17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

Alcibía<strong>de</strong>s, não se fez rogado, ainda que não tenha sujado pessoalmente as<br />

mãos. Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que a morte <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s é uma<br />

repetição, um «déjà vu» da <strong>de</strong> Teseu, já que ambos são assassina<strong>dos</strong> no exílio 478<br />

às mãos daqueles que lhes <strong>de</strong>ram abrigo e <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> pensavam po<strong>de</strong>r conar.<br />

Lisandro or<strong>de</strong>nou a Farnábazo que se livrasse do Ateniense e o falso amigo do<br />

Alcmeónida, por sua vez, <strong>de</strong>legou essa função a um tio e a um irmão.<br />

Em Alc. 39. 9, <strong>Plutarco</strong> avança outra motivação para o crime contra<br />

Alcibía<strong>de</strong>s. Neste <strong>caso</strong> concreto, mais do que vítima <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stino injusto,<br />

personicado por diferentes inimigos políticos, o Alcmeónida seria vítima <strong>de</strong><br />

si mesmo, da sua vida <strong>de</strong>sregrada, da sua pois teria perecido às mãos <strong>dos</strong><br />

irmãos <strong>de</strong> uma jov<strong>em</strong> <strong>de</strong> boas famílias que corrompera. Esta segunda versão<br />

que o biógrafo apresenta como causa do homicídio fez-nos pensar <strong>de</strong> imediato<br />

nos famosos versos <strong>de</strong> Camões:<br />

306<br />

“Erros meus, má fortuna, amor ar<strong>de</strong>nte<br />

Em minha perdição se conjuraram.”<br />

É que estes versos também se aplicam ao <strong>de</strong>clínio, à morte anunciada <strong>de</strong><br />

Atenas 479 , que o homicídio <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s efetiva. Foram os «erros» (ou seja, a<br />

forma como dispensou, s<strong>em</strong> um motivo verda<strong>de</strong>iramente válido, os serviços <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s 480 ), a «má fortuna» (que r<strong>em</strong>onta à morte <strong>de</strong> Péricles que não pô<strong>de</strong><br />

levar a sua estratégia a cabo, algo que o próprio atribui à Fortuna ou à ação<br />

<strong>dos</strong> <strong>de</strong>uses 481 ) e o «amor ar<strong>de</strong>nte» (o <strong>de</strong>sejo insaciável <strong>de</strong> mais glória e mais<br />

po<strong>de</strong>r, que se materializa na expedição à Sicília 482 ) que <strong>de</strong>terminaram a queda<br />

do império.<br />

Enquanto, no que respeita a Péricles, o seu nascimento fora precedido <strong>de</strong><br />

um sonho 483 que pregurava a glória que viria a alcançar, no <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s<br />

foi a sua morte que teve direito a anúncio onírico. Po<strong>de</strong>mos, por isso, mais<br />

uma vez associar Péricles ao apogeu <strong>de</strong> Atenas e do seu império e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

478 A <strong>de</strong>cadência <strong>de</strong> Atenas é insinuada pelo exílio (ou se preferirmos, afastamento<br />

t<strong>em</strong>porário, no <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles) e morte <strong>dos</strong> estadistas, que funcionam como símbolo <strong>de</strong> um<br />

período <strong>de</strong> glória que chega ao m. No entanto, o «exílio» <strong>de</strong> Péricles e o seu posterior regresso<br />

(do mesmo modo que o primeiro exílio <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, seguido, também ele, <strong>de</strong> um regresso<br />

t<strong>em</strong>porário) parec<strong>em</strong> sugerir uma esperança para Atenas, como aquele revigorar que muitas<br />

vezes prece<strong>de</strong> a morte do doente terminal. Alcibía<strong>de</strong>s, no contexto da comparação <strong>dos</strong> três<br />

estadistas que nos ocupam, agura-se como um D. Sebastião, única hipótese <strong>de</strong> salvação para<br />

a guerra <strong>em</strong> que Péricles envolvera Atenas. Mas também ele «<strong>de</strong>saparece no nevoeiro» e <strong>de</strong>ixa<br />

órfãos os concidadãos, que, s<strong>em</strong> forças n<strong>em</strong> capacida<strong>de</strong> para lutar mais, sucumb<strong>em</strong> ao po<strong>de</strong>rio<br />

do inimigo.<br />

479 Prenunciada pela morte <strong>de</strong> Teseu. Vd. supra p. 109.<br />

480 Alc. 38. 1-2.<br />

481 Supra p. 281 (nota 330) e 285 (nota 354).<br />

482 Cf. p. 263, nota 242.<br />

483 Vd. supra p. 169, nota 40.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!