17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

(b<strong>em</strong> como o segundo móbil que o Queroneu apresenta para explicar o<br />

homicídio) recorda-nos a licenciosida<strong>de</strong> que caracterizou a sua vida. Mas<br />

faz-nos l<strong>em</strong>brar que, nos momentos que antece<strong>de</strong>ram a sua partida, Péricles<br />

esteve acompanhado <strong>de</strong> amigos e <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>rosas que lhe vieram<br />

prestar uma última homenag<strong>em</strong> (Per. 38. 3) e que Teseu, por sua vez, morreu<br />

sozinho, s<strong>em</strong> que n<strong>em</strong> o povo, n<strong>em</strong> os inimigos, n<strong>em</strong> a própria família tenham<br />

manifestado mais do que indiferença pelo seu falecimento (es. 35. 7-8 e<br />

supra pp. 109-111). Isto permite-nos armar com Gribble (1999: 281) que,<br />

308<br />

in Plutarch, the <strong>de</strong>ath of the hero is often <strong>de</strong>eply suggestive of his character as<br />

a whole.<br />

Ou, se preferirmos, parece ser o <strong>de</strong>sfecho merecido pela forma como<br />

conduziram as suas vidas. De facto, no <strong>caso</strong> especíco <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, a sua<br />

morte põe <strong>em</strong> evidência o grosso <strong>dos</strong> traços do seu comportamento <strong>em</strong> vida: a<br />

corag<strong>em</strong>, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> glória, a , a vida dissoluta. Até a inconsistência por<br />

que pautou a sua conduta e os sentimentos e reações contraditórios que suscitou<br />

nos seus cont<strong>em</strong>porâneos aparec<strong>em</strong> reeti<strong>dos</strong> nas incertezas que ro<strong>de</strong>iam as<br />

circunstâncias da sua partida. No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Teseu, a sua morte só e à traição<br />

surge como consequência do abandono a que votou a cida<strong>de</strong> que fundara, que<br />

ter-se-á sentido qual esposa trocada por outra mulher. Até a morte rápida que<br />

Teseu e Alcibía<strong>de</strong>s tiveram <strong>de</strong>corre, por assim dizer, da forma pronta, célere (e<br />

tantas vezes precipitada) como s<strong>em</strong>pre agiram.<br />

Péricles é o único que sucumbe à morte i<strong>de</strong>al…ou quase. É certo que a<br />

doença lhe provocou um sofrimento prolongado, mas essa provação por que o<br />

Alcmeónida passou revelou-se consistente com a paciência e o saber esperar<br />

que o caracterizavam e zeram <strong>de</strong>le um <strong>ateniense</strong> superior. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos<br />

<strong>de</strong> que cou conhecido por ter, durante anos, suportado insultos com gran<strong>de</strong><br />

serenida<strong>de</strong> 492 . Dos três, só ele morreu com o sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver cumprido 493 .<br />

Resta-nos abordar um <strong>dos</strong> tópicos que, <strong>de</strong> um modo geral, faz parte da<br />

estrutura <strong>dos</strong> parágrafos que <strong>Plutarco</strong> consagra à morte <strong>dos</strong> seus heróis: o<br />

impacto do <strong>de</strong>saparecimento do protagonista na comunida<strong>de</strong>. Trata-se, com<br />

efeito, <strong>de</strong> um el<strong>em</strong>ento cuja abordag<strong>em</strong> é absolutamente diversa <strong>em</strong> cada uma<br />

<strong>de</strong>stas vidas. No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Teseu, parece ter havido uma total indiferença por parte<br />

<strong>dos</strong> inimigos, <strong>dos</strong> concidadãos e até <strong>dos</strong> próprios lhos. Segundo <strong>Plutarco</strong>, só<br />

por ocasião da batalha <strong>de</strong> Maratona é que o fundador voltou a ser l<strong>em</strong>brado<br />

<strong>em</strong> glória (es. 36. 1). Em relação a Alcibía<strong>de</strong>s, <strong>Plutarco</strong> não faz qualquer<br />

reparo nesse sentido no único capítulo que <strong>de</strong>dica à morte <strong>de</strong>ste Alcmeónida.<br />

algo <strong>de</strong> garantido.<br />

492 Supra p. 281.<br />

493 Supra p. 304, nota 472.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!