17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte II - Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador<br />

120). No entanto, o comportamento que teve para com Hárpago <strong>de</strong>spertou<br />

neste um sentimento <strong>de</strong> vingança tão forte que o nobre, privado do lho 51 ,<br />

<strong>de</strong>dicou o resto da sua vida a incitar no jov<strong>em</strong> o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conquistar o trono<br />

do avô (Hdt. 1. 123-124). Com efeito, não fosse a insistência <strong>de</strong> Hárpago,<br />

Ciro provavelmente nada teria feito nesse sentido, pois era o her<strong>de</strong>iro legítimo<br />

do trono da Média. No entanto, a<strong>de</strong>riu ao projeto <strong>de</strong> Hárpago e <strong>de</strong>pôs o avô,<br />

punindo assim um <strong>hom<strong>em</strong></strong> que, por amor ao po<strong>de</strong>r, além <strong>de</strong> tratar os súbditos<br />

com cruelda<strong>de</strong>, não poupava a própria família.<br />

Mas, apesar <strong>de</strong> quase ter morrido por causa do avô, Ciro não lhe fez mal,<br />

pelo contrário, permitiu que vivesse perto <strong>de</strong> si até ao m <strong>dos</strong> seus dias. Este<br />

respeito para com o vencido não <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> sentimentos provoca<strong>dos</strong> por laços<br />

<strong>de</strong> consanguinida<strong>de</strong>. É antes um comportamento característico do Rei persa,<br />

cuja benevolência <strong>em</strong> relação àqueles que <strong>de</strong>rrotava cou famosa. Basta-nos,<br />

para comprová-lo, recordar o que se passou com Creso e com Psaménito (Hdt.<br />

3. 14 sqq.).<br />

No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Rómulo e R<strong>em</strong>o (Rom. 8. 7 - 9. 1), o <strong>de</strong>senvolvimento da ação<br />

foi mais célere, mais precipitado: <strong>de</strong>scoberta a verda<strong>de</strong>, os gémeos tiveram <strong>de</strong><br />

aproveitar o fator surpresa para matar Amúlio e restituir o trono a Numitor.<br />

Não podiam, como Hárpago e Ciro, planear tudo ao pormenor, porque, uma<br />

vez <strong>de</strong>scoberta a sua existência, Amúlio tudo faria para neutralizá-los.<br />

Depois <strong>de</strong> regularizada a situação <strong>em</strong> Alba, como, apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar<strong>em</strong><br />

reinar, não quisess<strong>em</strong> fazer frente ao avô 52 , <strong>de</strong>cidiram fundar uma nova cida<strong>de</strong><br />

nas proximida<strong>de</strong>s do local on<strong>de</strong> haviam sido amamenta<strong>dos</strong> pela loba. Mas, já<br />

o vimos atrás 53 , não era possível que dois irmãos reinass<strong>em</strong> <strong>em</strong> simultâneo. Os<br />

<strong>de</strong>sentendimentos que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo surgiram a propósito da escolha do sítio<br />

exato para a xação da cida<strong>de</strong> 54 conrmaram tal impossibilida<strong>de</strong> e resultaram<br />

na morte <strong>de</strong> R<strong>em</strong>o (que, consoante as versões, terá sido assassinado pelo<br />

próprio irmão ou por um companheiro chamado Célere) e <strong>de</strong> Fáustulo. A<br />

partir <strong>de</strong> então, Rómulo tornou-se o único senhor <strong>de</strong> Roma, até ao momento<br />

<strong>em</strong> que, por questões políticas e familiares, se viu obrigado a partilhar o po<strong>de</strong>r<br />

com o rei <strong>dos</strong> Sabinos 55 .<br />

A história <strong>de</strong> Édipo difere, nesta última fase, sobr<strong>em</strong>aneira, das <strong>de</strong><br />

Ciro e <strong>dos</strong> gémeos: é que, na <strong>de</strong> Édipo, o processo é inverso, pois, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

51 À s<strong>em</strong>elhança do que acontecera a Tiestes, Hárpago foi convidado por Astíages para<br />

um banquete cuja principal iguaria eram as carnes do lho. O caráter excessivo <strong>de</strong> Astíages<br />

manifestou-se, mais uma vez, após a <strong>de</strong>rrota, quando mandou <strong>em</strong>palar os Magos (Hdt. 1. 128.<br />

2). 52 <strong>Plutarco</strong> (Rom. 9. 2-3) levanta a hipótese <strong>de</strong> a criação <strong>de</strong> uma nova cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>correr da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alojar e proteger escravos e criminosos que se haviam juntado a eles.<br />

53 Vi<strong>de</strong> supra p. 41, nota 37.<br />

54 Cf. Rom. 9. 4 -10. 2.<br />

55 Sobre o rapto das Sabinas e a guerra com este povo, vi<strong>de</strong> Rom. 14-19.<br />

44

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!