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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador<br />

ser o reconhecimento a conduzi-lo ao po<strong>de</strong>r, é o reconhecimento que o leva<br />

a um afastamento voluntário do trono 56 . Por isso, a conquista do cetro não<br />

é, como nas outras histórias, um ato <strong>de</strong> vingança explícito e voluntário. Pelo<br />

contrário: as «provas» <strong>de</strong> acesso ao po<strong>de</strong>r superadas pelo herói ilustram<br />

com requinte a t<strong>em</strong>ática da cegueira e do relativismo do conhecimento<br />

humano 57 . Ao tentar lograr o <strong>de</strong>stino, Édipo afasta-se <strong>dos</strong> pais adotivos,<br />

mas aproxima-se <strong>dos</strong> verda<strong>de</strong>iros, precipitando, assim, o cumprimento <strong>dos</strong><br />

oráculos.<br />

A primeira prova com que se <strong>de</strong>parou é s<strong>em</strong>elhante à <strong>de</strong> outros mitos e<br />

consiste <strong>em</strong> um encontro com alguém que quer impedir o herói <strong>de</strong> prosseguir<br />

o seu caminho. Ainda que, naquele momento, Édipo e Laio ignorass<strong>em</strong> a<br />

verda<strong>de</strong>, nós sab<strong>em</strong>os que aquela era a segunda vez que o rei <strong>de</strong> Tebas tentava<br />

coartar os passos do lho. Se, a um Édipo in<strong>de</strong>feso, valera, no momento do<br />

abandono, a ajuda <strong>dos</strong> pastores, no momento do (re)encontro, ao jov<strong>em</strong>,<br />

adulto e no auge das suas forças, bastaram-lhe as próprias mãos para se livrar,<br />

sozinho, do pai e daqueles que trabalhavam às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong>le. Édipo abria, assim,<br />

involuntariamente e s<strong>em</strong> qualquer segunda intenção, o caminho para o trono<br />

que era seu por direito 58 .<br />

A <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira prova faz <strong>de</strong>le, aos olhos do povo, o sucessor i<strong>de</strong>al para o rei<br />

assassinado. É que não só se mostrou zeloso do b<strong>em</strong>-estar <strong>dos</strong> Tebanos, mas<br />

também foi o único com perspicácia suciente para respon<strong>de</strong>r com acerto à<br />

questão colocada pela Esnge, livrando a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tebas <strong>de</strong>sse monstro híbrido,<br />

meio mulher, meio leão, que <strong>de</strong>vorava to<strong>dos</strong> aqueles que por ele passavam s<strong>em</strong><br />

adivinhar o enigma 59 . Esta prova valeu-lhe, <strong>em</strong> jeito <strong>de</strong> recompensa, o cetro e<br />

a mão da rainha viúva <strong>em</strong> casamento. Mas, na verda<strong>de</strong>, aquilo que se agurava<br />

uma gran<strong>de</strong> conquista <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> que se <strong>de</strong>stacava pela inteligência mais<br />

não foi do que o concretização <strong>dos</strong> oráculos e a vericação da falta <strong>de</strong> abilida<strong>de</strong><br />

do conhecimento humano 60 .<br />

Em jeito <strong>de</strong> síntese, po<strong>de</strong>mos dizer, com base na análise que z<strong>em</strong>os, que<br />

as narrativas sobre a vida <strong>de</strong> heróis/fundadores possu<strong>em</strong> uma estrutura comum<br />

(proibição do nascimento que não é respeitada; abandono do recém-nascido;<br />

crescimento do herói no seio <strong>de</strong> uma família adotiva; revelação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>;<br />

vingança e recuperação do po<strong>de</strong>r), normalmente envolta <strong>em</strong> um espírito<br />

56 Vi<strong>de</strong> supra, p. 41, nota 40.<br />

57 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 44, nota 51.<br />

58 Cf. S. OT 800-813. A este propósito, leia-se, e. g., Segal ( 2 2001, 36 e 90 sqq.).<br />

59 Cf. S. OT 44-48, 507-511, 690-695. Ao contrário do oráculo, que causou <strong>em</strong> Édipo uma<br />

forte ansieda<strong>de</strong> e um sentimento <strong>de</strong> inexorabilida<strong>de</strong>, o enigma facilmente <strong>de</strong>cifrado <strong>de</strong>u-lhe<br />

orgulho e conança [falsos, ilusórios, é certo] na sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretar o mundo que o<br />

ro<strong>de</strong>ia. Cf. Segal ( 2 2001: 62).<br />

60 Sobre a oposição entre realida<strong>de</strong> e aparência no Rei Édipo, vi<strong>de</strong> Reinhardt (1976: 135-<br />

186).<br />

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