17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador<br />

«Aqui é Atenas, a antiga cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teseu.» 1<br />

Quando aborda a gura mítica <strong>de</strong> Teseu, <strong>Plutarco</strong> procura seguir a<br />

estrutura <strong>de</strong> um retrato que não se distancie excessivamente daquele que seria<br />

provável obter se se tratasse <strong>de</strong> uma gura histórica. Mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

não consegue fugir à inuência <strong>dos</strong> padrões literários comuns à <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />

outras personagens que partilham o estatuto <strong>de</strong> fundadores <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s ou<br />

dinastias. Por isso, o Queroneu tenta – na medida do possível – manter uma<br />

estrutura s<strong>em</strong>elhante à das biograas <strong>de</strong> homens <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> cuja existência não<br />

levanta dúvidas 2 : os primeiros capítulos são consagra<strong>dos</strong> às origens, infância<br />

e educação do herói (3-5); segue-se-lhes um bloco <strong>de</strong>dicado aos principais<br />

acontecimentos que antece<strong>de</strong>m o início da sua vida pública e política (6-23);<br />

outro, <strong>de</strong>dicado às medidas que caracterizaram o seu governo (24-25); outro,<br />

ainda, a episódios da vida privada, que, neste <strong>caso</strong>, correspon<strong>de</strong>m a algumas<br />

das mil e uma aventuras ligadas à saga <strong>de</strong> Teseu (26-34); e, por m, um último<br />

sobre a fase nal da vida, morte, funerais e tudo o que se relaciona com a forma<br />

como o biografado permanece na m<strong>em</strong>ória do povo (35-36).<br />

É fácil vericar que uma boa parte da obra é <strong>de</strong>dicada à narrativa das<br />

aventuras <strong>de</strong> Teseu e compreen<strong>de</strong>r que isso acontece porque <strong>Plutarco</strong> não<br />

podia ignorar a tradição associada a esta gura, que se tornou o herói nacional<br />

<strong>de</strong> Atenas 3 .<br />

Importa, pois, no âmbito <strong>de</strong>ste capítulo, ter <strong>em</strong> conta o aproveitamento<br />

que o biógrafo faz <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> sobre Teseu veicula<strong>dos</strong> pela tradição. Não nos<br />

po<strong>de</strong>mos esquecer <strong>de</strong> que, no seu t<strong>em</strong>po, <strong>Plutarco</strong> dispunha <strong>de</strong> diversas<br />

fontes (muitas das quais hoje <strong>de</strong>sconhecidas e/ou perdidas), nomeadamente<br />

da m<strong>em</strong>ória iconográca (preservada nas pinturas ou <strong>em</strong> vasos, esculturas e<br />

monumentos) e da m<strong>em</strong>ória literária (como os po<strong>em</strong>as 17 e 18 <strong>de</strong> Baquíli<strong>de</strong>s;<br />

o Hipólito, o Hércules e as Suplicantes, <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s; o Édipo <strong>em</strong> Colono, <strong>de</strong><br />

Sófocles; o «Elogio <strong>de</strong> Helena», <strong>de</strong> Isócrates). É também claro que <strong>Plutarco</strong><br />

tinha por hábito selecionar e organizar criteriosamente os da<strong>dos</strong> que<br />

consi<strong>de</strong>rava pertinentes para ilustrar o seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> e, neste<br />

1 Inscrição do Arco <strong>de</strong> Adriano, <strong>em</strong> Atenas (séc. II d.C.).<br />

2 Ou seja, como arma Dugas (1943: 1), trata-se <strong>de</strong> um «exposé logique qui, <strong>de</strong> la naissance à<br />

la mort du héros, raconte les épiso<strong>de</strong>s marquants <strong>de</strong> son existence; exposé qui les présente comme<br />

un bloc et n’essaie pas <strong>de</strong> reconstituer la formation <strong>de</strong> la légen<strong>de</strong>, <strong>de</strong> distinguer l’ancienneté <strong>de</strong><br />

ses éléments et d’en retracer l’évolution.»<br />

3 Sobre a evolução do mito <strong>de</strong> Teseu e suas diferentes versões, leiam-se, e. g., Graves (2004:<br />

329-377); Grimal (1992: s. v.); Calame (1990).<br />

49

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!