O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> novo com um Alcibía<strong>de</strong>s cheio <strong>de</strong> medo. Desta vez, contudo, talvez por<br />
causa da experiência adquirida com a ida<strong>de</strong>, não t<strong>em</strong> a mesma reação que<br />
por altura do exílio. Em vez <strong>de</strong> se voltar contra o seu povo, opta por ajudá-lo<br />
<strong>de</strong>sinteressadamente, revelando nobreza <strong>de</strong> caráter. Primeiro, Alcibía<strong>de</strong>s resolve<br />
aliar-se a um grupo <strong>de</strong> mercenários trácios e combater a expensas próprias, o<br />
que lhe permite enriquecer e proteger os Gregos da região das incursões <strong>dos</strong><br />
Bárbaros. Depois, ao aperceber-se <strong>de</strong> que os estrategos <strong>ateniense</strong>s adotavam<br />
uma estratégia perigosa 456 (Alc. 36. 6), não consegue manter-se indiferente e<br />
tenta aconselhá-los 457 . Mas, estes, <strong>em</strong> um gesto ressabiado <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong>e vir a<br />
per<strong>de</strong>r o lugar, reag<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma insolente e não lhe dão ouvi<strong>dos</strong> 458 . Desta feita,<br />
o Alcmeónida ca ferido no seu orgulho e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> não interferir mais, mesmo<br />
quando pressente a <strong>de</strong>sgraça, algo que é conrmado por uma sua armação que,<br />
para não variar, provocou reações diversas. Alcibía<strong>de</strong>s terá dito aos Atenienses<br />
que o acompanharam até à saída do acampamento que, se não tivesse sido<br />
ultrajado, teria obrigado os Lace<strong>de</strong>mónios ou a combater ou a abandonar a<br />
frota (Alc. 37. 2-3). Houve qu<strong>em</strong> visse nas suas palavras a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um<br />
plano possível <strong>de</strong> concretizar, mas também houve qu<strong>em</strong> achasse que se tratava<br />
<strong>de</strong> mera fanfarronice (Alc. 37. 3).<br />
O certo é que Alcibía<strong>de</strong>s não interveio e Atenas sucumbiu, <strong>em</strong> pouco<br />
t<strong>em</strong>po, às mãos <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios comanda<strong>dos</strong> por Lisandro, que, com<br />
gran<strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong>, esquartejaram os prisioneiros 459 , queimaram a frota<br />
inimiga 460 e <strong>de</strong>struíram os longos muros (Alc. 37. 4-5). E, como se tal não<br />
bastasse, entregaram a cida<strong>de</strong> aos Trinta. Os Atenienses têm, então, a infeliz<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se aperceber do erro cometido ao dirigir<strong>em</strong>, uma segunda vez,<br />
a sua cólera contra Alcibía<strong>de</strong>s (Alc. 38. 1).<br />
Perece, assim, s<strong>em</strong> glória, durante a vida <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, o império que<br />
atingira o auge da sua grandiosida<strong>de</strong> sob o domínio <strong>de</strong> Péricles.<br />
a Cimes, que <strong>Plutarco</strong> não menciona.<br />
456 Mais uma vez ca claro que o excesso <strong>de</strong> conança nas capacida<strong>de</strong>s e o <strong>de</strong>sleixo que <strong>de</strong>le<br />
resulta é a causa <strong>de</strong> muitos infortúnios. Sobre a estratégia (ou falta <strong>de</strong>la) <strong>dos</strong> Atenienses, que<br />
se limitavam a provocar o inimigo pela manhã e se <strong>de</strong>dicavam ao ócio à tar<strong>de</strong>, cf. X. HG 2. 1.<br />
24-25.<br />
457 D. S. 13. 105. 3 e Nep. Alc. 7. 8. 3 armam que Alcibía<strong>de</strong>s lhes ofereceu a ajuda <strong>de</strong> dois<br />
reis trácios das suas relações, Médoco e Seutes, mas não mencionam estratégias <strong>de</strong> qualquer <strong>dos</strong><br />
adversários.<br />
458 Esta informação que <strong>Plutarco</strong> menciona <strong>em</strong> Alc. 37. 2 t<strong>em</strong> por fonte D. S. 13. 105. 4.<br />
Xenofonte (HG 2. 1. 26), pelo contrário, é mais especíco e indica o nome <strong>de</strong> dois generais que<br />
terão sido insolentes para com o Alcmeónida: Ti<strong>de</strong>u e Menandro.<br />
459 Para mais informações sobre o <strong>de</strong>stino <strong>dos</strong> Atenienses captura<strong>dos</strong> como prisioneiros <strong>de</strong><br />
guerra, vi<strong>de</strong> X. HG 2. 1. 30-32.<br />
460 De acordo com Xenofonte (HG 2. 1. 29), do imenso contingente <strong>de</strong> trirr<strong>em</strong>es <strong>de</strong> que<br />
Atenas dispunha, apenas nove escaparam. <strong>Plutarco</strong> fala <strong>em</strong> oito, porque não conta com a Páralo,<br />
que Cónon enviara a Atenas para anunciar a <strong>de</strong>rrota.<br />
301