10. Vi<strong>de</strong> «Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador», nota 37.<br />

13 Estas características (enumeradas <strong>em</strong> es. 6. 2), que o biografado possui <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>,<br />

são, segundo <strong>Plutarco</strong>, fundamentais para um bom <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>. uc. 2. 15. 2 também faz<br />

eco da inteligência e da força/vigor que Teseu possuía através da expressão <br />

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