O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
comportamentos inespera<strong>dos</strong>, mas, tendo <strong>em</strong> conta todo o seu historial <strong>de</strong><br />
indivíduo zeloso pela sua segurança 424 , seria <strong>de</strong> prever que não arriscasse<br />
<strong>de</strong>masiado. No entanto, o Alcmeónida mostra-se, mais uma vez, um <strong>ateniense</strong><br />
legítimo: quanto maior o <strong>de</strong>sao, quanto maior o perigo a enfrentar, maior a<br />
intrepi<strong>de</strong>z com que age 425 . É que um <strong>dos</strong> conjura<strong>dos</strong> revela intenções <strong>de</strong> trair<br />
o plano estabelecido com Alcibía<strong>de</strong>s, pelo que os <strong>de</strong>mais se ve<strong>em</strong> força<strong>dos</strong> a<br />
antecipar a execução do estratag<strong>em</strong>a. O Alcmeónida é apanhado <strong>de</strong> surpresa<br />
e ca <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> perigo; mas o seu orgulho e o seu estado <strong>de</strong><br />
invencibilida<strong>de</strong> até àquele momento impe<strong>de</strong>m-no <strong>de</strong> fugir. A sua postura e<br />
o seu grito <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m – <br />
426 – inamam o ardor <strong>dos</strong> seus solda<strong>dos</strong> e <strong>de</strong>spertam nos habitantes<br />
daquela cida<strong>de</strong> esperança <strong>de</strong> um entendimento (Alc. 30. 8).<br />
Os Atenienses celebram a paz com Farnábazo, <strong>em</strong> representação da<br />
Calcedónia, e exig<strong>em</strong> que esta permaneça submissa a Atenas e pague uma<br />
in<strong>de</strong>mnização; que Farnábazo garanta segurança à <strong>em</strong>baixada que os<br />
Atenienses preten<strong>de</strong>m enviar ao Rei e, promet<strong>em</strong>, <strong>em</strong> troca, poupar a região<br />
dominada pelo sátrapa (Alc. 31. 1). No contexto da celebração do acordo <strong>de</strong><br />
paz, Alcibía<strong>de</strong>s revela, mais uma vez, uma certa s<strong>em</strong>elhança com Péricles, que<br />
t<strong>em</strong> o hábito <strong>de</strong> se negar a ce<strong>de</strong>r, ou se preferirmos, a mostrar-se complacente<br />
diante do inimigo. Como já vimos, o lho <strong>de</strong> Xantipo consi<strong>de</strong>rava que um<br />
gesto <strong>de</strong> simpatia/cortesia podia ser entendido pelo adversário como um sinal<br />
<strong>de</strong> fraqueza 427 . Do mesmo modo, Alcibía<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>saado por Farnábazo a jurar o<br />
tratado <strong>de</strong> paz (que havia sido acordado pelos concidadãos, mas que <strong>de</strong>via ser<br />
raticado por ele 428 ), recusa-se, <strong>em</strong> um gesto <strong>de</strong> cortesia irónica, a fazê-lo s<strong>em</strong><br />
que o seu interlocutor o faça primeiro.<br />
Ultrapassa<strong>dos</strong> os probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> Selímbria, Alcibía<strong>de</strong>s ainda marcha<br />
contra a <strong>de</strong>sertora Bizâncio, que acaba por se ren<strong>de</strong>r 429 . Mas, igual a si mesmo,<br />
já não conseguia adiar o reencontro com a pátria n<strong>em</strong> a exibição da sua glória.<br />
O momento da sua chegada a Atenas reveste-se <strong>de</strong> particular importância,<br />
na medida <strong>em</strong> que revela um novo Alcibía<strong>de</strong>s e o caráter da população. O<br />
Alcmeónida que então se apresenta aos olhos <strong>dos</strong> Atenienses, apesar <strong>de</strong><br />
orgulhoso <strong>dos</strong> seus feitos e consciente do reconhecimento que lhe era <strong>de</strong>vido,<br />
participa, segundo <strong>Plutarco</strong>, <strong>em</strong> um cortejo digno <strong>de</strong> um general 430 que obteve<br />
424 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 235.<br />
425 Este comportamento é comparável ao gesto que teve para com Sócrates na batalha <strong>de</strong><br />
Délio (Alc. 7. 6), salvando-o, quando todo o exército <strong>ateniense</strong> <strong>de</strong>bandava diante do inimigo.<br />
Supra pp. 195-196.<br />
426 Que os Selímbrios não pegu<strong>em</strong> <strong>em</strong> armas contra os Atenienses!<br />
427 Cf. supra pp. 278-279.<br />
428 Alcibía<strong>de</strong>s não participou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início na reunião da qual saiu o tratado <strong>de</strong> paz, porque<br />
estava ocupado com a conquista <strong>de</strong> Selímbria – X. HG 1. 3. 10<br />
429 Sobre a rendição <strong>de</strong> Bizâncio, supra pp. 218, nota 38 e 269, nota 265.<br />
430 O cortejo é <strong>de</strong>scrito <strong>de</strong> forma muito próxima <strong>em</strong> D. S. 13. 68. 2.<br />
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