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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador<br />

predisposição para reinar. Mesmo s<strong>em</strong> imaginar qual era a sua verda<strong>de</strong>ira<br />

orig<strong>em</strong>, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhou o papel <strong>de</strong> monarca <strong>de</strong> modo irrepreensível, como se<br />

tivesse nascido para isso: <strong>de</strong> entre as várias <strong>de</strong>cisões que tomou, <strong>de</strong>stacam-se<br />

nomeadamente a exigência <strong>de</strong> uma casa e <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> guarda 29 , a escolha<br />

do «olho do rei», ou seja, o funcionário que, entre os Persas, tinha a cargo a<br />

vigilância, e a forma severa como puniu um jov<strong>em</strong> <strong>de</strong> boas famílias que se<br />

recusou a obe<strong>de</strong>cer-lhe – é que, se os restantes companheiros o haviam julgado<br />

digno do cargo, então <strong>de</strong>veria agir <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong>. Por causa <strong>de</strong>ste último<br />

comportamento, foi chamado à presença do rei (que <strong>de</strong>sconhecia ser o próprio<br />

avô), na sequência da queixa que o pai do rapaz açoitado fez junto <strong>de</strong> Astíages.<br />

A forma como reagiu diante do monarca todo-po<strong>de</strong>roso (ao qual apresentou<br />

as suas razões, falando <strong>de</strong> igual para igual, s<strong>em</strong> qualquer receio) e o ter-se<br />

mostrado recetivo a um castigo (<strong>caso</strong> Astíages visse nisso um ato <strong>de</strong> justiça)<br />

<strong>de</strong>spoletaram o aparecimento da verda<strong>de</strong>. A estes el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>nunciadores,<br />

po<strong>de</strong>mos acrescentar ainda as s<strong>em</strong>elhanças sionómicas que Ciro tinha com<br />

o avô e o facto <strong>de</strong> a ida<strong>de</strong> que aparentava correspon<strong>de</strong>r ao período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po<br />

<strong>de</strong>corrido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a exposição da criança.<br />

Estamos, pois, perante um tipo particular <strong>de</strong> , que não<br />

consiste <strong>em</strong> objetos, como roupas 30 , armas ou a cesta <strong>em</strong> que as crianças foram<br />

expostas (como no <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Rómulo e R<strong>em</strong>o 31 ) e que <strong>de</strong>corre da racionalização<br />

da narrativa a que Heródoto proce<strong>de</strong>u. Neste <strong>caso</strong>, o historiador faz com que o<br />

próprio caráter e s<strong>em</strong>blante do jov<strong>em</strong> sejam sucientes para a conrmação da<br />

verda<strong>de</strong>, dispensando o recurso a el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> natureza mais fantástica, que<br />

contrariavam a i<strong>de</strong>ia que ele tinha <strong>de</strong> relato histórico 32 .<br />

Mas, como, apesar da forte probabilida<strong>de</strong>, tudo não passava <strong>de</strong> meras<br />

suspeitas, o rei procurou <strong>de</strong>scobrir a verda<strong>de</strong>, indagando-a junto do responsável<br />

pela criança e daquele a qu<strong>em</strong> havia <strong>de</strong>legado o abandono do neto. Mitradates<br />

(como, <strong>de</strong> resto, os escravos das outras narrativas que conheciam a veracida<strong>de</strong><br />

<strong>dos</strong> factos) começou por manter a sua versão da história, pois t<strong>em</strong>ia pela sua<br />

sorte e pela <strong>de</strong> Ciro. Só <strong>de</strong>cidiu revelar tudo, quando o rei ameaçou torturá-lo.<br />

O el<strong>em</strong>ento tortura é recorrente neste contexto, já que ante a recusa do<br />

porqueiro tebano (que tinha medo da reação do rei e conhecia a dimensão<br />

da tragédia que se iria abater sobre a casa real <strong>de</strong> Tebas), também Édipo<br />

utiliza o mesmo método. Os únicos que se pronticam a contar tudo são<br />

29 Estas duas primeiras medidas traz<strong>em</strong>-nos <strong>de</strong> imediato à m<strong>em</strong>ória as exigências que<br />

Déjoces (trisavô <strong>de</strong> Ciro) fez quando foi escolhido para reinar sobre os Me<strong>dos</strong>. Cf. Hdt. 1. 98.<br />

30 Na história <strong>de</strong> Ciro, as roupas também <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penharam um papel importante enquanto<br />

, mas na fase da exposição. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos <strong>de</strong> que o que permitiu aos eunucos da<br />

conança <strong>de</strong> Hárpago reconhecer a criança a sepultar foram justamente as vestes reais que o lho<br />

morto do casal <strong>de</strong> boieiros envergava para ser tomado como neto <strong>de</strong> Astíages. Cf. supra p. 36.<br />

31 Cf. Plut. Rom. 8. 2-3.<br />

32 Vi<strong>de</strong> supra p. 19.<br />

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