17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador<br />

quer o mensageiro, quer o servo, e contrariar a vonta<strong>de</strong> da esposa/mãe, que lhe<br />

pedia para não continuar a indagar sobre o passado 46 . Esta situação coaduna-se<br />

com a personalida<strong>de</strong> do herói «<strong>de</strong>cifrador <strong>de</strong> enigmas», que livrara os Tebanos<br />

da maldição da Esnge 47 e que, como «prémio», casara com a rainha <strong>de</strong> Tebas,<br />

a própria mãe. De facto, enquanto «<strong>de</strong>cifrador <strong>de</strong> enigmas», Édipo não podia<br />

<strong>de</strong>legar <strong>em</strong> mãos alheias a <strong>de</strong>scoberta da «sua» verda<strong>de</strong>.<br />

A história do Tebano (que t<strong>em</strong>os analisado sobretudo com base na versão<br />

<strong>de</strong> Sófocles) está envolta <strong>em</strong> circunstâncias trágicas. Se, por um lado, todas<br />

as suas tentativas para contrariar o <strong>de</strong>stino sa<strong>em</strong> goradas e o precipitam para<br />

a concretização da realida<strong>de</strong> que procura evitar 48 ; por outro, é dominado por<br />

uma cegueira 49 (que só na parte nal da tragédia se torna física) que impe<strong>de</strong> o<br />

afamado «<strong>de</strong>cifrador <strong>de</strong> enigmas» <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir sozinho a sua verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> saber<br />

interpretar os indícios com que se <strong>de</strong>para 50 . Nas palavras <strong>de</strong> C. Segal ( 2 2001:<br />

36), Édipo é, por isso, «the most contradictory of men in his combination of<br />

intelligence and ignorance».<br />

Regress<strong>em</strong>os ao esqu<strong>em</strong>a típico <strong>de</strong>stas narrativas. Uma vez reconheci<strong>dos</strong><br />

pelas famílias, além <strong>de</strong> se vingar<strong>em</strong> daqueles que os haviam abandonado à<br />

própria sorte, os heróis submet<strong>em</strong>-se, <strong>de</strong> livre vonta<strong>de</strong>, a <strong>em</strong>presas que, na sua<br />

perspetiva, são uma forma <strong>de</strong> ajudar o povo oprimido, mas que, no fundo, se<br />

convert<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma prova que os conduz diretamente ao po<strong>de</strong>r.<br />

Segundo a versão que Heródoto narra da história <strong>de</strong> Ciro, Astíages,<br />

encontrado o neto, cara tranquilo, pois acreditava (apoiado pelos Magos)<br />

que, como aquele já havia reinado, o oráculo já se tinha cumprido (Hdt. 1.<br />

46 Cf. S. OT, episódios 3 e 4.<br />

47 S. OT 35-36. Estamos perante o motivo, também ele comum neste género <strong>de</strong> narrativa, da<br />

superação da prova <strong>de</strong> acesso ao po<strong>de</strong>r. No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Édipo, o parricídio, que abre caminho à sua<br />

ascensão ao trono, é anterior à prova. Vi<strong>de</strong> infra p. 45.<br />

48 Vi<strong>de</strong> supra p. 34. Exist<strong>em</strong> vários estu<strong>dos</strong> que <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>a do <strong>de</strong>stino nesta<br />

tragédia. S<strong>em</strong> querermos ser exaustivos, invocar<strong>em</strong>os apenas as obras já citadas <strong>de</strong> Fialho e <strong>de</strong><br />

Segal, <strong>em</strong> cujas bibliograas é feita referência a outros títulos.<br />

49 Segundo Buxton (1980: 25), «blindness is a powerful verbal and visual metaphor for<br />

the limits of humanity, limits of which the dramatist wants his audience to be aware». É<br />

exatamente essa a principal questão levantada pela tragédia <strong>de</strong> Sófocles, segundo Vega (2003:<br />

37): « el probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> lo trágico se hace, en Sófocles, probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> conocimiento o, mejor digo,<br />

<strong>de</strong> ignorancia, esto es, no <strong>de</strong> ausencia <strong>de</strong> conocimiento, sino <strong>de</strong> un conocimiento ilusorio, <strong>de</strong><br />

aparencia que entra en tensión con la verdad. El sentimiento trágico <strong>de</strong> la existencia (que, en<br />

otros trágicos, efun<strong>de</strong> <strong>de</strong> otros contrastes: vitalidad y razón, naturaleza y cultura, etc.) surge, en<br />

Sófocles, <strong>de</strong> la conciencia <strong>de</strong> la limitación <strong>de</strong>l conocimiento humano».<br />

50 Neste contexto – como no <strong>dos</strong> oráculos ou sonhos – torna-se imprescindível saber<br />

interpretar a mensag<strong>em</strong> recebida. É que os <strong>de</strong>uses até procuram prevenir os homens <strong>dos</strong><br />

perigos que os ameaçam, estes é que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre têm capacida<strong>de</strong> para compreen<strong>de</strong>r o que<br />

lhes é dito. Como arma Buxton (1980: 36) «e oracle , gives signs (Herakleit. fr.<br />

93 DK), but oers no guarantee that fallible humanity will interpret the signs correctly». Este<br />

el<strong>em</strong>ento trágico mostra quão limitada é a condição humana. Sobre este assunto, consulte-se,<br />

também, e.g., Knox (1964); Segal ( 2 2001: 3-4 e passim); Fialho (1992) e bibliograa por eles<br />

citada.<br />

43

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!