17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

pró-Atenas, que ocorre durante a batalha naval <strong>de</strong> Abido 402 , esteve muito<br />

próxima <strong>de</strong> surtir o efeito contrário, naquilo que po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar um<br />

ex<strong>em</strong>plo vivo da fábula <strong>em</strong> que o pastor, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas vezes anunciar a<br />

falsa presença do lobo, acaba por não ser ajudado quando realmente é atacado.<br />

Alcibía<strong>de</strong>s esteve tanto t<strong>em</strong>po ao lado <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios e contra Atenas que,<br />

quando se dirige ao Helesponto 403 para ajudar os concidadãos que perseguiam<br />

o inimigo, o primeiro impulso <strong>de</strong> ambas as partes é achar que o Alcmeónida<br />

vinha <strong>em</strong> socorro <strong>de</strong> Esparta 404 . Consequent<strong>em</strong>ente, os Lace<strong>de</strong>mónios<br />

recobram o ânimo e os Atenienses cam inquietos, até ao momento <strong>em</strong> que se<br />

aperceb<strong>em</strong> da sua real intenção. Então, Alcibía<strong>de</strong>s obriga a frota lace<strong>de</strong>mónia<br />

a dirigir-se para a costa, o que permite que muitos homens se salv<strong>em</strong> a nado<br />

e que Farnábazo 405 lhes preste auxílio por terra. No entanto, os Atenienses<br />

acabam por sair vitoriosos 406 <strong>de</strong> uma batalha a que <strong>Plutarco</strong> se refere como<br />

brilhante sucesso ( – Alc. 27. 6).<br />

Tal facto dá azo a que Alcibía<strong>de</strong>s perca, por momentos, a luci<strong>de</strong>z por<br />

que vinha pautando a sua ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que fora nomeado estratego pelos<br />

Sâmios: <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ir vangloriar-se junto <strong>de</strong> Tissafernes, levando consigo um<br />

cortejo digno <strong>de</strong> um general e diferentes presentes <strong>de</strong> hospitalida<strong>de</strong>. Este<br />

retrocesso t<strong>em</strong> uma dupla consequência: por um lado, <strong>de</strong>monstra, mais uma<br />

vez, que Alcibía<strong>de</strong>s age <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com as circunstâncias s<strong>em</strong> que o seu<br />

402 Cf. X. HG 1. 1. 6; D. S. 13. 46. 3. Note-se que as fontes <strong>em</strong> causa atribu<strong>em</strong> o sucesso <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s à superiorida<strong>de</strong> numérica <strong>dos</strong> Atenienses, informação que <strong>Plutarco</strong> omite para dar<br />

ênfase à corag<strong>em</strong> e à capacida<strong>de</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dora do Alcmeónida enquanto general. Abido era<br />

o melhor porto da costa asiática do Helesponto. Depois da vitória <strong>de</strong> Atenas sobre os Persas,<br />

passou a fazer parte do império <strong>ateniense</strong> até 411 a.C., ano <strong>em</strong> que se revoltou (uc. 8. 61-62).<br />

Para mais informações, consulte-se Hammond - Scullard (1992: s. v.).<br />

403 Esta batalha naval ocorre <strong>em</strong> 410 a.C. Enquanto <strong>Plutarco</strong> arma que Alcibía<strong>de</strong>s se dirige<br />

consciente e propositadamente ao Helesponto para ajudar os concidadãos (Alc. 27. 2), outras<br />

fontes (X. HG 1. 1. 5) armam que não foi intencional.<br />

404 Esta batalha é <strong>de</strong>scrita por D. S. 13. 45. 6- 46. 3. Quanto ao número <strong>de</strong> trirr<strong>em</strong>es que<br />

Alcibía<strong>de</strong>s trouxe consigo, cf. X. HG 1. 1. 5.<br />

405 Este lho <strong>de</strong> Farnaces foi, por herança, sátrapa da Frígia. Tal como Tissafernes, procurou<br />

cumprir as instruções que tinha para recuperar o controlo das cida<strong>de</strong>s gregas da Ásia. Para isso,<br />

aliou-se a Esparta e interveio <strong>em</strong> Abi<strong>dos</strong>, Cízico e Calcedónia. Foi o responsável pela morte <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s a pedido <strong>de</strong> Lisandro. Como pagamento pela sua colaboração, viu o seu território<br />

invadido pelos Lace<strong>de</strong>mónios pouco <strong>de</strong>pois. Sobre este persa, vi<strong>de</strong> Hammond - Scullard (1992:<br />

s. v.) e bibliograa aí mencionada. X. HG 1. 1. 6 e D. S. 13. 46. 4-5 terão servido <strong>de</strong> fontes a<br />

<strong>Plutarco</strong> para o relato da perseguição que Alcibía<strong>de</strong>s moveu contra o inimigo e do auxílio que<br />

Farnábazo lhe prestou.<br />

406 É provável que a experiência adquirida com este recontro tenha estado na base do maior<br />

cuidado que colocou na batalha <strong>de</strong> Cízico, durante a qual tudo fez para minimizar a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fuga e os efeitos do previsível auxílio que os Lace<strong>de</strong>mónios receberiam por terra (cf. página<br />

seguinte). Esta preocupação vai ao encontro da perspetiva <strong>de</strong> Péricles, que <strong>de</strong>fendia que Atenas<br />

<strong>de</strong>veria basear as suas investidas contra Esparta <strong>em</strong> ataques marítimos: é que a superiorida<strong>de</strong><br />

<strong>ateniense</strong> era maior nesse campo, ao passo que os Lace<strong>de</strong>mónios se distinguiam nos combates<br />

terrestres.<br />

292

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!