17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

como a cedência aos caprichos <strong>de</strong> Aspásia ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar as<br />

atenções da sua pessoa, que vinha sendo vítima <strong>dos</strong> mais diversos ataques e<br />

críticas por parte <strong>dos</strong> concidadãos.<br />

O probl<strong>em</strong>a maior que a análise <strong>de</strong>stas Vidas nos coloca pren<strong>de</strong>-se à<br />

natureza <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. O retrato que <strong>Plutarco</strong> faz <strong>de</strong> Teseu ou <strong>de</strong> Péricles,<br />

<strong>em</strong>bora humano – porque ambos revelam virtu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>feitos – apresenta-nos<br />

dois Atenienses que pautam a sua vida por uma conduta <strong>em</strong> geral distinta. No<br />

<strong>caso</strong> do Alcmeónida, po<strong>de</strong>mos até armar que <strong>Plutarco</strong> a consi<strong>de</strong>ra superior à<br />

média, mesmo excecional. No que concerne a Alcibía<strong>de</strong>s, o tratamento que o<br />

Queroneu dá à gura parece sugerir que é impossível chegar a um julgamento<br />

moral satisfatório a seu respeito ou, pelo menos, que o biógrafo não se atreve<br />

a fazer um julgamento explícito do lho <strong>de</strong> Clínias. É que o Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>saa as classicações rotineiras nas categorias <strong>de</strong> vício e virtu<strong>de</strong><br />

e parece não se incluir <strong>em</strong> nenhum esqu<strong>em</strong>a moral. Ou, por outras palavras,<br />

como arma Du (1999: 240),<br />

312<br />

hard to <strong>de</strong>ne, har<strong>de</strong>r to judge, it is impossible to draw simple moral lessons<br />

from this Life. And this is, perhaps, the great strength of Plutarch’s Life; after<br />

all, how could Alkibia<strong>de</strong>s, the individualist extraordinaire, be a paradigm for<br />

anything – except individuality itself?<br />

Nesse sentido, resta-nos colocar uma questão: Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve ser<br />

consi<strong>de</strong>rado um bom ou mau ex<strong>em</strong>plo? Parece-nos que este Alcmeónida é,<br />

simplesmente um ex<strong>em</strong>plo inacabado. Teve o seu t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> mau; no entanto,<br />

quando tentou ser bom (qualquer mortal t<strong>em</strong> o direito <strong>de</strong> errar e <strong>de</strong> se regenerar),<br />

não lhe foi dada essa oportunida<strong>de</strong>. Fica, assim, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que Alcibía<strong>de</strong>s, «o<br />

cheio <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s», foi vítima do sist<strong>em</strong>a social. O povo e os aduladores<br />

zeram vir ao <strong>de</strong> cima o pior da sua personalida<strong>de</strong>. Em um misto <strong>de</strong> admiração<br />

e inveja, <strong>de</strong> amor e ódio, aguentaram as suas criancices até ao momento <strong>em</strong><br />

que a dimensão do po<strong>de</strong>r e da fama do Alcmeónida atingiram um nível<br />

supostamente incomportável para a segurança da or<strong>de</strong>m vigente. Nessa altura,<br />

o Alcmeónida foi escorraçado e teve a reação própria <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>, consciente do<br />

seu valor, se vê <strong>de</strong>sprezado pelos que antes o exaltavam. Vingou-se, fez mal<br />

aos seus, contudo, quando os viu <strong>em</strong> apuros e estes, interesseiros, lhe pediram<br />

que regressasse, ele não hesitou. Voltou mais maduro, aparent<strong>em</strong>ente disposto<br />

a enveredar pelo caminho do B<strong>em</strong>. No entanto, a socieda<strong>de</strong>, que antes o<br />

corrompera, apesar <strong>de</strong> ter voltado acolhê-lo e <strong>de</strong> lhe ter entregado o exército,<br />

negou-lhe o voto <strong>de</strong> conança. Ao mínimo <strong>de</strong>slize, que n<strong>em</strong> foi diretamente<br />

consequência do seu comportamento ou levianda<strong>de</strong>, voltou-lhe as costas. Fê-lo<br />

não porque pusesse <strong>em</strong> causa a sua lealda<strong>de</strong>, mas porque ninguém sabia do<br />

que ele era capaz quando movido pela ambição excessiva que o caracterizava.<br />

Ironicamente, Alcibía<strong>de</strong>s foi afastado quando estava mais apto a conduzir os

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!