O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
Na sequência <strong>de</strong>sse discurso, Alcibía<strong>de</strong>s foi eleito estratego com plenos<br />
po<strong>de</strong>res, viu os seus bens ser<strong>em</strong>-lhe restituí<strong>dos</strong> e retratadas as maldições. Este<br />
regresso triunfante 443 sugere que a tensão que existia entre o estratego e as<br />
massas se havia dissipado por causa da sua mudança <strong>de</strong> comportamento 444 e<br />
que este reconquistara a sua popularida<strong>de</strong> por causa <strong>dos</strong> triunfos que alcançou,<br />
enquanto general, no Oriente 445 , <strong>de</strong> acordo com a estratégia que planeara para<br />
regressar a casa <strong>em</strong> glória ( – cf. Alc. 32. 1). No entanto, o Queroneu<br />
arma que o Alcmeónida continuava a causar incómodo 446 e a ver as suas ações<br />
associadas a maus presságios. Neste <strong>caso</strong> concreto, o dia do seu regresso 447<br />
coincidiu com as Plintérias (Alc. 34. 1-2), o que parecia sugerir que Atena<br />
não o via com bons olhos. Ainda assim, tudo parecia correr a contento <strong>de</strong><br />
Alcibía<strong>de</strong>s. Este episódio acaba por ser um reexo do que foi toda a vida <strong>de</strong>ste<br />
estadista: tudo corre segundo os seus planos até ao momento <strong>em</strong> que a situação<br />
se inverte e ele cai <strong>em</strong> <strong>de</strong>sgraça.<br />
Antes <strong>de</strong> voltar para a frente <strong>de</strong> batalha, Alcibía<strong>de</strong>s t<strong>em</strong> um magníco<br />
gesto <strong>de</strong> pietas erga <strong>de</strong>os, que, <strong>de</strong> certo modo, lhe permite retratar-se aos olhos<br />
<strong>dos</strong> <strong>de</strong>uses e <strong>dos</strong> homens pela ridicularização das cerimónias <strong>de</strong> Elêusis 448 :<br />
<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> oferecer a to<strong>dos</strong> quantos participavam nessas festivida<strong>de</strong>s a segurança<br />
necessária para que se pu<strong>de</strong>sse voltar a realizar o cortejo por terra, algo que<br />
a Guerra do Peloponeso há muito impedia. Aos seus olhos <strong>de</strong> estratego,<br />
a tarefa não seria difícil, porque o inimigo seria forçado a <strong>de</strong>ixá-los passar<br />
tranquilamente sob pena <strong>de</strong> se envolver <strong>em</strong> uma guerra santa. No entanto, por<br />
trás <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>cisão, que resulta <strong>em</strong> outra afronta a Ágis, está também o intuito<br />
<strong>de</strong> levar a cabo mais um ato que permita ampliar a sua fama.<br />
A verda<strong>de</strong> é que este foi, <strong>de</strong> acordo com o relato <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, o seu<br />
último gran<strong>de</strong> momento <strong>de</strong> glória, não porque se esforçasse menos ou sofresse<br />
443 Foram duas as vezes <strong>em</strong> que Alcibía<strong>de</strong>s entrou <strong>em</strong> Atenas nestas circunstâncias: esta e<br />
a primeira, quando se sagrou vencedor <strong>dos</strong> Jogos Olímpicos. Sobre este assunto, cf. supra pp.<br />
197-198.<br />
444 Alc. 32. 3. Cf. X. HG 1. 4. 13-16 e D. S. 13. 68. 4.<br />
445 Alc. 32. 4. Cf. Nep., Alc. 6. 1-2; X. HG 1. 4. 13-19; D. S. 13. 68. 2 - 69.1<br />
446 Segundo <strong>Plutarco</strong>, eram poucos ( – Alc. 34. 1) os que não partilhavam <strong>de</strong>ssa<br />
alegria, nomeadamente o sacerdote Teodoro (Alc. 33. 3). Em X. HG 1. 4. 17, é apontado como<br />
responsável por <strong>de</strong>sgraças passadas e futuras por aqueles que não viam o seu regresso com bons<br />
olhos. Sobre o <strong>de</strong>sconforto que o regresso <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s provocou, vi<strong>de</strong> Salcedo Parrondo (2005:<br />
223-258).<br />
447 Cf. X. HG. 1. 4. 12. Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcou no Pireu a 25 <strong>de</strong> maio (Targélion) <strong>de</strong> 407<br />
a.C. Anualmente nessa data, procedia-se à lavag<strong>em</strong> ritual do <strong>de</strong> Atena. Sobre esta<br />
cerimónia, consult<strong>em</strong>-se Nagy (1994: 275-285); Salcedo Parrondo (2005). Nagy avança a<br />
hipótese <strong>de</strong> o Alcmeónida ter regressado nesse dia na sequência <strong>de</strong> um engano engendrado<br />
pelos seus inimigos políticos. Estes ter-lhe-iam feito crer, a ele que não era muito atento no que<br />
diz respeito a datas <strong>de</strong> festivida<strong>de</strong>s sagradas, que as Plintérias já haviam ocorrido.<br />
448 Cf. X. HG 1. 4. 20. Sobre a restauração do cortejo <strong>de</strong> Elêusis, vi<strong>de</strong> Salcedo Parrondo<br />
(2005) e, principalmente, Ver<strong>de</strong>g<strong>em</strong> (2001: 451-459).<br />
299