17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Morte<br />

à sua ruína. Neste sentido, po<strong>de</strong>mos dizer que enquanto Teseu foi o e o Ω,<br />

isto é, enquanto a sua vida prenunciou o princípio e o m do império e da<br />

<strong>de</strong>mocracia <strong>ateniense</strong>s, os Alcmeónidas partilharam entre si esse simbolismo:<br />

a glória, representada por Péricles e o <strong>de</strong>clínio, por Alcibía<strong>de</strong>s.<br />

Tal como avançou duas causas alternativas para o assassínio <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s,<br />

<strong>Plutarco</strong> apresenta duas versões <strong>de</strong>sse sonho: uma <strong>em</strong> que Alcibía<strong>de</strong>s se via<br />

vestido com as roupas <strong>de</strong> Timandra 484 , hetera com a qual vivia na Frígia, que<br />

segurava a sua cabeça nos braços enquanto lhe penteava os cabelos e pintava<br />

o rosto 485 . De acordo com a outra versão, o Alcmeónida viu o próprio Bageu<br />

(irmão <strong>de</strong> Farnábazo) a cortar-lhe a cabeça e a incendiar-lhe o corpo.<br />

A forma como, <strong>em</strong> Alc. 39. 4-7, o Queroneu <strong>de</strong>screve a morte <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s<br />

apresenta muitos pontos <strong>de</strong> coincidência com os sonhos enuncia<strong>dos</strong> 486 e sugere<br />

não só a corag<strong>em</strong> com que aquele enfrentou o numeroso inimigo bárbaro 487<br />

como também a perfídia <strong>de</strong>ste. Em um gesto ainda mais cobar<strong>de</strong> do que o ato<br />

<strong>de</strong> assassinar alguém, os «carrascos» do estratego, que não ousaram <strong>de</strong>frontá-lo<br />

diretamente, cercaram-lhe a casa e incendiaram-na. Do alto da sua corag<strong>em</strong><br />

– a mesma que o fez enfrentar com bravura a difícil situação da tomada <strong>de</strong><br />

Selímbria 488 – o Alcméonida atravessou o fogo e abandonou o interior da casa.<br />

Foi <strong>de</strong> longe, s<strong>em</strong> ousar uma aproximação, que os assassinos o atingiram com<br />

lanças e echas.<br />

Nesta biograa, ao contrário do que acontece nas <strong>de</strong> Teseu e <strong>de</strong> Péricles,<br />

<strong>Plutarco</strong> faz referência às exéquias «brilhantes e dignas» 489 ( <br />

– Alc. 39. 7) que, tendo <strong>em</strong> conta as circunstâncias, Timandra lhe<br />

<strong>de</strong>dicou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> recolher o cadáver e cobri-lo com as suas próprias roupas 490 .<br />

O facto <strong>de</strong> a sua morte ter sido presenciada apenas 491 por esta famosa cortesã<br />

484 Segundo Littman (1970: 269), Ateneu menciona que a hetera se chamava Damasandra<br />

(‘domadora <strong>de</strong> homens’), divergência que o classicista atribui a um trocadilho cómico com o<br />

nome <strong>de</strong> Timandra (‘que honra os homens’).<br />

485 Alc. 39. 2.<br />

486 E também com Nep. Alc. 10. 3-6, que apenas acrescenta que a cabeça <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s foi<br />

entregue a Farnábazo.<br />

487 Embora o autor moral da morte <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s – e, consequent<strong>em</strong>ente, do <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong><br />

Atenas – sejam os Lace<strong>de</strong>mónios, esta é, <strong>de</strong> facto, executada pelos Bárbaros, <strong>de</strong>ixando a sugestão<br />

<strong>de</strong> que a queda da foi, efetivamente, fruto do conluio <strong>dos</strong> dois gran<strong>de</strong>s inimigos <strong>dos</strong><br />

Atenienses.<br />

488 Supra p. 295.<br />

489 Cf. Du (1999: 240). Pelling (1996: lvi-lvii) consi<strong>de</strong>ra que este funeral, <strong>de</strong>ntro do<br />

contexto <strong>em</strong> que ocorre, acaba por ser digno da ambição que caracterizou Alcibía<strong>de</strong>s <strong>em</strong> vida.<br />

Embora s<strong>em</strong> honras <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> ou militares, o cadáver do Alcmeónida foi homenageado pelo<br />

amor da mulher que assistiu à sua morte.<br />

490 Este <strong>de</strong>talhe reveste-se <strong>de</strong> particular importância, na medida <strong>em</strong> que traduz o<br />

cumprimento do sonho. Cf. Nep. Alc. 10. 6; Cic. Div. 2. 143; V. Max. 1. 7 ext. 9. Sobre a morte<br />

<strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, consult<strong>em</strong>-se igualmente Hatzfeld (1940: 341-349) e Gribble (1999: 281-282).<br />

491 Esta realida<strong>de</strong> contrasta com a juventu<strong>de</strong> e os t<strong>em</strong>pos áureos do estratego, quando este<br />

vivia ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> amigos e bajuladores. Quando se cai <strong>em</strong> <strong>de</strong>sgraça, a solidão e o abandono são<br />

307

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!