17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Do nascimento ao ingresso na vida ativa: a educação do político <strong>em</strong> Atenas<br />

<strong>de</strong>stinos da . Tal opção põe, mais uma vez, a nu a falta <strong>de</strong> perspicácia do<br />

povo, que o acolheu <strong>de</strong> braços abertos quando era excessivamente jov<strong>em</strong> para<br />

abraçar a carreira política e o afastou no momento <strong>em</strong> que as suas capacida<strong>de</strong>s<br />

eram mais necessárias, pois <strong>de</strong>las <strong>de</strong>pendia a salvação <strong>de</strong> Atenas. A queda <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s, que antece<strong>de</strong> a <strong>de</strong> Atenas e a do regime <strong>de</strong>mocrático, mais não é,<br />

por isso, do que o test<strong>em</strong>unho do falhanço do sist<strong>em</strong>a.<br />

Neste contexto, que, no fundo, é aquele que <strong>Plutarco</strong> recria <strong>em</strong> uma biograa<br />

que prima pela omissão <strong>de</strong> pormenores relativamente à atuação política e militar<br />

do Alcmeónida, sobressai a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um jov<strong>em</strong> pr<strong>em</strong>aturamente órfão, ao<br />

qual a socieda<strong>de</strong> do apogeu (representado pela gura do seu tutor Péricles)<br />

não conseguiu dar educação n<strong>em</strong> o apoio necessários. Por isso, apesar do seu<br />

comportamento criticável, Alcibía<strong>de</strong>s parece ser <strong>de</strong>sculpabilizado por <strong>Plutarco</strong>,<br />

do mesmo modo que hoje se <strong>de</strong>sculpabilizam os jovens que se transformam<br />

<strong>em</strong> marginais com o argumento <strong>de</strong> que foram abandona<strong>dos</strong> pela socieda<strong>de</strong>. O<br />

certo é que a culpa da <strong>de</strong>gradação <strong>dos</strong> costumes, da moral e do sist<strong>em</strong>a vigente<br />

<strong>de</strong>ve ser atribuída àqueles que são os agentes atuais <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>gradação; mas<br />

qu<strong>em</strong> assistiu passivamente e com paliativos ao <strong>de</strong>spoletar <strong>de</strong>ssa situação, <strong>de</strong>ve<br />

ser tanto ou mais responsabilizado, porque foi a sua fraca conduta enquanto<br />

pais, governantes e concidadãos que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> ao aparecimento <strong>de</strong> uma<br />

geração que, apesar <strong>dos</strong> dons inatos, se tornou ignóbil.<br />

A leitura cruzada das biograas <strong>dos</strong> Alcmeónidas permite-nos uma<br />

conclusão paradoxal: se pusermos lado a lado um texto e outro, Péricles sobressai<br />

como protótipo do político i<strong>de</strong>al; Alcibía<strong>de</strong>s surge como uma frustração, um<br />

engodo: parece ser mais promissor, mais dotado do que o tutor (Péricles),<br />

<strong>em</strong>bora, na prática, se revele uma frau<strong>de</strong>, pois a sua ação não correspon<strong>de</strong> às<br />

expectativas. Po<strong>de</strong>mos compará-los a dois alunos: um, com mais capacida<strong>de</strong>s,<br />

que não se aplica nas suas tarefas (Alcibía<strong>de</strong>s); outro que, menos inteligente,<br />

trabalha com anco, acabando por ultrapassar os feitos alcança<strong>dos</strong> pelo mais<br />

dotado (Péricles).<br />

Por outro lado, apesar do aparato elogioso com que <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>screve a<br />

atuação <strong>de</strong> Péricles e da ambiguida<strong>de</strong> com que retrata Alcibía<strong>de</strong>s, ca <strong>em</strong> nós<br />

a sensação <strong>de</strong> que a crítica a Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve ser atenuada, porquanto a sua<br />

conduta resulta <strong>de</strong> uma conjuntura que é, <strong>em</strong> muito, da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Péricles. Assim sendo, ca a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que, se calhar, o lho <strong>de</strong> Xantipo não<br />

mereceria estar <strong>em</strong> um pe<strong>de</strong>stal tão elevado quanto aquele <strong>em</strong> que <strong>Plutarco</strong><br />

o coloca. Po<strong>de</strong>mos, por isso, indo ao encontro do objetivo do biógrafo (que<br />

pretendia que, perante os da<strong>dos</strong> por ele forneci<strong>dos</strong> nós disséss<strong>em</strong>os <strong>de</strong> nossa<br />

justiça <strong>em</strong> relação aos seus heróis), concluir que, como seres humanos, ninguém<br />

é totalmente bom ou mau; as ações e opções <strong>de</strong> cada um não resultam apenas<br />

do caráter inato, mas também da inuência da socieda<strong>de</strong> e do contexto <strong>em</strong> que<br />

se vive. E que apenas o Misantropo (Alc. 16. 9) soube avaliar com justiça as<br />

313

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!