17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

últimos dias da sua vida. No que concerne à ausência <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> relativos à sorte<br />

<strong>dos</strong> lhos, além do fator esquecimento, é provável que a omissão do Queroneu<br />

se <strong>de</strong>va ao facto <strong>de</strong>, ao longo da biograa, não ter dado gran<strong>de</strong> importância à<br />

relação do Alcmeónida com a sua prole 467 . Já agora, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser pertinente<br />

recordar a tendência <strong>dos</strong> Alcmeónidas para o amor <strong>de</strong> prostitutas, junto das<br />

quais acabam por falecer.<br />

No que respeita às circunstâncias que envolv<strong>em</strong> a morte do herói, o<br />

Queroneu alu<strong>de</strong> ao facto <strong>de</strong> Péricles ter sido, também ele, vítima da peste<br />

por cujo <strong>de</strong>agrar o povo o responsabilizara 468 (Per. 34. 5). No entanto, até<br />

a epi<strong>de</strong>mia parece mostrar reverência diante <strong>de</strong>ste político <strong>de</strong> exceção, pois<br />

manifesta-se <strong>de</strong> forma pouco comum. Regra geral, as pessoas acometidas<br />

<strong>de</strong>sta doença eram atacadas <strong>de</strong> modo agudo e intenso. Em Péricles, a peste<br />

mostrou-se branda, mas prolongada, e <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> o vitimar rapidamente,<br />

esgotou-lhe aos poucos o corpo e, ainda mais importante, a força do espírito.<br />

Como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>sta última situação, o biógrafo menciona o recurso <strong>de</strong><br />

Péricles, que no auge das suas capacida<strong>de</strong>s se mostrara avesso a superstições 469 ,<br />

a amuletos 470 , comportamento consi<strong>de</strong>rado por ele pouco digno e tolice <strong>de</strong><br />

mulheres. Esta sua atitu<strong>de</strong> é apresentada pelo biógrafo como um ex<strong>em</strong>plo<br />

dado por Teofrasto, na sua obra Ética 471 , para ilustrar a tese <strong>de</strong> que o<br />

sofrimento físico (ou a intervenção divina) é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir a excelência<br />

moral. Apesar <strong>de</strong>sta ligeira transformação do seu caráter, Péricles manteve-se<br />

consciente até ao nal, como no-lo <strong>de</strong>monstra a alusão que o biógrafo faz a<br />

uma conversa que o estadista entabula com as visitas que elogiavam os seus<br />

feitos imponentes 472 , mas não aquela que consi<strong>de</strong>rava a sua principal virtu<strong>de</strong>:<br />

ter zelado s<strong>em</strong>pre pela vida <strong>dos</strong> concidadãos 473 .<br />

Importa, contudo, interpretar a cont<strong>em</strong>porização da peste para com<br />

Péricles na perspetiva <strong>dos</strong> seus opositores políticos. Para estes, o facto <strong>de</strong> a<br />

doença ter levado o seu t<strong>em</strong>po até provocar a morte do lho <strong>de</strong> Xantipo po<strong>de</strong><br />

ser entendido como dar-lhe a provar um pouco do mesmo veneno. Por outras<br />

467 Supra pp. 245-246.<br />

468 Cf. supra p. 281.<br />

469 Sobre este assunto, supra pp. 181 e 281 sq.<br />

470 Os amuletos eram habitualmente usa<strong>dos</strong> por ocasião <strong>de</strong> doenças e febres (cf. Pl. R. 426b;<br />

Plu. Moralia 920B).<br />

471 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 181.<br />

472 Em Moralia 539D e 786E (por inuência <strong>de</strong> X. M<strong>em</strong>. 2. 1. 31), o Queroneu consi<strong>de</strong>ra<br />

que a maior alegria <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> provém não <strong>dos</strong> elogios recebi<strong>dos</strong>, mas da cont<strong>em</strong>plação das<br />

próprias obras levadas a cabo durante os perío<strong>dos</strong> <strong>em</strong> que exerceu cargos, ou seja, do sentido<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver cumprido. Embora <strong>Plutarco</strong> não faça qualquer comentário nesse sentido, po<strong>de</strong>mos<br />

consi<strong>de</strong>rar que Péricles é um daqueles privilegia<strong>dos</strong> que alcança a felicida<strong>de</strong> supr<strong>em</strong>a: no leito<br />

<strong>de</strong> morte, não só ouve os mereci<strong>dos</strong> elogios, como ainda t<strong>em</strong> a hipótese <strong>de</strong> aludir àquele que<br />

enten<strong>de</strong> ter sido o seu feito mais importante.<br />

473 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> p. 264 sqq.<br />

304

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!