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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

as suas vitórias, mas s<strong>em</strong> a ostentação que seria <strong>de</strong> esperar, sobretudo <strong>em</strong> se<br />

tratando <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. Esta perspetiva do biógrafo é contrariada por Dúris<br />

<strong>de</strong> Samos, que fala <strong>em</strong> um regresso triunfal excessivo. O Queroneu atribui<br />

esta posição <strong>de</strong> exagero ao facto <strong>de</strong> Dúris se consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte do<br />

Alcmeónida 431 . <strong>Plutarco</strong> justica a sua posição com um argumento pertinente:<br />

apesar da aparente reconciliação, Alcibía<strong>de</strong>s já não era ingénuo a ponto <strong>de</strong><br />

acreditar que o povo estaria s<strong>em</strong>pre ao seu lado. Por isso, ter-lhe-á parecido<br />

mais pru<strong>de</strong>nte não <strong>de</strong>saá-lo n<strong>em</strong> suscitar inveja pela glória alcançada com um<br />

retorno exibicionista. O receio que acompanhava o Alcmeónida no regresso só<br />

se dissipa quando avista <strong>em</strong> terra parentes e amigos que festejam e o incitam a<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcar 432 . O gáudio <strong>dos</strong> seus familiares e amigos era extensível à multidão,<br />

que já se esquecera <strong>dos</strong> <strong>de</strong>sentendimentos anteriores e corria na sua direção<br />

com ores e gritos <strong>de</strong> alegria. Até os mais velhos, que antes se mostravam<br />

receosos <strong>em</strong> relação a ele, faz<strong>em</strong> questão <strong>de</strong> apontá-lo aos mais novos. Com a<br />

sua curta m<strong>em</strong>ória, os Atenienses receb<strong>em</strong>-no como se fosse o único estratego<br />

responsável pelo sucesso alcançado, armando que lhes restituíra o império<br />

marítimo quase perdido 433 (Alc. 32. 4).<br />

A postura que <strong>Plutarco</strong> assume diante <strong>de</strong>ste «novo» Alcibía<strong>de</strong>s é muito<br />

próxima <strong>de</strong>ste sentimento do povo. De facto, no <strong>caso</strong> <strong>de</strong>sta vida, o biógrafo<br />

faz um aproveitamento muito especial das fontes 434 , com o intuito <strong>de</strong><br />

reforçar a importância do contributo do Alcmeónida para o vigor que, qual<br />

moribundo, Atenas alcançou antes do <strong>de</strong>sastre nal. Isso acontece, a título <strong>de</strong><br />

ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> relação ao confronto com a Calcedónia (30. 1-2) 435 : enquanto<br />

o Queroneu atribui a ação apenas a Alcibía<strong>de</strong>s, Diodoro Sículo (13. 66. 1)<br />

menciona a intervenção igualmente importante <strong>de</strong> outros dois generais<br />

431 Embora o cite algumas vezes, nomeadamente <strong>em</strong> Per. 28. 2-3 e <strong>em</strong> Alc. 32. 2, o biógrafo<br />

costuma discordar <strong>dos</strong> seus test<strong>em</strong>unhos, acusando-o <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> isenção e <strong>de</strong> diferir<strong>em</strong> <strong>de</strong> outros<br />

mais credíveis como os <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> Éforo (<strong>em</strong> relação a Péricles) e os <strong>de</strong> Teopompo, Éforo<br />

e Xenofonte (<strong>em</strong> relação a Alcibía<strong>de</strong>s). Segundo Dúris <strong>de</strong> Samos (FGrHist 76 F 6), o navio<br />

<strong>em</strong> que o Alcmeónida seguia (acompanhado <strong>de</strong> um famoso tocador <strong>de</strong> e <strong>de</strong> um ator <strong>de</strong><br />

tragédia) trazia hasteada uma ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> cor púrpura. <strong>Plutarco</strong> acrescenta que o músico e o<br />

ator se comportavam como lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> um <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong>briaga<strong>dos</strong>, o que Flacelière (1969:<br />

248 ) atribui à inuência <strong>de</strong> Pl. Symp. 212c-d, texto no qual Platão menciona a participação <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s, <strong>em</strong>briagado, <strong>em</strong> um . Ateneu (535c-d) faz um relato muito próximo do <strong>de</strong><br />

Dúris, que lhe serviu <strong>de</strong> fonte.<br />

432 Cf. X. HG 1. 4. 18-19.<br />

433 Cf. Nep. Alc. 6. 1; X. HG 1. 4. 13; D. S. 13. 69. 1. Sobre a chegada <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, consulte-se<br />

Salcedo Parrondo (2001: 223-250).<br />

434 De acordo com Alc. 32. 2, po<strong>de</strong>mos inferir que as principais fontes para esta fase da<br />

biograa são Éforo, Teopompo e Xenofonte.<br />

435 Vi<strong>de</strong> Ver<strong>de</strong>g<strong>em</strong> (2005: 170-171).<br />

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