O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Morte<br />
palavras, do mesmo modo que o estratego enveredou por uma estratégia <strong>de</strong><br />
sucesso previsível mas lenta para vencer a Guerra do Peloponeso, também a<br />
enfermida<strong>de</strong> que lhe seria fatal prolongou a sua intervenção.<br />
Contrariamente a Péricles, que teve uma morte natural (apesar <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r ser consi<strong>de</strong>rada consequência da ação – ou traição – divina a que<br />
Péricles e <strong>Plutarco</strong> atribu<strong>em</strong> a responsabilida<strong>de</strong> pela falha da estratégia do<br />
Alcmeónida 474 ), a <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s foi provocada pela traição humana, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> tentativas falhadas <strong>dos</strong> seus inimigos para lhe retirar a vida.<br />
Como já vimos, a maneira <strong>de</strong> ser do lho <strong>de</strong> Clínias <strong>de</strong>spertava sentimentos<br />
contraditórios <strong>em</strong> to<strong>dos</strong> aqueles que o ro<strong>de</strong>avam, pelo que não surpreen<strong>de</strong> que<br />
a sua morte interessasse a muitos. Por três vezes Alcibía<strong>de</strong>s foi con<strong>de</strong>nado à<br />
pena capital: a primeira, pelos próprios concidadãos, feri<strong>dos</strong> na sua soberania<br />
e no seu orgulho, porque Alcibía<strong>de</strong>s não acatou a voz <strong>de</strong> prisão que lhe <strong>de</strong>ram<br />
(Alc. 22. 3); a segunda por Ágis, que lhe <strong>de</strong>ra abrigo aquando da con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />
Atenas, mas que entretanto também já não conseguia suportar a presença e a<br />
glória <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> lhe maculara o leito e lhe roubava os louros <strong>dos</strong> êxitos militares<br />
consegui<strong>dos</strong> contra Atenas (Alc. 24. 4). Desta feita, o Alcmeónida, avisado por<br />
alguns amigos, conseguiu discretamente escapar à morte sob a proteção <strong>dos</strong><br />
Persas, representa<strong>dos</strong> por Tissafernes. Nessa altura, camos com a impressão<br />
<strong>de</strong> que havia s<strong>em</strong>pre alguém pronto a acudir-lhe. Mas, como diz o povo, «à<br />
terceira foi <strong>de</strong> vez!» De facto, das duas vezes anteriores, a sua con<strong>de</strong>nação<br />
à morte havia sido <strong>de</strong>cretada sobretudo pelo mal da inveja 475 . No entanto,<br />
no momento da <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira sentença, a esse mal somou-se o perigo que o<br />
Alcmeónida constituía não só para o po<strong>de</strong>rio recém-conquistado por Esparta,<br />
como também para a permanência no comando <strong>de</strong> Atenas daqueles que caram<br />
conheci<strong>dos</strong> como os Trinta: é que Alcibía<strong>de</strong>s, <strong>em</strong>bora os concidadãos ainda<br />
estivess<strong>em</strong> <strong>de</strong> relações cortadas consigo, era visto pelos Atenienses como única<br />
hipótese para a recuperação da glória perdida da , como um «perigo do<br />
foco da resistência <strong>de</strong>mocrática», para utilizar a expressão <strong>de</strong> Du (1999: 240).<br />
Logo, para os inimigos, era um alvo a abater e a sua morte uma questão <strong>de</strong><br />
<strong>Estado</strong> ou <strong>de</strong> segurança nacional (Alc. 38. 5). De início, apesar <strong>de</strong> incitado pelos<br />
Trinta na pessoa <strong>de</strong> Crítias, Lisandro nada fez 476 . Contudo, quando recebeu<br />
or<strong>de</strong>ns superiores <strong>dos</strong> Espartanos 477 para eliminar a ameaça representada por<br />
474 Po<strong>de</strong>mos, por isso, armar que a morte <strong>de</strong> Péricles simboliza uma conspiração <strong>dos</strong> <strong>de</strong>uses<br />
contra a glória <strong>de</strong> Atenas. Este assunto está tratado no subcapítulo anterior.<br />
475 Sobre o perigo que a inveja constitui para a segurança <strong>de</strong> um político, veja-se p. 231, nota<br />
102. 476 Esta informação veiculada por <strong>Plutarco</strong> diverge do test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Cornélio Nepos<br />
(Alc. 10. 1-2), segundo o qual Lisandro terá mandado executar Alcibía<strong>de</strong>s por inuência da<br />
intervenção <strong>de</strong> Crítias.<br />
477 Em Alc. 38. 6, o Queroneu avança dois motivos para essa con<strong>de</strong>nação: ou o medo da<br />
inteligência e do <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s (<br />
), ou a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> agradar a Ágis ().<br />
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