17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador<br />

inteligência, a corag<strong>em</strong>, a audácia, a habilida<strong>de</strong> política e o tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s a<br />

que se <strong>de</strong>dicava (como a caça, o exercício físico e a <strong>de</strong>fesa <strong>dos</strong> oprimi<strong>dos</strong>) eram<br />

próprias <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> livre 37 .<br />

Contudo, o reconhecimento por parte do avô fez-se por intermédio<br />

do irmão, R<strong>em</strong>o, aprisionado pelos porqueiros <strong>de</strong> Numitor na sequência <strong>de</strong><br />

uma querela que os opôs aos <strong>de</strong> Amúlio. Na presença do neto <strong>de</strong>sconhecido,<br />

a primeira coisa que chamou a atenção <strong>de</strong> Numitor foi o aspeto, b<strong>em</strong> como<br />

as restantes características <strong>de</strong> <strong>hom<strong>em</strong></strong> nobre que, <strong>em</strong>bora <strong>em</strong> grau inferior,<br />

R<strong>em</strong>o partilhava com Rómulo. Além da estatura e força – visivelmente<br />

superiores às <strong>dos</strong> restantes jovens da sua ida<strong>de</strong> –, parecia ser resoluto,<br />

intrépido e mostrava-se (como Ciro) tranquilo diante do perigo <strong>em</strong> que se<br />

encontrava.<br />

É curioso notar que <strong>Plutarco</strong> (Rom. 7. 5) – <strong>em</strong>bora com algumas<br />

reticências, pois introduz este pormenor com a expressão ‘ao que<br />

parece’ – invoca a inuência divina <br />

“na presença <strong>de</strong> um <strong>de</strong>us que dirigia o começo das gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas”) para<br />

justicar a suspeita plantada no coração <strong>de</strong> Numitor <strong>em</strong> relação à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

do jov<strong>em</strong>. Assim, ca, mais uma vez, claro que o fator «coincidência» ou<br />

intervenção divina é um móbil fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stas<br />

histórias 38 .<br />

Interrogado por Numitor, R<strong>em</strong>o revelou-lhe prontamente o pouco que<br />

sabia, inclusive a existência <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>riam permitir o seu<br />

reconhecimento pelos progenitores: a cesta <strong>em</strong> que haviam sido coloca<strong>dos</strong><br />

e as inscrições gravadas <strong>em</strong> bronze que ela continha. Portanto, no <strong>caso</strong> <strong>dos</strong><br />

gémeos romanos, po<strong>de</strong>mos falar <strong>em</strong> dois tipos <strong>de</strong> : os «inatos»,<br />

como o aspeto físico e a personalida<strong>de</strong> (do mesmo modo que na narrativa<br />

sobre Ciro) 39 ; e os que são da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terceiros – o cesto. A esta<br />

última categoria pertenc<strong>em</strong> o cinto e o arco (símbolo da aptidão militar) que,<br />

segundo Heródoto, Hércules <strong>de</strong>ixou à mãe <strong>dos</strong> três irmãos cítios para que,<br />

através <strong>de</strong>les, ela fosse capaz <strong>de</strong> reconhecer qual <strong>dos</strong> lhos <strong>de</strong>veria permanecer<br />

consigo e reinar. 40<br />

Outro pormenor a que R<strong>em</strong>o se refere é o do seu aleitamento misterioso<br />

por uma loba. O Queroneu justica o facto <strong>de</strong> os gémeos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

Eneias passar<strong>em</strong> por lhos <strong>de</strong> Marte através <strong>de</strong>ste motivo, já que, segundo a<br />

lenda, eles foram alimenta<strong>dos</strong> por uma loba e por um picanço, dois animais<br />

37 E com predisposição inata para a vida política, já que estas são algumas das características<br />

que o Queroneu consi<strong>de</strong>ra fundamentais <strong>em</strong> alguém que preten<strong>de</strong> abraçar esta carreira.<br />

38 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra pp. 37 e 38.<br />

39 A respeito <strong>de</strong> Édipo, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que o que funciona como são as<br />

marcas nos pés, que, no entanto, apesar <strong>de</strong> atestar<strong>em</strong> a sua orig<strong>em</strong> real, serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> argumento<br />

para que ele se veja privado do po<strong>de</strong>r (ao contrário do que acontece com os outros heróis).<br />

40 Com Teseu, passa-se algo s<strong>em</strong>elhante. Vi<strong>de</strong> infra p. 53.<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!